Com um nome tão peculiar como Horror Night with Tung Tung Tung Sahur, é impossível não ficar curioso. Parece mais o título de um disco obscuro de jazz experimental do que propriamente um videojogo de terror, mas essa estranheza faz parte do charme. Ainda assim, por mais bizarro que pareça, o jogo entrega exatamente o que promete: uma noite de horror, muitos sustos e uma boa dose de nonsense intencional. Numa era em que os jogos de terror tentam constantemente inovar e ultrapassar barreiras narrativas, este título escolhe seguir uma abordagem muito mais simples e consciente do seu lugar no género.
Jogabilidade
A jogabilidade segue os moldes clássicos do terror em primeira pessoa. O jogo coloca-nos no papel de um protagonista envolvido num acidente de viação, que se vê forçado a explorar uma casa sinistra e aparentemente abandonada. A exploração é linear, com ênfase na atmosfera e nos sustos, e não há grande margem para decisões ou escolhas. Ainda assim, os controlos são responsivos e fluem bem, contribuindo para a imersão. Não há puzzles complexos nem mecânicas inovadoras – o foco está na experiência direta de terror.
Os sustos são maioritariamente baseados em aparições repentinas e efeitos sonoros intensos, com portas que se fecham sozinhas e presenças que surgem nas costas do jogador. Pode parecer previsível, mas dentro do seu contexto limitado, acaba por funcionar. Não é uma experiência desafiante em termos de jogabilidade, mas consegue manter a tensão viva durante toda a curta duração da aventura.

Mundo e história
A narrativa é, de forma assumida, básica. Um acidente de carro leva o protagonista até uma casa isolada onde coisas estranhas acontecem. Não há desenvolvimento de personagens, diálogos ou construção de mundo que vá além do essencial. A história existe como um pretexto para levar o jogador de susto em susto, sem grandes pretensões. É como regressar a um velho filme de terror de série B: previsível, mas confortável. Curiosamente, essa simplicidade acaba por ser parte do apelo do jogo. Em vez de se perder em explicações desnecessárias ou tentativas falhadas de profundidade, Horror Night with Tung Tung Tung Sahur abraça a sua identidade descomplicada. Há uma estranha sensação de familiaridade ao explorar os corredores da casa, como se fosse um local já visitado em outros jogos, mas agora com um toque próprio, meio absurdo, meio satírico.
Grafismo
Visualmente, o jogo é competente para os seus objetivos. Os ambientes estão bem construídos, com iluminação ténue e sombras estrategicamente colocadas para reforçar a sensação de desconforto. Há uma atenção evidente à criação de uma atmosfera opressiva, com nevoeiro a envolver os cenários e pequenos detalhes que chamam a atenção do jogador. A ausência de bugs e glitches notáveis ajuda imenso na imersão, algo que nem todos os jogos indie de terror conseguem garantir. Não se trata de um jogo com visuais de última geração, mas tudo está bem alinhado com o seu orçamento reduzido. Os modelos e texturas cumprem o seu papel, e o design da entidade que persegue o jogador, ainda que simples, é suficientemente perturbador. A direção artística opta por não exagerar, o que acaba por funcionar melhor do que muitos títulos que tentam compensar a falta de substância com efeitos visuais exagerados.

Som
O som é, sem dúvida, um dos pontos fortes da experiência. A banda sonora é minimalista e perturbadora, com sons que parecem sussurros distorcidos em latim dentro de uma lata de conserva. Este tipo de som cria uma tensão constante, como se algo estivesse sempre à espreita, pronto para atacar. Os efeitos sonoros são eficazes e bem posicionados no espaço, contribuindo imenso para a sensação de vulnerabilidade. Não existe voice acting, nem seria necessário neste caso. O silêncio, pontuado por ruídos repentinos e ecos distantes, cria uma sensação de isolamento que se encaixa perfeitamente na proposta do jogo. É um excelente exemplo de como o som pode fazer muito mesmo com poucos recursos, sendo essencial para manter o jogador desconfortável e alerta.
Conclusão
Horror Night with Tung Tung Tung Sahur é um pequeno jogo de terror que sabe exatamente o que quer ser. Não tenta reinventar o género, nem oferece inovações narrativas ou mecânicas elaboradas. Em vez disso, entrega uma experiência simples, direta e suficientemente eficaz para entreter durante duas horas. Pode não ser memorável, mas cumpre o seu papel com um certo charme estranho e um sentido de humor implícito. Por um preço reduzido, é uma proposta interessante para os fãs do género que procuram algo leve, sem grandes compromissos e com alguns bons sustos pelo caminho. Não traz nada de novo, mas também não promete mais do que aquilo que é. É, no fundo, uma noite de horror com sabor a série B – e há espaço para isso no mundo dos videojogos.