OFF é um daqueles jogos que parece impossível descrever de forma direta. Criado por Mortis Ghost em 2008, o título rapidamente se tornou um clássico de culto no mundo dos RPG indie, tanto pelo seu estilo minimalista como pelo impacto narrativo que teve na comunidade. Ao longo dos anos, OFF ganhou notoriedade como uma experiência profundamente estranha, perturbadora e enigmática, um daqueles jogos que ficam na memória não pelo que explicam, mas pelo que deixam em aberto.
Esta nova versão procura modernizar a experiência sem lhe retirar a identidade. Não é um simples exercício de nostalgia, mas também não tenta reinventar por completo aquilo que já era marcante. O que temos é um equilíbrio delicado entre fidelidade ao original e a introdução de novidades que tornam o jogo mais acessível e polido. Apesar de não agradar a todos os fãs mais puristas, esta edição consegue revitalizar OFF para um público atual, mantendo intacto o espírito da obra.
Jogabilidade
A jogabilidade de OFF continua a ser bastante clássica no que toca a RPGs. O jogador controla o Batter, uma figura enigmática que tem como missão purificar o mundo. Essa jornada implica explorar diferentes zonas, resolver puzzles e enfrentar criaturas hostis em batalhas por turnos. À primeira vista, nada de muito diferente do que outros RPGs já apresentaram, mas é na forma como o jogo trata cada um destes elementos que se distingue.
Os combates, embora tradicionais, ganharam uma fluidez muito maior nesta versão. A interface foi melhorada e está mais clara e intuitiva, tornando a gestão de habilidades e recursos muito mais prática. O sistema em si é direto, mas as batalhas são carregadas de tensão devido ao simbolismo narrativo por trás de cada inimigo. Não se trata apenas de derrotar monstros: há sempre uma sensação de que cada confronto tem um peso maior, quase como se fosse um comentário sobre o próprio mundo do jogo.
Foram ainda adicionados seis novos bosses secretos, que dão mais profundidade e desafio à experiência. Estes confrontos extra são criativos e recompensam os jogadores mais atentos e exploradores. OFF sempre foi um jogo que convidava à experimentação e à procura de segredos, e esta versão mantém viva essa tradição.

Mundo e história
OFF é, acima de tudo, uma obra de atmosfera. A história não é entregue de forma clara nem convencional. O jogador é lançado num mundo estranho, dividido em zonas habitadas por seres que oscilam entre o grotesco e o encantador. O narrador principal, o Judge, guia-nos através destes espaços, descrevendo-os com uma mistura de estranheza e familiaridade. É um universo que parece ao mesmo tempo artificial e real, moderno e decadente, cheio de máquinas e conveniências, mas povoado por fantasmas e entidades bizarras.
O enredo em si é intencionalmente abstrato. O Batter tem uma missão sagrada: purificar o mundo. O que significa exatamente essa purificação e se ela é realmente necessária ou justa, fica em aberto para interpretação. O jogo não dá respostas fáceis, e isso é uma das razões pelas quais tem sido objeto de tantas teorias e discussões ao longo dos anos. Cada jogador pode sair da experiência com uma leitura diferente, e isso só reforça a aura única de OFF.
O remake não altera a essência da narrativa, mas torna o ritmo mais acessível. Pequenos ajustes, como a forma de aceder a códigos e pistas, foram simplificados em relação ao original, onde muitas vezes era necessário vasculhar ficheiros externos. Agora tudo é integrado dentro do próprio jogo, o que permite que a progressão seja mais natural.
Grafismo
O estilo visual de OFF sempre foi uma das suas marcas mais fortes. Minimalista, surreal e quase desconfortável, é um jogo que transmite muito através da sua simplicidade. O remake mantém esta identidade, mas dá-lhe um novo polimento. As sprites e cenários foram redesenhados, sem nunca trair o estilo cru do original.
Os pilares visuais, em particular, têm agora um aspeto mais trabalhado, e há uma maior consistência no design geral. O jogo continua a ser monocromático em grande parte das suas áreas, mas esse contraste é ainda mais eficaz com as melhorias visuais introduzidas. O novo estilo gráfico consegue transmitir a mesma sensação de estranheza, mas de uma forma mais coesa e menos rudimentar.
É importante notar que OFF nunca foi um jogo que procurasse impressionar tecnicamente. O seu grafismo é deliberadamente estranho e limitado, como uma extensão do seu próprio enigma narrativo. O remake respeita essa visão, apenas reforçando a clareza e consistência visual, sem nunca retirar a sensação de desconforto que define o jogo.

Som
A banda sonora de OFF é talvez o elemento mais discutido entre os fãs. O original, composto por Alias Conrad Coldwood, tornou-se icónico pela sua mistura de sons eletrónicos, estranhos e hipnóticos. Muitos jogadores associam imediatamente OFF à sua atmosfera sonora, o que coloca qualquer remake perante um desafio difícil.
Nesta versão, a OST foi parcialmente reimaginada, com novos artistas a contribuir para a recriação de algumas faixas. O resultado não agradou a todos, mas mantém-se fiel ao espírito do jogo. Algumas músicas talvez não tenham o mesmo impacto imediato que as originais, mas outras conseguem superar a primeira versão em intensidade e atmosfera. No geral, a essência continua presente, mesmo que o tom varie de faixa para faixa.
Os efeitos sonoros e o design de áudio também foram melhorados, dando maior impacto às batalhas e interações. O som agora é mais limpo, mais envolvente e reforça a sensação de estranheza que permeia toda a experiência. Ainda assim, é inevitável que alguns jogadores optem por mods que reintegram a OST original, fruto de uma ligação emocional difícil de igualar.
Conclusão
OFF continua a ser um jogo único, mesmo passados tantos anos. A sua mistura de simplicidade mecânica com profundidade atmosférica e narrativa enigmática fazem dele uma experiência memorável, difícil de comparar a qualquer outro RPG. Este remake consegue trazer OFF para uma nova geração de jogadores sem perder a alma que o tornou um clássico de culto.
Não é uma obra pensada para quem procura apenas nostalgia. Quem quiser reviver exatamente a experiência de 2008 pode sempre jogar a versão original, ainda disponível gratuitamente. Mas para quem procura uma abordagem fiel, polida e com algumas novidades interessantes, este remake é uma excelente escolha.
OFF é mais do que um jogo. É uma experiência interpretativa, uma viagem a um mundo estranho que desafia as convenções dos RPGs e deixa uma marca duradoura em quem o joga. Não é para todos, e provavelmente muitos sairão da experiência apenas com a sensação de estranheza, mas para os que gostam de obras que desafiam o óbvio, é um título obrigatório.