Everdark: Undead Apocalypse apresenta-se como uma carta de amor aos filmes de terror e séries B dos anos oitenta, trazendo consigo um espírito irreverente, violento e sobrenatural que rapidamente coloca o jogador numa cidade dominada por vampiros famintos. Desenvolvido pela Dojo System, ESDIP_GAMES e Everdark Labs, este é um shooter de sobrevivência em primeira pessoa que mistura armas de fogo, combate corpo a corpo e elementos tradicionais do folclore vampírico. O jogo aposta numa atmosfera densa, numa escassez constante de recursos e numa sensação permanente de vulnerabilidade, obrigando-nos a enfrentar criaturas rápidas, agressivas e, acima de tudo, difíceis de abater. Com um preço relativamente acessível e uma proposta simples mas direta ao ponto, Everdark: Undead Apocalypse tenta recuperar aquela sensação crua e imprevisível dos velhos clássicos do género, colocando o jogador sozinho contra um enxame implacável de monstros sedentos de sangue.
Jogabilidade
A jogabilidade coloca o jogador numa perspetiva na primeira pessoa, reforçando a tensão e o desconforto típicos do terror de sobrevivência. O movimento é feito com o analógico esquerdo, enquanto o analógico direito controla a câmara e a mira. O jogo dá algum ênfase ao stealth, permitindo rastejar para reduzir a deteção por parte dos inimigos, o que abre espaço a abordagens mais cuidadosas em zonas mais densas. A interação com o mundo, seja para recolher armas, munições ou itens de cura, é feita de forma simples, e a organização do arsenal é construída em torno de um sistema rápido de mudança de armas ou através de um menu radial.
As armas têm um peso especial no equilíbrio do jogo. As de fogo são eficazes, mas a munição é escassa. Os ataques corpo a corpo tornam-se valiosos, embora temporários, já que podem partir-se com o uso continuado. A gestão dos recursos acaba por ser uma das mecânicas centrais, obrigando a decidir entre poupar balas ou arriscar um confronto mais físico que pode correr rapidamente mal. Quando um vampiro sofre dano suficiente, entra num estado atordoado, mas o jogo não permite celebrações antecipadas. Como qualquer vampiro clássico, só cai definitivamente com uma estaca no coração, o que acrescenta um passo final de risco: aproximar-se do inimigo e terminar o trabalho.
Existem ainda pormenores que acrescentam alguma profundidade, como a habilidade de empurrar um vampiro para ganhar segundos preciosos, o uso de bandagens para recuperar vida, a lanterna para navegar em zonas escuras e até áreas protegidas com alho onde os inimigos não conseguem entrar. São detalhes simples, mas que reforçam a temática e tornam a jogabilidade mais variada do que a sua estrutura inicial poderia sugerir.

Mundo e história
A narrativa de Everdark: Undead Apocalypse é minimalista, funcionando mais como cenário do que como o foco principal. A cidade encontra-se em plena ruína, tomada por vampiros que varrem as ruas à procura de sangue fresco. O jogador, deixado à própria sorte, avança por ambientes claustrofóbicos e perigosos, recolhendo notas que oferecem pedaços de contexto e vão revelando o que levou ao desastre. Estes fragmentos do enredo dão alguma coerência ao mundo, ainda que o jogo prefira manter o ritmo centrado na sobrevivência constante.
Os elementos de terror inspirados nos filmes de série B dos anos oitenta dão personalidade ao jogo. Os clichés estão presentes de forma assumida: o ambiente decadente, os monstros exagerados, a tensão entre luz e sombra, a sensação de que a qualquer momento tudo pode correr mal. É um universo simples, mas eficaz, que não tenta reinventar o género, preferindo antes entregar uma experiência direta e nostálgica. O jogo tira partido da sua estética exagerada e das suas referências claras para criar um ambiente coerente com as intenções do projeto, e isso acaba por funcionar a favor da imersão.
Grafismo
Visualmente, Everdark: Undead Apocalypse não tenta competir com produções de grande orçamento, mas usa os seus recursos de uma forma competente. A estética lembra de imediato as produções de terror de baixo orçamento dos anos oitenta, com cenários escuros, cores fortes e um aspeto quase sujo que acentua a sensação de decadência urbana. A iluminação desempenha um papel importante, com zonas sombrias que escondem perigos e espaços mais iluminados que transmitem um falso sentimento de segurança. O contraste entre luz e escuridão é constante e funciona como um elemento de tensão permanente.
Os modelos dos vampiros são grotescos e exagerados, em linha com a inspiração do jogo, mas por vezes podem sentir-se repetitivos. As animações são eficientes, embora nem sempre refinadas, o que encaixa na estética série B mas pode afastar quem procura um visual mais polido. As armas e objetos têm um desenho simples mas funcional, transmitindo a sensação de fragilidade e improvisação que o jogo pretende passar. No geral, o grafismo cumpre bem o seu propósito, apoiando o ambiente e complementando a experiência sem se sobrepor a ela.

Som
A componente sonora contribui significativamente para a atmosfera. Os efeitos sonoros dos vampiros, os passos no chão molhado, o rasgar de carne e os gritos distantes criam uma envolvência que mantém o jogador alerta. O som das armas é suficientemente pesado para transmitir impacto, mas sem cair na hiperealidade habitual de shooters modernos. A banda sonora é discreta, deixando espaço para o ambiente natural da cidade dominada pelas criaturas. Esta opção funciona bem, já que reforça a sensação de isolamento e vulnerabilidade.
Os elementos auditivos também ajudam na jogabilidade, permitindo perceber a proximidade de inimigos ou identificar quando um vampiro entra no estado atordoado. É um uso inteligente do áudio para reforçar tensão mecânica e emocional. Mesmo sem grandes melodias ou temas memoráveis, o som cumpre o seu papel e complementa adequadamente o estilo do jogo.
Conclusão
Everdark: Undead Apocalypse é um shooter de terror de sobrevivência que sabe exatamente o que quer entregar: uma experiência intensa, direta e inspirada nos clássicos do género. Não tenta ser revolucionário, mas oferece um ambiente coerente, uma jogabilidade equilibrada entre ação e gestão de recursos, e um mundo que consegue ser cativante apesar da sua simplicidade narrativa. A falta de polimento em alguns aspetos visuais e a repetição ocasional de inimigos poderão afastar jogadores que procuram algo mais sofisticado, mas quem aprecia o charme dos filmes de terror dos anos oitenta encontrará aqui uma proposta honesta e eficaz.
Com um preço acessível e uma duração ajustada, Everdark: Undead Apocalypse posiciona-se como uma boa opção para quem quer um jogo de ação com toque sobrenatural e foco na sobrevivência. É um título que abraça o seu estilo, reconhece as suas limitações e entrega exatamente o que promete. Para os fãs de horror clássico e para quem gosta de enfrentar monstros com pouco mais que uma arma improvisada e nervos de aço, esta é uma aventura que merece atenção.