Daimon Blades é o novo projeto da Streum On Studio, conhecida pelo enigmático e brutal E.Y.E. Divine Cybermancy. Durante a Gamescom, o estúdio mostrou o seu mais recente trabalho, um roguelike de ação centrado no combate corpo a corpo que tenta recuperar o espírito experimental e caótico do seu antecessor, mas desta vez com lâminas em vez de balas. O resultado é uma experiência intensa, sangrenta e imprevisível, com um sistema de progressão cheio de camadas e uma abordagem que mistura violência estilizada com mecânicas complexas e profundas.
O estúdio francês deixou claro que Daimon Blades é o jogo de combate corpo a corpo que sempre quiseram criar — e, após algumas horas a cortar demónios, é fácil perceber porquê. A sensação de impacto, o peso das armas e o ritmo acelerado fazem com que cada confronto pareça uma dança violenta entre vida e morte. Ainda que o jogo esteja em acesso antecipado, a base é sólida e viciante.
Jogabilidade
Daimon Blades começa com uma escolha importante: uma das seis armas iniciais. Cada uma muda o estilo de combate, desde lâminas rápidas e ágeis a espadas pesadas e devastadoras. Depois de um breve tutorial, o jogador é lançado diretamente para a ação, onde o caos reina. O sistema de combate inclui ataques normais e carregados, esquivas rápidas, ataques de carga, ataques à distância que exigem preparação, e ainda uma habilidade especial devastadora. Também é possível bloquear e aparar golpes, saltar duplamente e usar alquimia para obter vantagens em combate.
O combate é, sem dúvida, o ponto mais intenso e satisfatório do jogo. As espadas cortam carne e os demónios explodem em sangue e pedaços num espetáculo grotesco, mas visualmente fascinante. A violência é exagerada, mas o jogo usa-a de forma quase coreográfica, tornando o caos num estímulo constante. Por vezes, a quantidade de efeitos e partículas torna difícil perceber o que está a acontecer no ecrã, mas isso também contribui para a adrenalina. Daimon Blades quer que o jogador se sinta sobrecarregado — e consegue.
Cada nível apresenta objetivos próprios e, após os completar, o jogador é recompensado com melhorias. Estas recompensas podem ser aumentos de saúde máxima, novos perks, upgrades para ataques e habilidades alquímicas. Há também uma série de recursos e moedas que se recolhem durante a corrida e que podem ser usados na forja, fora das missões, para melhorar o personagem.
Um dos elementos mais originais é o medidor de Corrupção. Sempre que o jogador morre, o medidor sobe 20%. Quando atinge 100%, a corrida termina. Existem pontos no mapa onde é possível reduzir a Corrupção, mas exigem enfrentar inimigos adicionais. Também há sacrifícios humanos que restauram vida e poções, mas aumentam ligeiramente a Corrupção, criando um sistema de risco e recompensa constante.

Mundo e história
Ainda é cedo para perceber a história completa de Daimon Blades, mas já se nota o tom enigmático característico da Streum On. O mundo é sombrio, ritualista e carregado de simbolismo. Demónios, templos e entidades celestiais misturam-se com uma estética entre o gótico e o tecnológico, num universo onde o sagrado e o profano coexistem.
Os Daimons, que dão nome ao jogo, são entidades ligadas a cada arma e representam o coração do sistema de progressão. Cada Daimon é gerado de forma procedural, com efeitos positivos e negativos que mudam a maneira como o jogador enfrenta o jogo. Estes espíritos podem fortalecer o jogador, mas também pregar partidas, dificultando o combate. Há até um sistema de relação com o Daimon — quanto mais forte essa ligação, maiores os benefícios, mas se o espírito se voltar contra o jogador, pode tornar a corrida num inferno.
Além disso, há elementos permanentes de progressão que ligam as várias sessões. Pedras Celestiais aumentam atributos básicos, livros desbloqueiam novas habilidades que podem surgir em armas futuras e pergaminhos permitem adquirir novos poderes alquímicos. Talismãs Divinos acrescentam resistências e bónus de loot, e tudo isto pode ser melhorado através da forja, onde também se criam novos visuais para armas e armaduras. O ciclo entre luta, morte e renascimento é o núcleo da experiência, e cada corrida oferece algo novo.
Grafismo
Visualmente, Daimon Blades impressiona pela intensidade. As animações de combate são fluidas e detalhadas, e os efeitos de sangue e partículas são abundantes. O estilo artístico mistura arquitetura demoníaca com ruínas antigas e ambientes infernais, criando uma estética entre o cyber-gótico e o místico. O design das criaturas é grotesco, com formas distorcidas e agressivas que refletem bem o tom do jogo.
No entanto, o caos visual pode por vezes jogar contra o jogador. Durante os combates mais intensos, é fácil perder a noção de profundidade ou direção. O interface, ainda em fase inicial, também precisa de refinamento: ícones pequenos e menus pouco intuitivos tornam difícil navegar entre as várias opções de melhoria. Apesar disso, o conjunto é impressionante e cria uma sensação de brutalidade constante que combina perfeitamente com o tom do jogo.
No Steam Deck, o desempenho ainda deixa a desejar. Mesmo com as definições gráficas no mínimo e a resolução reduzida, as quedas de framerate são notórias, especialmente em batalhas com múltiplos inimigos. A UI também sofre de cortes nas margens do ecrã, algo que a equipa já prometeu corrigir. É um título que parece feito para ser jogado em portátil, mas que precisa de mais otimização para chegar lá.

Som
O som é outro ponto forte de Daimon Blades. Cada golpe tem peso e impacto, e o som do metal a rasgar carne é perturbador mas satisfatório. O design sonoro reforça a sensação de caos e urgência, com rugidos demoníacos, gemidos distorcidos e explosões de energia que enchem o ambiente. A banda sonora alterna entre batidas tribais e tons industriais, dando ritmo à carnificina.
Há também uma boa integração entre o som e o feedback visual — quando o jogador bloqueia, o som metálico seco é imediato, e quando desfere um golpe mortal, o silêncio momentâneo antes da explosão de sangue cria um contraste marcante. É um jogo que exige jogar com auscultadores, não só para apreciar os detalhes, mas também para reagir rapidamente às ameaças.
Conclusão
Daimon Blades marca um regresso vigoroso da Streum On Studio ao tipo de experiência caótica e experimental que a tornou conhecida. É um roguelike visceral e exigente, com um sistema de combate que mistura precisão e brutalidade num equilíbrio raro. O foco no corpo a corpo e na progressão procedural torna cada sessão imprevisível, e o sistema de Corrupção adiciona uma camada estratégica interessante.
Há, contudo, espaço para melhorias. A interface ainda é confusa, o caos visual pode ser excessivo e o desempenho em plataformas portáteis está longe do ideal. Mas o núcleo do jogo — a sensação de combate, o ciclo de progressão e a possibilidade de jogar em cooperação até quatro jogadores — já é forte o suficiente para o tornar numa proposta viciante.
Mesmo em acesso antecipado, Daimon Blades mostra um potencial enorme. É brutal, desafiador e repleto de estilo. Um título que celebra o caos e a carne, e que promete crescer até se tornar num dos roguelikes de ação mais intensos dos últimos anos.