Ratatan é o mais recente herdeiro espiritual de Patapon, o lendário jogo de ritmo e estratégia que conquistou fãs na era da PSP. O projeto nasceu através de uma campanha de financiamento coletivo, liderada por parte da equipa criadora do original, e chegou agora ao Steam em acesso antecipado. À primeira vista, é fácil reconhecer o ADN de Patapon nas suas bases musicais e no controlo rítmico dos exércitos, mas Ratatan procura ir mais além, misturando esse conceito com elementos modernos de roguelite e uma jogabilidade mais direta. O resultado é uma experiência que tenta equilibrar nostalgia e inovação, procurando agradar tanto aos fãs antigos como aos novos jogadores.
Jogabilidade
Em Ratatan assumimos o papel de uma criatura chamada Ratatan, responsável por comandar um grupo de pequenas unidades conhecidas como Cobun. A estrutura do jogo baseia-se em comandos rítmicos — atacar, defender, saltar ou seguir — emitidos de acordo com o ritmo da música. A novidade é que o Ratatan não se limita a dar ordens: também participa ativamente no combate, sendo controlado diretamente pelo jogador. Esta decisão altera significativamente a dinâmica face a Patapon, tornando a ação mais envolvente, mas também menos purista no campo do ritmo.
Ratatan adota uma estrutura roguelite. Cada sessão leva o jogador por várias áreas, enfrentando inimigos e recolhendo melhorias temporárias que desaparecem ao final da corrida. No entanto, é possível juntar materiais que servem para desbloquear upgrades permanentes na base principal, incentivando a progressão mesmo após falhar. Quando o Ratatan cai em combate, a corrida termina e é necessário recomeçar.
Os confrontos com os chefes são o ponto alto do jogo. Cada um apresenta padrões próprios que exigem observação, memorização e tempo de reação preciso. É gratificante perceber a evolução ao enfrentar novamente um chefe e superá-lo através de ritmo e estratégia. Ainda assim, há aspetos menos inspirados, como o facto de todas as corridas seguirem as mesmas áreas na mesma ordem, o que torna as primeiras horas um pouco repetitivas.

Mundo e história
A aventura decorre num mundo chamado Rataport, um cenário vibrante habitado por criaturas musicais que procuram ascender até ao Everafter, um reino mítico governado por uma deusa misteriosa. Esta premissa serve de pano de fundo para a progressão entre mundos e níveis, oferecendo o contexto necessário para as batalhas e para a estrutura de roguelite.
Cada zona tem o seu próprio tema visual, inimigos e desafios, criando uma sensação de descoberta gradual, mesmo sem um enredo complexo. A história ainda está numa fase inicial — típica de jogos em acesso antecipado — e serve sobretudo como suporte à mecânica central. Há, no entanto, indícios de que futuras atualizações trarão novos mundos, personagens e modos de progressão, o que pode enriquecer bastante o universo.
O design das personagens e inimigos é consistente com o tom alegre e musical do jogo. Tudo parece pensado para reforçar a ideia de que o ritmo é a essência deste mundo, desde o bater das armas até às animações que respondem ao som. Mesmo sem grandes desenvolvimentos narrativos, Ratatan consegue criar uma identidade própria, marcada pela fusão entre humor e ritmo.
Grafismo
Visualmente, Ratatan é colorido e cheio de vida. As personagens são simpáticas, os cenários detalhados e a animação mantém o espírito tribal e musical que fez de Patapon um ícone. A diferença está na paleta de cores: enquanto Patapon usava o contraste entre o preto e o branco para destacar as ações, Ratatan aposta em cores vibrantes e fundos luminosos.
Este estilo mais saturado traz uma estética moderna e apelativa, mas também alguns problemas. Em certos momentos de combate, a abundância de efeitos visuais e a falta de contraste tornam difícil distinguir o que está a acontecer. Em particular, é fácil perder de vista os Cobun ou os projéteis inimigos quando a ação se intensifica. Estes problemas de legibilidade visual são pequenos mas notórios, e podem prejudicar a experiência em batalhas mais agitadas.
Ainda assim, o estilo artístico é agradável e coerente. As expressões das personagens e os movimentos fluídos transmitem energia e diversão. Para um jogo ainda em acesso antecipado, Ratatan mostra um nível de polimento promissor, com margem clara para melhorias gráficas e de clareza visual nas próximas atualizações.

Som
Num jogo de ritmo, o som é rei — e Ratatan cumpre bem essa função. Cada nível tem a sua própria faixa musical, que reage ao desempenho do jogador. Acertar comandos consecutivos leva ao estado de Fever, onde a música se torna mais intensa e os visuais ganham um dinamismo adicional. É um sistema que reforça a imersão e incentiva a precisão, tornando o jogador parte ativa da própria melodia.
A banda sonora é animada e contagiante, cheia de batidas tribais, coros e sons percussivos que remetem ao espírito de Patapon, mas com uma sonoridade mais moderna. Cada Ratatan tem ainda uma voz distinta, o que confere personalidade e ritmo ao jogo. O som dos tambores, das vozes e dos instrumentos mistura-se perfeitamente com o combate, tornando cada ação parte de uma composição musical.
Embora algumas músicas possam parecer repetitivas após muitas corridas, o jogo compensa com variações subtis e momentos em que a música cresce em resposta ao desempenho. O design sonoro é, sem dúvida, uma das maiores forças de Ratatan, e será interessante ver como a equipa expandirá este aspeto nas futuras atualizações.
Conclusão
Ratatan é uma carta de amor a Patapon e uma tentativa corajosa de modernizar a fórmula que tantos recordam com carinho. Consegue equilibrar familiaridade e novidade, oferecendo uma experiência que é ao mesmo tempo nostálgica e fresca. O combate baseado no ritmo continua viciante, e o sistema roguelite acrescenta uma camada de progressão que dá vontade de voltar para mais uma tentativa.
Nem tudo é perfeito. O jogo sofre com falta de contraste visual e alguma repetição nas primeiras horas, e o controlo direto do Ratatan pode não agradar a todos os puristas do género. No entanto, o potencial é evidente, e mesmo com os defeitos, Ratatan já oferece momentos de pura diversão musical e de satisfação rítmica.
Sendo ainda uma versão em acesso antecipado, há espaço para crescer, mas as bases estão sólidas. Se gostaste de Patapon ou se procuras algo diferente no universo dos roguelites musicais, Ratatan é uma experiência que vale a pena acompanhar de perto. É o tipo de jogo que, com o tempo e as atualizações certas, pode evoluir de um tributo competente a um clássico moderno.