Antevisão: Aztecs: The Last Sun

Aztecs: The Last Sun coloca-nos no papel de Tlatoani, o governante divino de Tenochtitlán, com uma missão de peso: erguer uma cidade monumental sobre as águas do Lago Texcoco, liderar o povo até à glória e resistir à escuridão que ameaça devorar o sol. O jogo combina construção de cidade, gestão de recursos, elementos sobrenaturais e narrativa épica numa campanha que promete desafios e escolhas com impacto real. Há ambição na forma como mistura filosofia de liderança, cultura e mitologia asteca com mecânicas de sobrevivência – mas também há tremores na execução que não são fáceis de ignorar.

Jogabilidade

A jogabilidade tenta equilibrar vários ingredientes: arquitetura, gestão, moralidade e sobrevivência. O jogador constrói mais de 25 tipos distintos de edifícios, cada um com possíveis melhorias, o que oferece variedade no desenvolvimento da cidade. Há também a possibilidade de remodelar a geografia: terraformar o lago, criar canais, recuperar terreno – algo que traz profundidade estratégica além do simples “coloca edifícios, colhe-recursos”.

Elementos sobrenaturais entram pela realização de rituais, sacrifícios humanos e na necessidade de manter um “escudo de sangue” vivo que proteja contra a escuridão nocturna e contra os ataques da Deusa da Lua. Essas mecânicas elevam o jogo do mero “city builder” para um híbrido com sobrevivência e tensão moral. Cada noite é uma prova: sem sacrifícios ou sangue, a proteção falha, e a cidade sofre.

O sistema de pesquisa apresenta-se menos claro. As ramificações entre nós de investigação (research nodes) não são sempre óbvias, o que pode deixar o jogador sem saber para onde ir ou que edifício vai desbloquear determinada progresso. Também, a interface sofre com ícones demasiado pequenos, pouco intuitivos, especialmente nos requisitos para construir ou investigar. Isto torna a curva de aprendizagem mais íngreme do que o necessário, e há situações em que bugs ou mecânicas pouco bem explicadas penalizam quem joga exigindo estratégia e antecipação.

A gestão de confiança entre os habitantes ou facções, e do sangue (recursos sobrenaturais?), acrescenta uma camada de pressão. No início do jogo, há uma sensação de escassez, perdas constantes, dificuldade em manter excedentes – torna-se fácil ficar no vermelho e em situação de crise. Isto obriga o jogador a ponderar cada escolha – e muitas vezes a sacrificar recursos humanos ou crenças para garantir a sobrevivência da cidade.

Mundo e história

O jogo mergulha na mitologia asteca com ambição. A narrativa é conduzida por uma campanha épica onde enfrentamos a Deusa da Lua, recebemos missões, enviamos expedições, estabelecemos rotas de comércio e expandimos poder além de Tenochtitlán. O mundo parece vasto, com diferentes zonas, necessidade de recuperação de terra e envolvimento com cativos, deuses e rituais.

Há conflito interno e externo: de um lado os caprichos divinos (favor dos deuses, ataques noturnos, exigência de sacrifícios), do outro as necessidades práticas da cidade, economia, recursos, sobrevivência. O dilema moral – sacrificar pessoas ou captivos para proteger o povo – está presente e tem impacto real na jogabilidade.

Contudo, a história parece por vezes obscurecida por lacunas de explicação. Muitas mecânicas, como o bug referido do uso de “graça” para obter sangue, não são claramente definidas. A falta de manual ou de tutorial suficientemente guiado faz com que certas decisões pareçam misteriosas ou até arbitrárias até serem apreendidas por tentativa e erro ou por recorrer a comunidades externas (walk-throughs). Isto prejudica a imersão, porque sendo um jogo com premissa fortemente narrativa, esperar que parte da clarificação venha de fora é um ponto fraco.

Grafismo

Visualmente Aztecs: The Last Sun mostra boas ideias. A reconquista de terra, o design de templos monumentais, academias, jardins e os canais trazem diversidade arquitetónica. A ideia de ter diferentes tipos de edifícios com upgrade individual permite variar visualmente a cidade com construções impressionantes. A atmosfera nocturna, com ataques da Lua, deve estar bem tratada para criar tensão visual.

No entanto, há falhas na interface. Os ícones demasiado pequenos, a dificuldade em identificar recursos à primeira vista, prejudicam a experiência. Os menus de pesquisa ou de requisitos de construção não são sempre claros, e visualmente pode haver confusão quando se mede o impacto de certas escolhas — por exemplo onde colocar canais ou recuperar terra, ou quais edifícios priorizar para mitigar o risco das noites.

Se as animações, ambientes e luz-sombra cumprirem, há espaço para momentos visuais muito fortes – especialmente quando as luzes do crepúsculo ou das chamas de rituais contrastarem com a escuridão que ameaça. Se não forem bem conseguidos, este contraste pode ficar aquém do desejado.

Som

O aspeto sonoro parece ambicioso no papel, mas também criticável nos testemunhos colhidos. A narrativa falha em momentos, nomeadamente com atores de voz ou narração que não convencem: vozes que não combinam com as personagens, narrador que provoca desconforto, impedindo uma imersão imediata. Isto é um ponto importante, dado que a história é um componente central do jogo.

Já em termos de ambiente sonoro, música, efeitos, há espaço para captar atmosfera: rituais, noites de tensão, ataques divinos, todos são momentos que beneficiariam de uma banda sonora evocativa, de efeitos dramáticos, de suspense. Só que parece que nem sempre essa aposta é levada ao mais alto nível. A capacidade de se manter tensão sonora durante as noites é vital, e se há bug ou mau “timing” de música ou efeitos soa menos profissional.

Conclusão

Aztecs: The Last Sun é um título com ambição notável. Mistura construção de cidade histórica, gestão complexa de recursos, mitologia, moralidade e sobrevivência – ingredientes suficientes para criar algo realmente memorável. A campanha épica, os elementos de expansão, as escolhas morais, a tensão das noites, tudo contribui para uma experiência rica.

Mas a execução encontra obstáculos. A interface nem sempre clara, os ícones diminutos, a pesquisa com ramificações pouco explícitas, bugs mecânicos ou de funcionamento, a gestão de confiança e do sangue que pode tornar-se demasiado punitiva no início – todos esses fatores reduzem o brilho potencial do jogo.

Se jogares com paciência, aceite as falhas como parte de um jogo em evolução, se estiveres disposto a respirar fundo perante desafios iniciais, Aztecs: The Last Sun pode recompensar sobremaneira. Se, por outro lado, queres algo mais polido desde o início, talvez esperares por algumas actualizações ou patches seja o mais sensato.

Em resumo, está muito perto de ser um clássico de city building com mitologia e sobrevivência. Só precisa de afinar os detalhes para que muitas das ideias excelentes que tem não fiquem escondidas atrás dos seus problemas.

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