Killing Floor 3 chega como a mais recente entrada da série de shooters cooperativos da Tripwire, prometendo mais sangue, mais Zeds e um arsenal ainda mais letal. Depois de dois jogos que definiram um estilo próprio dentro dos FPS de hordas, seria natural esperar que esta nova iteração trouxesse novidades substanciais, mantendo o ADN que tornou a franquia popular. No entanto, apesar de algumas melhorias visuais e mudanças no sistema de classes, a experiência mantém-se muito próxima do que já vimos antes, com pontos altos claros, mas também limitações evidentes que impedem o jogo de se destacar no atual panorama de shooters cooperativos.
A base continua a mesma: enfrentar ondas de inimigos grotescos, ganhar dinheiro por cada pedaço de carne despedaçado e usar essas recompensas para comprar armas mais poderosas entre rondas. A sensação das armas continua a ser o elemento mais forte do jogo, com alguns dos headshots mais satisfatórios do género. Mas quando a poeira assenta e a adrenalina baixa, percebe-se que há pouco de realmente novo para manter os jogadores investidos a longo prazo.
Jogabilidade
A essência do combate em Killing Floor 3 mantém-se sólida e viciante. A precisão dos tiros, especialmente na cabeça, continua a oferecer uma descarga de dopamina rara no género. Rifles e shotguns transmitem uma sensação de impacto quase física, e até as armas brancas, como as espadas do Ninja, têm um peso e resposta impressionantes, permitindo cortes limpos que dividem os Zeds ao meio.
No entanto, a nova abordagem às classes – agora transformadas em especialistas com nomes e habilidades próprias – é uma mudança que divide opiniões. Antes, qualquer jogador podia misturar skins e perks como quisesse; agora, cada classe está associada a uma personagem fixa, com direito a habilidade final exclusiva. Embora estas habilidades – como drones de ataque ou ganchos – ofereçam momentos pontuais de vantagem, não chegam a transformar o ritmo do combate. Outro ponto menos conseguido é o design dos inimigos. Embora os três novos bosses sejam visualmente impressionantes, seguem um padrão previsível e não oferecem mecânicas que obriguem a grandes mudanças de estratégia. Fora o Husk, que agora usa um jetpack para atacar de longe, a maioria dos Zeds é reciclada de jogos anteriores.
O resultado é um combate que, apesar de preciso e satisfatório no imediato, acaba por se tornar repetitivo nas sessões mais longas.

Mundo e história
A narrativa nunca foi o foco central da série, e Killing Floor 3 não muda essa tendência. O enredo é mínimo, servindo apenas de pano de fundo para justificar a matança de hordas de clones canibais. A ambientação mantém o tom exagerado e de terror grotesco, com cenários que misturam elementos industriais, laboratoriais e urbanos num estilo pós-apocalíptico.
Infelizmente, não há grande esforço para expandir o universo ou criar momentos narrativos memoráveis. As personagens, agora com vozes e personalidades próprias, contribuem para um ambiente mais vivo, mas a escrita recorre demasiadas vezes a piadas fracas ou comentários redundantes, o que pode cansar rapidamente. O foco é claramente a ação, e para quem procura apenas combate intenso, esta ausência de profundidade narrativa não será um problema. Mas para jogadores que apreciam uma boa história ou lore envolvente, KF3 oferece pouco mais do que pretextos genéricos para o caos.
Grafismo
Visualmente, Killing Floor 3 apresenta melhorias face aos seus antecessores, com modelos de inimigos mais detalhados, efeitos de sangue mais realistas e iluminação que reforça a atmosfera claustrofóbica. Os cenários, embora variados, mantêm um design funcional, pensado para o fluxo das ondas de inimigos, mas raramente impressionam pela criatividade ou escala.
O grande problema está no desempenho técnico. Mesmo com hardware de topo, como uma RTX 3090, o jogo apresenta quebras de framerate e stutters quando as ondas começam, prejudicando a fluidez do combate. Além disso, há problemas de polimento, como inimigos que aparecem do nada, caem do cenário ou assumem a pose em T, quebrando a imersão.
Estes problemas técnicos não comprometem totalmente a experiência, mas num jogo tão dependente de ritmo e precisão, tornam-se difíceis de ignorar.

Som
O áudio é um dos pontos fortes do jogo. As armas soam poderosas, com disparos graves e eco realista que aumenta a sensação de impacto. O som dos inimigos é igualmente bem conseguido, permitindo identificar ameaças pela direção e tipo de ruído que produzem. A banda sonora mantém o tom pesado e acelerado, com faixas que misturam metal e eletrónica, funcionando como combustível para o ritmo frenético das batalhas. No entanto, o voice acting das personagens especialistas nem sempre ajuda – algumas falas soam forçadas ou demasiado repetitivas, retirando intensidade ao momento.
Ainda assim, o trabalho sonoro é consistente e contribui para que cada combate soe tão visceral quanto parece.
Conclusão
Killing Floor 3 é um jogo que domina a arte de oferecer tiros incrivelmente satisfatórios, mas que não consegue transformar essa base sólida num pacote realmente inovador ou memorável. Para novos jogadores, o peso e impacto das armas, aliado à estética grotesca e ao caos das hordas, será suficiente para garantir muitas horas de diversão. Para veteranos, no entanto, a sensação de déjà vu é inevitável.
Com uma jogabilidade imediata e viciante, mas pouca variedade de inimigos, habilidades que pouco mudam a dinâmica e problemas técnicos que afetam o ritmo, KF3 acaba por ficar atrás de outros shooters cooperativos mais ambiciosos e polidos. No fim, o jogo é um excelente exemplo de como um bom headshot pode ser viciante, mas também de como é preciso mais do que isso para manter os jogadores a voltar.