Expansion VR tenta redefinir o género de estratégia em tempo real dentro do espaço da realidade virtual, oferecendo uma abordagem mais direta e competitiva. A ideia é simples: combates rápidos, decisões instantâneas e uma componente estratégica que vive da personalização do baralho de unidades. O jogo, ainda em Acesso Antecipado, procura equilibrar profundidade táctica com acessibilidade, num cenário de ficção científica onde cada duelo é uma batalha de reflexos e planeamento.
Apesar da ambição e da promessa de um sistema de controlo imersivo, o estado atual do jogo levanta dúvidas. Falta de conteúdo, bugs pontuais e um silêncio preocupante por parte dos desenvolvedores fazem com que Expansion VR seja um projeto promissor, mas com um futuro incerto. Ainda assim, é um título que merece uma análise cuidada pela forma como tenta adaptar o género RTS a um ambiente VR competitivo.
Jogabilidade
A jogabilidade de Expansion VR assenta num conceito muito acessível: construir um baralho de unidades com diferentes especializações e colocá-las em campo com movimentos físicos. O jogador usa as mãos para invocar tropas, comandar exércitos e expandir o seu controlo no campo de batalha. A curva de aprendizagem é praticamente inexistente — basta alguns minutos para perceber como tudo funciona, o que é positivo, especialmente para quem nunca jogou um RTS em VR.
No entanto, essa simplicidade é também o seu maior problema. As partidas reduzem-se muitas vezes a uma espécie de pedra-papel-tesoura onde cada tipo de unidade tem vantagem sobre outro, e as vitórias acabam por depender mais da rapidez de execução do que de uma verdadeira estratégia. O posicionamento das tropas tem peso, mas a ausência de camadas táticas mais profundas limita bastante o interesse a longo prazo.
Os combates são curtos e intensos, durando entre 5 e 30 minutos. Essa duração encaixa bem no formato VR, tornando o jogo ideal para sessões curtas. Há um modo contra a IA e um modo multijogador online, mas encontrar adversários é praticamente impossível. Nos testes, as tentativas de ligação em PvP ficaram presas no ecrã de conexão, sugerindo uma base de jogadores praticamente inexistente. Assim, o modo single-player torna-se a única opção viável — e infelizmente, com apenas cinco mapas disponíveis, a repetição instala-se rapidamente.

Mundo e história
O universo de Expansion VR situa-se nas profundezas do espaço, onde empresas privadas disputam o controlo de asteróides ricos em recursos. O jogador assume o comando de uma companhia mineira que, empurrada pela competição, militariza as suas operações, transformando equipamentos industriais em máquinas de guerra. É um conceito com potencial, evocando uma mistura de ficção científica industrial e conflito corporativo, mas que fica apenas como pano de fundo.
Não há narrativa propriamente dita, nem personagens ou progressão de história. Tudo é contextual, e o enredo serve apenas para justificar o cenário visual e o tipo de unidades disponíveis. É uma pena, pois o ambiente de exploração espacial poderia sustentar algo mais elaborado, talvez uma campanha com objetivos progressivos ou um modo de conquista galáctica.
O jogo parece querer focar-se na vertente competitiva, deixando de lado qualquer tentativa de criar um mundo vivo ou uma história envolvente. Isso é compreensível num título de Acesso Antecipado, mas se o objetivo é manter o interesse dos jogadores, será necessário expandir esse aspeto no futuro.
Grafismo
Graficamente, Expansion VR é um título surpreendentemente polido para o seu estado de desenvolvimento. Os mapas são visualmente distintos e muito agradáveis de observar em VR. As arenas de combate variam entre superfícies metálicas industriais e paisagens espaciais iluminadas por nebulosas e asteróides distantes. O estilo artístico aposta num visual limpo, funcional e com boa leitura de campo — essencial para um jogo de estratégia em realidade virtual.
O motor Unity foi usado de forma competente. Num sistema com uma RTX 3080, o jogo mantém 90 fps estáveis praticamente o tempo todo, com apenas um ou outro micro stutter ocasional. O desempenho é sólido, o que é particularmente importante em VR, onde a fluidez é crucial para o conforto.
Os efeitos visuais são simples, mas eficazes. Explosões, lasers e animações de movimento das tropas têm a dose certa de impacto sem comprometer a legibilidade. Há, contudo, bugs ocasionais — como a ausência de bases inimigas em certas partidas — que quebram completamente o ritmo e obrigam a reiniciar o jogo. Pequenos detalhes como este reforçam a sensação de produto ainda inacabado.

Som
O design sonoro é funcional, mas longe de memorável. As batalhas são acompanhadas por efeitos de disparos e explosões que cumprem o seu papel sem impressionar. A ausência de música dinâmica durante os combates torna o ambiente um pouco estéril, como se faltasse aquele impulso emocional que dá peso às vitórias e derrotas.
Os sons das unidades e da interface são limpos e bem posicionados no espaço, aproveitando o potencial imersivo da VR, mas falta variedade. Após algumas partidas, tudo soa igual. Não há vozes nem comentários em combate, o que contribui para a sensação de vazio. Um maior investimento neste aspeto poderia transformar significativamente a experiência, tornando-a mais intensa e envolvente.
Ainda assim, o equilíbrio entre clareza e volume é bom. O áudio não é confuso nem intrusivo, e o silêncio ambiente ajuda na concentração táctica. É, no fundo, um design seguro e funcional, mas que não deixa marca.
Conclusão
Expansion VR é um projeto com ideias interessantes e um potencial considerável, especialmente para quem procura um RTS acessível e visualmente apelativo em realidade virtual. A sensação de controlo direto sobre o campo de batalha, o ritmo acelerado das partidas e o estilo competitivo tornam-no um título que poderia destacar-se num nicho praticamente inexplorado.
No entanto, o estado atual do jogo levanta várias bandeiras vermelhas. A falta de atualizações recentes, a escassez de conteúdo e o silêncio dos desenvolvedores na comunidade Steam sugerem que o projeto pode ter sido abandonado. O modo single-player é limitado e o online está praticamente vazio. Mesmo com a jogabilidade fluida e o desempenho técnico competente, o jogo sente-se incompleto.
É difícil recomendar Expansion VR como compra segura neste momento. Quem quiser apoiá-lo deve fazê-lo com a consciência de que o desenvolvimento pode nunca avançar e de que o conteúdo disponível é mínimo. Mas, para quem tem curiosidade sobre a adaptação do género RTS à realidade virtual, há aqui uma base promissora — um vislumbre de um futuro onde estratégia e imersão podem coexistir de forma natural.
No estado atual, Expansion VR é uma boa demonstração técnica, mas não um jogo completo. Um 5 em 10 parece justo: satisfatório nas bases, mas longe de cumprir o seu próprio nome — ainda não é uma verdadeira expansão do género, apenas o esboço do que poderia ter sido.