Town to City chega ao mercado em acesso antecipado como uma proposta alternativa dentro do género de city builders. Desenvolvido pela Kwalee, este jogo aposta numa abordagem descontraída, afastando-se da habitual complexidade dos sistemas de tráfego, cadeias de produção e planeamento económico que marcam presença em títulos mais tradicionais. Aqui, o foco está sobretudo no design da cidade, na disposição criativa dos edifícios e no prazer de ver uma pequena vila crescer de acordo com as necessidades dos seus habitantes. É um título que privilegia a forma em detrimento da estratégia, oferecendo uma experiência relaxante e acessível a qualquer jogador.
Embora ainda se encontre em desenvolvimento, Town to City apresenta já uma base sólida que deixa antever o tipo de experiência que pretende oferecer. Não é um jogo para quem procura profundidade estratégica ou desafios intricados, mas sim para quem aprecia construir algo visualmente agradável e satisfatório ao seu próprio ritmo.
Jogabilidade
A experiência começa com um terreno vazio e uma estação ferroviária que serve de porta de entrada para os primeiros cidadãos. A cada novo habitante, surgem requisitos específicos: alguns preferem viver perto de água, outros junto a falésias, e há ainda quem procure mais privacidade e se mantenha afastado de outras casas. O jogador tem de equilibrar estes desejos, posicionando as habitações nos locais adequados e realocando famílias sempre que necessário, de modo a maximizar a felicidade dos residentes.
Com o passar do tempo, a cidade cresce e desbloqueiam-se novas construções através de um sistema de pontos de investigação que se acumulam passivamente. Estes pontos permitem aceder a edifícios mais avançados, melhorias e elementos decorativos, transformando gradualmente a paisagem de casas modestas em estruturas de vários andares. Os pedidos dos cidadãos vão-se tornando um pouco mais exigentes, mas continuam a ser bastante permissivos quando comparados com outros city builders. Relocar uma família é tão simples como carregar num botão, o que reforça a ideia de fluidez e ausência de stress.
Um dos elementos mais curiosos é a interação com os habitantes. Por vezes, estes pedem pequenos favores, como embelezar a zona em redor da sua casa, em troca de dinheiro. No entanto, não existe qualquer urgência, cabendo sempre ao jogador decidir quando e como satisfazer esses pedidos. O sistema reforça a filosofia de design do jogo: não é sobre eficiência, mas sim sobre expressão criativa. Fences, árvores e flores assumem tanta importância quanto as estradas ou edifícios funcionais, convidando o jogador a passar longos minutos a ajustar detalhes estéticos.

Mundo e história
Town to City não segue uma narrativa no sentido clássico. O enredo está, na prática, nas mãos do jogador, que dá forma à evolução da cidade e molda o quotidiano dos seus habitantes. Cada cidadão tem desejos próprios e representa uma pequena peça do puzzle maior que é a construção de uma comunidade feliz. A ausência de uma história estruturada é compensada pelo sentido de progresso contínuo, pela satisfação de ver a vila ganhar vida e pelo ritmo calmo com que os novos elementos são introduzidos.
Apesar de não existirem cadeias produtivas complexas ou dilemas estratégicos de grande escala, há sempre uma sensação de progresso. O crescimento de uma simples aldeia até uma cidade maior funciona como fio condutor e substitui a narrativa convencional. A promessa dos desenvolvedores de expandir o jogo com novos mapas, mecânicas adicionais, edifícios e até animais sugere que o futuro do título poderá trazer mais variedade e novas formas de interagir com o mundo criado.
Grafismo
Visualmente, Town to City aposta numa estética acolhedora e luminosa. Os cenários transmitem uma sensação de tranquilidade, recorrendo a cores quentes e a uma direção artística simples mas eficaz. Embora não se aproxime do estilo cartoonesco de outros city builders mais acessíveis, mantém um equilíbrio entre realismo e suavidade que reforça a identidade relaxante do jogo.
O detalhe não está na complexidade técnica, mas sim na harmonia da apresentação. As estradas desenhadas manualmente e os edifícios colocados sem a limitação rígida de uma grelha dão ao jogador liberdade criativa. Esta ausência de restrições visuais torna a cidade mais orgânica, permitindo um resultado final mais pessoal. A sensação é a de um espaço vivo e agradável, em constante transformação à medida que novas construções e decorações são introduzidas.
No que toca a performance, o jogo mantém-se estável mesmo em cidades maiores. Num exemplo com cerca de 400 habitantes, os valores de FPS rondavam os 40-50, permitindo uma jogabilidade fluída e estável, sobretudo se for limitada a 30 FPS. O consumo energético e as temperaturas também se mantêm controlados, o que é especialmente relevante para quem joga no Steam Deck.

Som
A componente sonora acompanha a filosofia do jogo. A banda sonora é descontraída, com instrumentos como o acordeão a remeterem para ambientes urbanos europeus mais pitorescos. É uma escolha que casa bem com o tom relaxado da jogabilidade, evitando qualquer sensação de pressão ou urgência. A música não procura protagonismo, mas sim criar uma atmosfera de serenidade que se prolonga durante as sessões de jogo.
Além da música, há pequenos detalhes sonoros que enriquecem a experiência, como o chilrear dos pássaros ou o som ambiente de insetos, reforçando o ambiente rural das primeiras fases do jogo. Estes elementos ajudam a criar uma sensação de proximidade e naturalidade que acompanha bem o crescimento da cidade. Em conjunto, estes aspetos tornam a experiência mais imersiva e agradável, mesmo durante longas sessões.
Conclusão
Town to City é um city builder diferente da norma. Ao invés de exigir planeamento meticuloso e gestão complexa de recursos, foca-se no prazer de construir algo bonito e agradável de explorar. É uma experiência pensada para quem gosta de design e decoração, para quem encontra satisfação em pequenos detalhes e na liberdade de criar sem pressões. Quem procurar cadeias produtivas elaboradas ou desafios estratégicos vai sentir falta de profundidade, mas esse nunca foi o objetivo do jogo.
Com um desempenho sólido no Steam Deck e uma base de jogabilidade já bem definida, Town to City mostra potencial para crescer com as futuras atualizações prometidas pelos desenvolvedores. A inclusão de novos mapas, mecânicas e edifícios poderá enriquecer ainda mais a fórmula. No estado atual, é um jogo ideal para quem procura relaxar, brincar com layouts criativos e ver uma vila transformar-se numa cidade vibrante sem preocupações excessivas. Uma proposta simples mas eficaz, que prova que nem todos os city builders têm de ser sinónimos de stress e complexidade.