Onirism é daqueles jogos que, à primeira vista, parecem demasiado caóticos para funcionar. No entanto, basta alguns minutos para perceber que por detrás da sua excentricidade está um dos títulos mais criativos e divertidos dos últimos anos. Desenvolvido pela Crimson Tales e publicado pela Shoreline Games, o jogo leva-nos numa viagem alucinante através de Crearia, um mundo de sonhos que mistura fantasia infantil, ficção científica e um humor descomprometido. É uma experiência que não segue as regras tradicionais de design, preferindo mergulhar no absurdo e recompensar a curiosidade do jogador a cada esquina.
A premissa parece simples: Carol, uma jovem destemida e cheia de energia, vê o seu peluche Bunbun ser roubado e embarca numa busca para o recuperar. No entanto, o que começa como uma aventura inocente transforma-se rapidamente numa odisseia surreal repleta de cenários inesperados, inimigos bizarros e mecânicas que nunca param de surpreender. Onirism não é apenas um jogo de plataformas ou de ação, é uma celebração do ato de brincar, um mergulho no imaginário sem limites.
Jogabilidade
A jogabilidade é o coração pulsante de Onirism. A primeira coisa que salta à vista é a variedade absurda de armas e ferramentas disponíveis: mais de 300 ao todo, cada uma com a sua própria utilidade ou, por vezes, apenas com um toque de comédia. Desde pistolas de bolhas que aprisionam inimigos em esferas flutuantes a lança-foguetes capazes de os atirar para fora do cenário, tudo serve para incentivar a experimentação. Este excesso de opções pode parecer esmagador, mas é precisamente o caos criativo que dá personalidade ao jogo.
Os inimigos são igualmente variados. Com mais de 300 tipos diferentes, nunca sabemos exatamente o que nos espera. Há desde blobs saltitantes que se dividem em versões mais pequenas, a medusas flutuantes com padrões de ataque imprevisíveis, até cavaleiros blindados que exigem paciência e estratégia. A cada nível somos confrontados com novas surpresas, mantendo o combate sempre fresco e estimulante.
As batalhas contra bosses elevam ainda mais a fasquia. Mais de 20 confrontos únicos testam a destreza do jogador e obrigam a adaptar constantemente a estratégia. Um dos momentos mais memoráveis é o combate contra uma planta carnívora gigante, que obriga a esquivar ataques em espaços reduzidos antes de contra-atacar. Outro exemplo é um cientista louco que alterna entre máquinas enormes, transformando a arena num verdadeiro campo de armadilhas. Estes encontros não são apenas obstáculos difíceis, mas sim momentos de pura criatividade, onde a vitória sabe sempre a conquista.
Além disso, a presença de veículos adiciona outra camada de diversidade. Desde aviões a hovercrafts até mechs gigantes, cada um muda a forma como interagimos com os níveis e garante que a jogabilidade nunca se torne repetitiva.

Mundo e história
Embora a narrativa de Onirism seja, em teoria, a busca de Carol pelo seu peluche, o verdadeiro foco está no mundo que explora. Crearia é um universo que mistura elementos de contos de fadas, ficção científica e pura loucura onírica. Num nível, estamos a saltar em cogumelos de rebuçado como se estivéssemos dentro de um livro infantil; no seguinte, exploramos pirâmides no deserto, a deslizar em dunas traiçoeiras; e pouco depois, caminhamos pela superfície de uma base lunar cheia de máquinas bizarras.
A sensação é sempre de imprevisibilidade. Onirism nunca se prende a uma lógica rígida e, tal como num sonho, a transição entre cenários completamente diferentes acontece sem aviso. No entanto, esta falta de coerência narrativa é o que torna a experiência tão autêntica. O jogo transmite a sensação de estarmos a viver um sonho caótico, onde o impossível se torna natural e cada canto esconde algo inesperado.
Carol é o elo de ligação entre toda esta loucura. A sua energia, confiança e humor fazem dela uma protagonista memorável, alguém que encara o absurdo de Crearia com naturalidade. A sua ligação a Bunbun dá um objetivo claro à jornada, mas rapidamente percebemos que o peluche é apenas um pretexto para mergulhar num universo criado a partir da imaginação pura.
Grafismo
Visualmente, Onirism é um espetáculo vibrante. Cada nível parece desenhado para impressionar pela cor e criatividade. As florestas de doces são saturadas e quase excessivas no detalhe, os desertos transmitem imensidão, enquanto as bases lunares exalam uma estranheza mecânica e quase grotesca. Esta variedade garante que não há um único cenário que pareça reciclado ou sem identidade.
Os inimigos seguem a mesma lógica, oscilando entre o cómico e o assustador. Um inimigo em forma de palhaço de mola que salta do nada é simultaneamente hilariante e perturbador. Esta dualidade entre humor e ameaça é uma constante no design, reforçando a ideia de que estamos num mundo de sonhos onde tudo pode acontecer.
O estilo artístico não procura realismo, mas sim exagero e imaginação. É precisamente essa estética fora da norma que faz com que cada novo cenário pareça uma surpresa visual.

Som
A banda sonora acompanha perfeitamente a variedade do jogo. Em níveis mais leves e coloridos, surgem melodias animadas e alegres, que sublinham o tom quase infantil da ação. Já em momentos mais tensos ou em combates contra bosses, a música torna-se mais sombria e atmosférica, criando uma sensação de urgência. Esta alternância garante que a experiência sonora nunca se torna monótona.
Os efeitos sonoros também têm destaque. Cada arma soa de forma distinta, desde o estalo cómico das bolhas até ao impacto explosivo dos foguetes. As vozes e expressões de Carol acrescentam personalidade e humor, reforçando a sua presença como protagonista cheia de atitude.
Conclusão
Onirism é um jogo que abraça o caos e a criatividade como poucos. Pode ser esmagador pela quantidade absurda de conteúdo — mais de 300 armas, 200 fatos, dezenas de veículos e inimigos —, mas é precisamente esse excesso que lhe dá identidade. Cada nível é uma nova surpresa, cada boss um desafio memorável, e cada descoberta secreta um convite a explorar ainda mais.
Não é um jogo perfeito. O ritmo caótico pode cansar alguns jogadores e a quantidade de opções pode parecer demasiado para quem prefere experiências mais lineares. No entanto, essas imperfeições fazem parte do charme. Tal como um sonho, Onirism não segue regras rígidas, mas sim a lógica da imaginação sem limites.
No final, o que fica é a sensação de termos vivido algo único. Uma viagem onde a inocência infantil, o humor e a criatividade se misturam para criar uma experiência que dificilmente será esquecida. Para quem procura uma aventura colorida, imprevisível e repleta de surpresas, Onirism é uma recomendação imediata. É um jogo que não só nos convida a jogar, como também a sonhar.