Já se passaram muitos anos desde que Super Mario Galaxy e Super Mario Galaxy 2 nos levaram pela primeira vez numa viagem cósmica através do universo. Na altura, o salto da Nintendo para um Mario tridimensional que desafiava as leis da gravidade parecia quase impossível, mas o resultado foi um marco na história dos videojogos. Agora, com o regresso destes dois clássicos à Nintendo Switch e à Switch 2, o desafio é outro: será que continuam a brilhar tanto como antes?
A resposta, felizmente, é um retumbante sim. Mesmo com os avanços de títulos como Super Mario Odyssey ou Crash Bandicoot 4, as aventuras galácticas do canalizador continuam a representar o auge da criatividade da Nintendo. Super Mario Galaxy + Super Mario Galaxy 2 são mais do que simples remasterizações: são provas vivas de como o design de níveis, a música e a sensação de descoberta podem unir-se num espetáculo que ainda hoje é difícil de igualar.
Os dois jogos chegam com melhorias visuais, pequenos ajustes de jogabilidade e alguns extras, mas o essencial permanece intocado. Trata-se de experiências que desafiam as convenções dos jogos de plataformas, colocando o jogador em mundos minúsculos e esféricos onde a gravidade muda a cada salto e onde a imaginação parece não conhecer limites.
Jogabilidade
No essencial, Super Mario Galaxy e a sua sequela continuam a ser as mesmas obras-primas de design que encantaram na Wii. A grande diferença é que agora se jogam em resoluções até 4K na Switch 2 (e 1080p na Switch original), mantendo um desempenho impecável a 60 fotogramas por segundo. Essa fluidez ajuda a reforçar o prazer que é controlar Mario, cujo movimento continua tão natural e responsivo como sempre.
A jogabilidade continua a basear-se em explorar pequenas galáxias, cada uma com regras próprias de gravidade e desafios únicos. A Nintendo brinca constantemente com a perspetiva e com as expectativas do jogador: um salto que parece levar à morte pode, na verdade, colocá-lo de cabeça para baixo num outro planeta. É um sistema que, apesar da sua complexidade aparente, funciona de forma surpreendentemente intuitiva.
Entre as novidades, destaca-se o regresso do modo cooperativo Co-Star, que permite a um segundo jogador usar um Joy-Con (ou até o rato na Switch 2) para recolher fragmentos de estrelas e ajudar a derrotar inimigos. É um pequeno detalhe, mas oferece uma forma divertida de partilhar a experiência. O novo Assist Mode também torna o jogo mais acessível, duplicando a vida e permitindo que Mario recupere energia ao ficar parado.
Contudo, nem tudo é perfeito. O controlo por giroscópio substitui o antigo sensor da Wii e, embora funcione, nunca atinge a precisão do original. É frequente ser necessário recentrar o cursor com o botão R, o que quebra um pouco o ritmo. No modo portátil, o ecrã tátil ajuda, mas agitar a consola para recolher fragmentos de estrelas pode parecer estranho em locais públicos.
Apesar disso, o controlo de Mario é exemplar. A fluidez dos movimentos, a resposta dos saltos e a diversidade das transformações (como o Bee Mario, o Boo Mario ou o Cloud Mario) continuam a tornar cada nível uma pequena surpresa. Super Mario Galaxy 2, em particular, refina tudo o que o primeiro introduziu, com um design mais variado e desafios mais exigentes.

Mundo e história
As histórias de Super Mario Galaxy e Galaxy 2 mantêm-se simples, mas eficazes. Bowser volta a raptar Peach — desta vez levando consigo o castelo inteiro — e Mario é lançado pelo espaço numa aventura para a resgatar. Pelo caminho, encontra Rosalina e os Lumas, pequenas estrelas com personalidades cativantes que habitam o observatório que serve de base à exploração do universo.
Rosalina é uma das grandes adições do primeiro jogo, e o seu livro de histórias, narrado com uma melancolia pouco habitual num título Mario, continua a ser uma das partes mais memoráveis da experiência. Nesta nova versão, o livro ganha um capítulo inédito, e Galaxy 2 recebe um novo conjunto de histórias com música original, uma adição discreta mas bem-vinda.
Em Galaxy 2, a estrutura muda ligeiramente. A base é agora a Starship Mario, uma pequena nave em forma da cabeça do protagonista, e a nova personagem Lubba substitui Rosalina como guia. Embora a narrativa seja leve, o foco está na descoberta constante. Cada galáxia é uma surpresa, um pequeno mundo com regras e temas próprios: desde a nostálgica Throwback Galaxy, que recria um nível de Mario 64, à encantadora Toy Time Galaxy, com o seu cenário mecânico e colorido, ou ainda às épicas batalhas contra Bowser em planetas em erupção.
Mais do que a história, é o universo em si que cativa. O conceito de gravidade variável permite à Nintendo criar puzzles e momentos que seriam impossíveis em qualquer outro jogo. Há um prazer quase infantil em ver Mario caminhar de cabeça para baixo num pequeno planeta, ou em perceber como cada galáxia tem o seu ritmo e identidade.
Grafismo
Os dois jogos sempre foram visualmente deslumbrantes, mas nesta nova versão o brilho é ainda maior. A possibilidade de jogar até 4K na Switch 2 realça as cores vibrantes e a iluminação celestial que sempre definiram o estilo de Galaxy. As texturas foram discretamente atualizadas, especialmente nos cenários e superfícies planetárias, tornando tudo mais nítido e detalhado.
Não se trata de uma transformação ao nível de Metroid Prime Remastered, mas é suficiente para dar uma nova frescura ao conjunto. O interface foi refinado, com ícones mais pequenos e uma tipografia mais limpa, e no geral nota-se um maior cuidado na apresentação. A Nintendo, desta vez, tratou ambos os jogos com o respeito que merecem.
Na Switch original, a resolução de 1080p continua sólida, e o desempenho a 60fps garante uma experiência suave. Curiosamente, o ecrã OLED até oferece cores ligeiramente mais saturadas, o que faz com que as galáxias brilhem ainda mais. Mesmo com pequenas arestas menos polidas, o conjunto visual é impressionante e continua a transmitir aquela sensação de maravilha que marcou o lançamento original.
O único aspeto que denuncia a idade dos jogos são algumas mudanças súbitas na câmara, que podem desorientar temporariamente o jogador. No entanto, é notável que, mesmo com toda a loucura gravitacional e os níveis repletos de movimento, a câmara se mantenha estável na esmagadora maioria do tempo.

Som
Se há algo que nunca envelhece em Super Mario Galaxy, é a sua banda sonora. Ambas as bandas sonoras, gravadas com orquestra completa, são das mais memoráveis alguma vez criadas para um videojogo. O tema principal do primeiro Galaxy continua a soar majestoso, enquanto as faixas de Galaxy 2 trazem uma energia e leveza que complementam perfeitamente o ritmo do jogo.
Cada galáxia tem a sua própria identidade sonora: a Space Junk Galaxy é acompanhada por uma melodia suave e contemplativa; a Gusty Garden Galaxy eleva o espírito com uma composição que se tornou icónica; e as batalhas contra Bowser misturam instrumentos de sopro e percussão num crescendo épico que transmite urgência e grandiosidade.
Mesmo os pequenos efeitos sonoros — o som de recolher fragmentos de estrelas, o eco dos saltos no espaço, o tilintar das moedas — mantêm a mesma clareza e charme. A remasterização preserva tudo isto com fidelidade e, com bons auscultadores, é fácil perder-se completamente no ambiente sonoro.
Os novos capítulos dos livros de histórias também vêm acompanhados por composições inéditas, mais melancólicas e intimistas, reforçando o tom poético que sempre distinguiu a presença de Rosalina. É mais uma prova de que o trabalho sonoro continua a ser uma das grandes forças desta duologia.
Conclusão
Super Mario Galaxy e Super Mario Galaxy 2 continuam a ser, sem exageros, dois dos melhores jogos de plataformas de todos os tempos. São experiências que desafiam as convenções, reinventam as regras do espaço tridimensional e demonstram como a Nintendo, no auge da sua criatividade, é capaz de fazer magia pura.
O retorno destes clássicos à Switch e à Switch 2 é mais do que um exercício de nostalgia: é uma oportunidade para recordar o que torna Mario tão especial. Mesmo com controlos por giroscópio menos precisos do que o apontador da Wii e com algumas câmaras ocasionalmente caprichosas, o encanto permanece intocado.
Os visuais estão mais nítidos, as pequenas adições — como o Assist Mode e os novos capítulos — enriquecem a experiência, e a performance sólida garante que tudo decorre com a mesma fluidez que há quinze anos. O preço elevado pode fazer alguns hesitar, especialmente quem já possui as versões originais, mas a qualidade e longevidade justificam o investimento.
No final, esta dupla de aventuras cósmicas é uma celebração da imaginação. São jogos que lembram o porquê de Mario ser sinónimo de diversão, criatividade e perfeição técnica. Jogá-los novamente, agora com a clareza do 4K e o conforto moderno da Switch, é redescobrir o prazer de saltar entre planetas e sentir que o universo inteiro é um enorme parque de diversões.
Super Mario Galaxy + Super Mario Galaxy 2 não são apenas relíquias polidas; são testemunhos intemporais da genialidade da Nintendo. Mesmo depois de décadas, continuam a brilhar como supernovas no firmamento dos videojogos.