Vile: Exhumed é um jogo de terror psicológico que mergulha nos recantos mais obscuros da mente humana e da sociedade moderna. Não é uma experiência fácil de digerir, explorando temas perturbadores como a obsessão, a violência e a desumanização associada à fama e ao consumo de pornografia extrema. O jogo coloca o jogador na pele de alguém que está a investigar o computador de um indivíduo obcecado pela atriz de filmes de terror e pornografia Candy Copse, conhecida pelos seus vídeos chocantes. Através desta investigação, somos confrontados com mensagens, imagens e ficheiros que revelam uma mente profundamente perturbada, levantando questões sobre a forma como as celebridades são tratadas e como a internet pode ser um veículo para a perversidade e o crime.
Jogabilidade
A jogabilidade de Vile: Exhumed é essencialmente baseada na exploração de um computador virtual. O jogador navega por e-mails, mensagens instantâneas, sites e ficheiros diversos, procurando pistas para avançar na história. Há palavras-passe escondidas em mensagens e páginas aparentemente banais, exigindo atenção aos detalhes para desbloquear novos conteúdos. Esta abordagem lembra jogos como Her Story ou Immortality, onde o progresso depende da curiosidade e da dedução do jogador. Apesar de ser simples em termos de mecânicas, a experiência é imersiva e inquietante, fazendo-nos sentir como intrusos num espaço privado, com cada descoberta a deixar-nos mais desconfortáveis.
Mundo e história
A narrativa é o ponto forte do jogo e é contada de forma fragmentada, através de pedaços de informação encontrados no computador. Vamos conhecendo o utilizador “shootthedog”, cuja obsessão por Candy Copse atinge níveis doentios. Os e-mails e conversas expõem fantasias violentas, a produção de conteúdos perturbadores e até comportamentos criminais, como o stalking de outra mulher chamada Eleanor. Ao mesmo tempo, o jogo aborda de forma crítica a forma como a sociedade consome e explora figuras públicas, mostrando que a atriz é tratada de forma tão desumanizante na vida real como nos filmes em que participa. Esta abordagem cria uma narrativa desconfortável mas extremamente relevante, que denuncia a objetificação e a violência simbólica e física contra as mulheres.
Grafismo
Visualmente, Vile: Exhumed aposta num estilo minimalista, recriando o ambiente de um sistema operativo simples e funcional. O ecrã é dominado por janelas de e-mails, chats e programas, dando a sensação de que estamos realmente a utilizar o computador de outra pessoa. Este estilo gráfico ajuda na imersão e reforça o desconforto, já que a normalidade do ambiente contrasta com o conteúdo perturbador que descobrimos. Pequenos detalhes, como ícones, imagens e ficheiros escondidos em locais improváveis, tornam a experiência mais autêntica e recompensam a exploração minuciosa.
Som
O design sonoro é discreto, mas eficaz. Há um ambiente inquietante criado por sons subtis que transmitem a sensação de invasão de privacidade e tensão crescente. O silêncio predominante faz com que cada clique e cada nova descoberta tenham mais peso, reforçando a sensação de que estamos a espreitar algo proibido. Quando surgem ficheiros de áudio ou vídeo, o impacto é ainda maior, pois contrastam com a quietude habitual. Esta escolha sonora inteligente contribui para a atmosfera de desconforto e para o impacto psicológico do jogo.
Conclusão
Vile: Exhumed é uma experiência de terror intensa e perturbadora que não se limita a chocar pela violência, mas que apresenta uma crítica profunda à obsessão com celebridades e à desumanização que a fama pode acarretar. É um jogo que desafia o jogador a questionar a linha ténue entre apreciação e obsessão, mostrando como a internet pode ser palco para os piores instintos humanos. A jogabilidade simples, baseada na exploração de um computador, funciona perfeitamente para contar esta história fragmentada, enquanto o grafismo minimalista e o som subtil reforçam a imersão. Não é um jogo para todos, devido aos seus temas sensíveis, mas para quem o experienciar, é uma obra que deixa marcas e levanta questões importantes sobre a sociedade contemporânea.
