Há títulos que não deixam margem para dúvidas, e There’s a Gun in the Office é um desses casos. Desenvolvido pela Ragir e publicado pela Take IT Studio!, o jogo apresenta-se como um “simulador de stress” com elementos de terror psicológico, mas sem recorrer aos clichés habituais do género. Aqui não há monstros nem sangue, apenas tensão crescente e uma constante sensação de vulnerabilidade. A premissa é simples: foste raptado, estás preso num apartamento de um arranha-céus e a tua única hipótese de fuga está numa arma escondida no escritório. O desafio é chegar até ela, um passo de cada vez, sem que o teu raptor descubra que tens andado a explorar a casa.
Jogabilidade
There’s a Gun in the Office é um jogo de lógica e paciência disfarçado de terror. Cada dia começa da mesma forma: o raptor sai e tens um curto período para agir. Exploras o apartamento, abres portas, procuras chaves e objetos que te permitam chegar mais perto do teu objetivo final — o escritório onde está a arma. Mas cada movimento tem consequências. Se deixares algo fora do lugar, uma porta destrancada ou um armário aberto, o teu raptor vai perceber e o dia recomeça do zero.
A jogabilidade baseia-se num ciclo de tentativa e erro e numa espécie de jogo de memória. É essencial recordar a posição exata de cada item, trancar e destrancar portas na ordem certa e, acima de tudo, manter a calma. A tensão vem menos do perigo direto e mais do medo de falhar. A cada novo dia, o jogo acrescenta pequenas camadas de complexidade: novas chaves, novos compartimentos e novos detalhes para memorizar. O progresso é lento, mas deliberado, e o ritmo controlado reforça a sensação de clausura.

Mundo e história
A narrativa é minimalista, mas eficaz. Sabemos apenas o essencial: foste raptado e o teu sequestrador mantém-te preso num apartamento luxuoso que rapidamente se transforma numa prisão psicológica. O jogo nunca revela quem é o raptor, nem porque foste escolhido, o que contribui para o mistério e o desconforto geral.
A estrutura do jogo divide-se em cinco dias, e cada um representa um pequeno avanço rumo à liberdade. No primeiro dia, apenas encontras a chave do teu quarto. Nos seguintes, descobres novas áreas como a cozinha ou o escritório. A história desenrola-se através das tuas ações e da tua crescente compreensão do espaço. Não há diálogos, cutscenes ou textos explicativos; o enredo é contado através da rotina e da tensão acumulada. Este silêncio intencional reforça a imersão, fazendo o jogador sentir-se verdadeiramente preso e observado.
Grafismo
Visualmente, There’s a Gun in the Office aposta na simplicidade. O apartamento é detalhado o suficiente para parecer realista, mas mantém uma estética fria e despida, quase clínica. As cores são neutras, os espaços são limpos, e essa normalidade é o que torna o ambiente perturbador. Nada parece fora do lugar, mas tudo transmite desconforto.
A iluminação desempenha um papel importante. As sombras e o contraste subtil entre zonas iluminadas e escuras criam uma sensação de insegurança constante. Não há sustos repentinos nem efeitos visuais agressivos; a atmosfera é construída através da monotonia e da repetição. É um ambiente que parece sempre à beira de colapsar, mas nunca o faz.

Som
O som é o verdadeiro motor da tensão. Não há música contínua, apenas ruídos ambientais — passos, o vento a bater nas janelas, o som distante do elevador. O silêncio é quase absoluto, e isso amplifica cada pequeno som que ouves. Quando o raptor regressa, o som da porta a abrir é suficiente para provocar uma descarga de adrenalina.
É através deste design sonoro minimalista que o jogo consegue criar medo sem recorrer a truques baratos. Cada clique de fechadura e cada ranger de piso de madeira é uma lembrança de que estás num espaço controlado por outra pessoa.
Conclusão
There’s a Gun in the Office é uma experiência curiosa e distinta no panorama dos jogos de terror. Em vez de sustos ou ação, aposta numa tensão psicológica sustentada por mecânicas simples mas eficazes. É curto — termina-se em pouco mais de uma hora — e oferece vários finais, mas dificilmente motiva múltiplas jogadas.
O conceito é forte e original, mas o jogo pode parecer demasiado estruturado e previsível para quem procura um desafio mais intenso. Para jogadores que se sentem facilmente ansiosos, é provável que funcione muito bem como simulador de stress. Para outros, poderá parecer apenas um pequeno exercício de memória com um limite de tempo.
No final, There’s a Gun in the Office é uma ideia intrigante que brilha pela atmosfera e pela simplicidade, mas que acaba por não ter fôlego suficiente para deixar uma marca duradoura. É um jogo que cumpre o que promete — há uma arma, há um escritório — mas o verdadeiro tiro está na tensão que se instala no silêncio entre as paredes do apartamento.