This Is No Cave é um jogo curioso. O título deixa logo a pista: não estamos perante uma simples caverna, mas sim um parque de diversões subterrâneo onde a gravidade parece ter sido renegociada. Desenvolvido pela Monome Studio, o jogo apresenta-se como um runner desafiante em que o objetivo não é apenas chegar ao fim, mas fazê-lo com estilo, precisão e, sobretudo, rapidez. Aqui, cada salto e cada impulso contam, e a busca pela perfeição é tanto uma questão de habilidade como de paciência.
Este é um daqueles títulos que, à primeira vista, parecem simples, mas que rapidamente revelam camadas de complexidade à medida que o jogador se afunda nos seus túneis escuros e traiçoeiros. É um jogo de ritmo, de reflexos e de memorização, mas também um teste à capacidade de adaptação. E, tal como em muitos jogos deste género, o prazer vem tanto da frustração como da superação.
Jogabilidade
A jogabilidade de This Is No Cave baseia-se numa fórmula aparentemente simples: correr, saltar e balançar. Mas é na execução que reside o desafio. O protagonista move-se sozinho, e o jogador deve guiar-lhe os saltos através do rato ou de um cursor sempre presente no ecrã. É um sistema invulgar, mas eficaz, que mistura precisão e timing num equilíbrio difícil de dominar.
Para além dos saltos, há um jetpack que permite alcançar zonas mais altas ou mergulhar nas profundezas da caverna. No entanto, o combustível é limitado e exige uma gestão cuidadosa. O abuso do impulso aéreo resulta em colisões inevitáveis com as paredes ou inimigos. Mais tarde, o jogo introduz uma mecânica de corda extensível que permite balançar em pontos específicos, lembrando jogos como Grapple Dog. É um sistema que, quando dominado, adiciona fluidez e velocidade à jogabilidade, permitindo percursos impressionantes que desafiam as leis da física.
Mas é também um jogo de repetição e tentativa-erro. Tal como em Super Meat Boy, as falhas são constantes, mas rápidas de corrigir. Cada morte é uma lição, e o ciclo de tentativa e progresso cria uma sensação de ritmo viciante. À medida que o jogador melhora, o jogo recompensa com movimentos cada vez mais elegantes e tempos mais curtos, essenciais para competir nos quadros de pontuação globais.

Mundo e história
Apesar de o nome sugerir um ambiente subterrâneo limitado, This Is No Cave surpreende pela variedade. As diferentes áreas mantêm o tom sombrio, mas introduzem mudanças subtis na paleta e na arquitetura, quebrando a monotonia visual. Ainda assim, não há aqui uma narrativa tradicional. O jogo não conta uma história explícita — não há personagens secundários, diálogos ou cutscenes — apenas o jogador e a caverna.
A solidão é parte do encanto. Não existe ninguém a dar ordens, nem tutoriais invasivos. O jogo confia plenamente na curiosidade do jogador, incentivando a exploração e o domínio das suas mecânicas. É uma experiência minimalista, mas intencionalmente assim. A ausência de contexto narrativo reforça a sensação de desafio puro, como se o jogador estivesse a enfrentar um ambiente indiferente à sua presença.
Há, no entanto, um certo humor subtil na forma como o jogo se apresenta. O próprio título é quase uma piada interna: esta não é uma caverna qualquer, é um campo de treino para os mais obstinados. E quando o modo cooperativo ou competitivo entra em cena, a dinâmica muda completamente, transformando a solidão inicial num caos partilhado entre até quatro jogadores.
Grafismo
Visualmente, This Is No Cave aposta num estilo minimalista e escuro, com uma predominância de pretos e tons frios que criam uma atmosfera densa. É um design que, embora simples, serve perfeitamente o propósito: concentrar o jogador na ação e não na contemplação. Os contrastes de luz são bem aplicados, destacando as áreas interativas e ajudando na leitura do ambiente, o que é crucial num jogo de precisão.
Os efeitos visuais dos saltos, propulsões e balanços são discretos, mas elegantes. Cada movimento tem uma resposta visual imediata, reforçando a sensação de controlo e fluidez. Não é um jogo que se destaque pela beleza ou detalhe, mas sim pela clareza e funcionalidade. O design serve a jogabilidade, e isso é o que realmente importa neste género.
Quando o ritmo acelera, o ecrã transforma-se num espetáculo de movimento contínuo, quase hipnótico. Essa sensação de fluxo constante é reforçada pelo bom uso da física e da animação, que tornam cada sequência de movimentos satisfatória, mesmo após várias tentativas falhadas.

Som
A componente sonora é um complemento perfeito à estética e ao ritmo do jogo. A trilha sonora é discreta, atmosférica e acompanha o tom misterioso das cavernas. Não há melodias marcantes, mas sim uma sucessão de sons ambientais que reforçam o isolamento e a tensão.
Os efeitos sonoros são precisos e satisfatórios. O som do impulso do jetpack, o eco dos saltos e o impacto das colisões são elementos que ajudam o jogador a calibrar o seu desempenho. Quando o ritmo aumenta e as mortes se sucedem, o som torna-se quase parte do processo de aprendizagem, servindo de feedback constante.
Em fases mais avançadas, onde o jogo exige reflexos extremos, o som passa a ser quase uma extensão do instinto — cada ruído ajuda a antecipar o momento certo para agir. É uma banda sonora que não tenta roubar protagonismo, mas que sustenta a experiência de forma subtil e eficaz.
Conclusão
This Is No Cave é uma pequena surpresa dentro do género dos runners e plataformas de precisão. O seu conceito é simples, mas a execução é refinada, oferecendo uma curva de aprendizagem desafiante e recompensadora. A combinação de saltos, jetpack e corda cria uma jogabilidade fluida e imprevisível, e a busca por tempos perfeitos transforma cada nível num pequeno campo de batalha pessoal.
Não é um jogo para todos. Requer paciência, coordenação e um gosto pelo fracasso momentâneo. Mas para quem aprecia desafios técnicos e competição por milissegundos nos quadros de pontuação, é uma experiência viciante. O modo cooperativo e o modo infinito ampliam o potencial de rejogabilidade, e mesmo sem uma história tradicional, o jogo mantém o jogador investido pelo simples prazer de dominar o seu ritmo.
No final, o título cumpre a promessa implícita: isto não é uma caverna. É um teste de reflexos, um labirinto de gravidade e persistência. E, acima de tudo, é mais uma prova de que, às vezes, a simplicidade bem executada continua a ser o maior triunfo dos videojogos independentes.