Hide The Corpse é um daqueles jogos que pega numa premissa simples, mas ao mesmo tempo absurdamente criativa, e transforma-a numa experiência que mistura humor negro com tensão constante. A ideia é direta: o jogador encontra-se na complicada situação de ter de esconder o corpo de Gus, alguém que, pelo contexto, parece ter sido vítima das suas ações. O problema é que não há tempo para pensar com calma – apenas quatro minutos para se livrar do corpo, apagar qualquer prova da sua presença e limpar todas as impressões digitais que tenha deixado. Tudo isto para alcançar a cobiçada classificação S no final. A pressão do relógio, aliada a mecânicas físicas propositadamente atrapalhadas e um estilo visual que remete diretamente para os anos 70, cria um jogo que tanto desafia como diverte, capaz de provocar gargalhadas e momentos de frustração em igual medida.
Jogabilidade
A jogabilidade gira em torno de uma corrida contra o tempo. Cada nível apresenta um espaço diferente, desde uma sala de estar ou uma garagem até locais mais improváveis como um museu ou até mesmo uma nave espacial. O objetivo é encontrar um dos seis possíveis esconderijos para o corpo de Gus. Alguns são óbvios e rápidos de usar, enquanto outros exigem exploração e criatividade – como enfiar Gus dentro de um sofá ou escondê-lo num reator nuclear. Mas a tarefa não acaba aí. Para conquistar a classificação S, é necessário recolher todos os objetos pessoais de Gus, como o seu cartão de identificação, óculos de sol ou pente, e limpá-los de impressões digitais. Isto implica também encontrar uma esponja para limpar todas as superfícies que tenha tocado, reduzindo ainda mais o já limitado tempo disponível.
O sistema de controlo acrescenta outra camada de dificuldade: Gus tem física de ragdoll e peso considerável, e só é possível empurrá-lo, puxá-lo ou segurá-lo momentaneamente antes de ele voltar a cair. Dependendo da parte do corpo que se agarra, a tarefa pode ser mais ou menos complicada, e é preciso aprender rapidamente a forma mais eficiente de o mover. Além disso, a física imprevisível faz com que Gus assuma posições estranhas, o que obriga o jogador a dobrar braços e pernas de forma pouco ortodoxa para garantir que nada fica de fora do esconderijo. É aqui que o jogo equilibra o caos físico com a necessidade de decisões rápidas, criando um desafio divertido.

Mundo e história
Hide The Corpse não é um jogo narrativo no sentido tradicional. Não há cutscenes elaboradas ou um enredo complexo, apenas a premissa de que Gus precisa de desaparecer do mapa – e o jogador é o responsável por isso. A história é sugerida através do próprio ambiente e das pequenas pistas espalhadas pelos cenários. O ambiente de cada nível é tematicamente distinto e cria um pano de fundo que, apesar de não avançar um enredo concreto, serve para reforçar o humor e o absurdo da situação. A presença de diálogos de rádio da polícia, que se aproximam cada vez mais do local, introduz um elemento de tensão narrativa subtil. Não se vê o tempo a passar no ecrã, mas o simples facto de ouvir a polícia a comunicar que está a fechar o cerco aumenta o stress e dá a sensação de que existe algo em jogo para além da pontuação final.
Grafismo
Visualmente, Hide The Corpse aposta numa estética caricata inspirada nos anos 70, com cenários repletos de cores vibrantes e padrões exagerados que dão personalidade ao jogo. A roupa base de Gus encaixa perfeitamente nesse estilo, com direito a um bigode farto que parece saído de um filme da época. É possível desbloquear outras roupas ao conseguir classificações elevadas, mas o conjunto inicial continua a ser o mais marcante. O estilo visual é cartoonesco e combina de forma perfeita com a natureza absurda da premissa. Esta abordagem gráfica também facilita a imersão, ajudando a aceitar o tom humorístico sem que a temática de “esconder um cadáver” se torne desconfortável. O jogo consegue transformar algo potencialmente mórbido numa experiência visual leve e divertida.

Som
O áudio em Hide The Corpse é tão importante quanto o aspeto visual. A banda sonora aposta em músicas funky e ligeiramente exageradas, perfeitamente alinhadas com a estética dos anos 70, reforçando o ambiente descontraído e cómico. Os efeitos sonoros seguem o mesmo tom, contribuindo para o espírito camp que o jogo procura transmitir. No entanto, o verdadeiro toque de mestre está no áudio ambiente da polícia. Ouvem-se conversas via rádio que indicam que os agentes estão cada vez mais próximos do local, criando um sentido de urgência que, por vezes, é mais eficaz do que ver um cronómetro a contar. Este detalhe sonoro consegue aumentar a tensão de forma notável, especialmente nos segundos finais, quando se tenta enfiar Gus às pressas num esconderijo improvisado.
Conclusão
Hide The Corpse é um excelente exemplo de como conceitos simples podem dar origem a experiências memoráveis quando bem executados. Mistura de forma inteligente um humor negro quase slapstick com mecânicas que exigem rapidez, atenção ao detalhe e alguma criatividade. É um jogo que tanto pode arrancar gargalhadas como provocar momentos de pura frustração, especialmente quando a física de Gus decide não colaborar. A estética setentista e a música funky complementam na perfeição a ação, criando uma identidade visual e sonora marcante. Apesar de não oferecer uma narrativa profunda ou grande variedade de modos de jogo, o título cumpre plenamente o que promete: proporcionar minutos intensos de diversão e desafio. É o tipo de jogo que, mesmo após várias tentativas falhadas, faz querer voltar para tentar mais uma vez alcançar aquela classificação S perfeita – nem que para isso seja preciso dobrar Gus como um pretzel para caber no sofá.