Análise: The Lonesome Guild

The Lonesome Guild é o mais recente projeto da Tiny Bull Studios, criadores de Omen Exitio: Plague, um título que conquistou uma base de fãs dedicada apesar do seu alcance limitado. Desta vez, o estúdio italiano aposta numa abordagem diferente, trocando a investigação sombria do seu anterior trabalho por uma aventura de grupo, onde a amizade é a principal arma contra uma ameaça existencial. Lançado para PC e consolas, The Lonesome Guild surge num ano particularmente competitivo para os jogos independentes, onde títulos como Blue Prince, The Alters e Clair Obscur: Expedition 33 elevaram a fasquia em termos de narrativa e originalidade.

Desde o primeiro trailer, The Lonesome Guild prometia algo especial: uma história emocional, combate visto de cima com elementos de RPG e um sistema de relações entre personagens. Em teoria, tudo apontava para uma experiência envolvente e equilibrada entre ação e introspeção. No entanto, após cerca de doze horas de jogo, o resultado final deixa sensações mistas. Apesar de apresentar boas ideias, o título da Tiny Bull Studios acaba por tropeçar nas suas próprias ambições, oferecendo uma jornada simpática, mas sem o impacto ou profundidade que o conceito sugeria.

Jogabilidade

The Lonesome Guild adota uma perspetiva de combate vista de cima, com um sistema simples que privilegia o movimento e o posicionamento. O jogador controla uma equipa de heróis que enfrentam inimigos em pequenas arenas, evitando ataques e respondendo com magias e golpes básicos. Há uma barra de energia especial, o chamado Ultimate, que, quando preenchida, permite lançar um ataque devastador envolvendo todos os membros do grupo.

Apesar da base ser sólida e acessível, a jogabilidade peca pela falta de complexidade. Não há grandes diferenças entre as personagens, nem incentivos para experimentar composições alternativas de equipa. Todas partilham habilidades semelhantes, e o Ultimate é sempre o mesmo, independentemente dos membros presentes, o que retira personalidade e estratégia ao combate. A dificuldade também é reduzida — mesmo em modo normal, é possível terminar o jogo sem grandes desafios, e a opção de modo difícil serve apenas para quem procura um pouco mais de resistência dos inimigos.

O sistema de progressão, assente numa árvore de habilidades, permite desbloquear novos feitiços e melhorias, mas as escolhas têm pouco peso real. É um combate que funciona, mas que nunca evolui nem surpreende, tornando-se rapidamente repetitivo. Para quem procura uma experiência relaxante e descomplicada, The Lonesome Guild cumpre o papel. Mas para quem espera um RPG mais envolvente e exigente, a simplicidade acaba por se transformar num obstáculo à diversão prolongada.

Mundo e história

A narrativa de The Lonesome Guild parte de uma ideia interessante: um grupo de amigos une-se para travar a propagação de uma névoa vermelha conhecida como Loneliness, uma força maligna que simboliza a solidão e corrompe os seres humanos, transformando-os em criaturas perigosas. É um conceito com potencial — usar uma emoção humana como vilão é uma metáfora forte e criativa. Contudo, a execução falha em quase todos os aspetos que poderiam torná-la memorável.

O jogo tenta equilibrar uma história emocional com mensagens sobre amizade e união, mas acaba por cair em clichés excessivos. As conversas giram constantemente em torno da importância de estarmos juntos e de acreditarmos nos amigos, de forma tão insistente que perdem impacto logo nas primeiras horas. As sequências narrativas decorrem maioritariamente em torno de uma fogueira, onde os membros do grupo dialogam sem qualquer voz ou dinamismo, com textos que se tornam cada vez mais vazios e previsíveis.

Mesmo com uma boa premissa, a história nunca atinge o tom sombrio ou emocional que promete. Falta peso às decisões, falta conflito interno e falta humanidade aos protagonistas. Tudo é tratado com uma superficialidade quase infantil, o que impede o jogador de criar empatia real com a jornada do grupo. Quando o enredo atinge o clímax, a sensação é de que nada mudou e que a viagem serviu apenas como pretexto para preencher as doze horas de jogo.

Grafismo

Visualmente, The Lonesome Guild aposta numa estética suave e acolhedora, próxima dos chamados cozy games. O estilo artístico combina ambientes simples com personagens coloridas e expressivas, transmitindo uma sensação de leveza. As animações são competentes, embora algo rígidas em combate, e o design dos cenários, embora bonito à primeira vista, torna-se repetitivo.

Os ambientes exteriores destacam-se mais do que as cidades ou as zonas povoadas, que sofrem com problemas técnicos como stuttering e quedas de desempenho. Apesar de o jogo não ser graficamente exigente, há momentos em que a fluidez desaparece sem razão aparente, quebrando o ritmo da experiência. Ainda assim, há de se reconhecer o cuidado estético da Tiny Bull Studios, que procurou criar um mundo visualmente coeso e agradável, mesmo que limitado.

A direção artística é coerente com a proposta do jogo — aconchegante, calma e acessível —, mas padece da mesma falta de ambição que o resto da produção. É bonito, mas nunca marcante.

Som

A componente sonora segue a mesma linha do grafismo: simples, funcional, mas sem brilho. A banda sonora é composta por melodias suaves que acompanham bem o tom relaxado da aventura, mas carece de variação. Após algumas horas, as faixas começam a repetir-se, e a ausência de temas mais emocionais ou intensos durante os momentos-chave torna a experiência previsível.

A ausência de dobragem é um dos elementos que mais prejudica a imersão. As longas conversas em volta da fogueira, que poderiam ser momentos de conexão emocional, acabam por soar vazias. Uma boa interpretação vocal poderia ter dado vida aos personagens e tornado as suas interações mais significativas. Em vez disso, a leitura constante de texto e o som ambiente genérico resultam numa atmosfera morna.

Os efeitos sonoros, por outro lado, cumprem o básico. Os feitiços, ataques e passos têm peso suficiente para que o combate soe natural, ainda que pouco empolgante.

Conclusão

The Lonesome Guild é um jogo que vive entre o conforto e a frustração. É uma experiência simpática e acessível, ideal para quem procura algo leve e sem grandes desafios, mas que deixa transparecer um enorme desperdício de potencial. O conceito de uma aventura sobre a solidão e o poder da amizade é forte, mas a narrativa infantil e previsível anula qualquer impacto emocional que pudesse ter.

O combate é funcional, mas demasiado básico; o sistema de relações, embora interessante em teoria, é reduzido a interações automáticas e sem peso real; e a progressão carece de significado. Tudo em The Lonesome Guild parece desenhado para ser agradável, mas não memorável.

É um título que dificilmente será recordado entre os grandes indies do ano, mas que pode encontrar o seu público entre jogadores que valorizam experiências tranquilas e fáceis de compreender. Por 25 euros, oferece uma jornada de doze horas visualmente acolhedora e mecanicamente simples. No entanto, quem procura profundidade, emoção ou inovação, encontrará aqui apenas um jogo que tenta transmitir uma mensagem bonita, mas que o faz de forma demasiado superficial.

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