Análise: Pokémon Legends: Z-A

Pokémon Legends: Z-A marca o regresso à região de Kalos, desta vez centrado na icónica Lumiose City, uma das localizações mais memoráveis da era Nintendo 3DS. Depois do sucesso e da surpresa que foi Pokémon Legends: Arceus, a Game Freak tentou novamente pegar na fórmula mais aberta e experimental, mas desta vez mudou o foco. Em vez de privilegiar a exploração e a captura, Z-A faz das batalhas o coração de praticamente todas as decisões que o jogador toma. Isto representa uma mudança de essência e, para muitos, um risco bastante grande.

Em Legends: Arceus, o fascínio vinha da descoberta e do mistério, da sensação de caminharmos por terras desconhecidas à procura de criaturas em habitats inesperados. Z-A, pelo contrário, concentra quase toda a aventura num único espaço urbano, transformando Lumiose num palco vivo onde a ação é constante, mas o sentido de amplitude é reduzido. A grande pergunta é simples: será que esta aposta resulta?

A resposta não é definitiva. Pokémon Legends: Z-A é um jogo emocionante, inovador no seu sistema de combate e bastante satisfatório na fluidez da jogabilidade, especialmente na Nintendo Switch 2, onde apresenta um desempenho técnico exemplar. Contudo, ao reduzir o mundo a uma cidade e aos seus arredores compartimentados, perde-se uma parte substancial do encanto que define Pokémon desde o início: a sensação de descoberta e surpresa.

Ainda assim, este é talvez o jogo da série que mais faz o jogador sentir que está envolvido numa batalha real. E isso, por si só, tem um peso enorme.

Jogabilidade

O sistema de combate de Legends: Z-A é o seu maior trunfo e aquilo que verdadeiramente o diferencia do resto da série. Em vez das batalhas tradicionais por turnos, Z-A apresenta confrontos em tempo real, onde o jogador controla não apenas as ações, mas também o posicionamento em campo. Os ataques têm tempos de recarga, alcances distintos e efeitos que dependem da distância, do movimento e da leitura do comportamento do adversário.

Esta abordagem transforma aquilo que antes era uma sequência de seleções de menu numa dança ativa, onde cada aproximação e recuo conta. Já não basta saber que um ataque de tipo Água é eficaz contra Fogo – é preciso garantir que o ataque acerta, que não deixamos o nosso Pokémon exposto e que não oferecemos abertura ao adversário para ripostar.

Mesmo para quem nunca se interessou pelo competitivo, o jogo incentiva o uso de estratégias normalmente associadas a esse lado da comunidade: colocar armadilhas, controlar espaço, apostar em debuffs, criar pressão psicológica e usar o tempo a favor. Ataques como Toxic Spikes deixam de ser tropes ignoráveis e tornam-se parte fundamental da abordagem tática.

As batalhas contra Pokémon Alpha e Mega Evoluções Selvagens elevam ainda mais esta sensação, funcionando quase como encontros ao estilo MMORPG, onde é preciso observar padrões, esquivar com precisão e escolher o momento certo para investir num golpe determinante. Na prática, Z-A faz aquilo que há décadas parecia impossível: tornar as batalhas de Pokémon verdadeiramente emocionantes para jogadores de todos os tipos.

O Z-A Royale, onde treinadores competem por rankings durante a noite, reforça esta dinâmica. Funciona como um ciclo viciante de desafio e progressão, incentivando a experimentar formações, adaptar estratégias e dominar o combate. É, de certo modo, o verdadeiro motor narrativo e mecânico do jogo.

Mundo e história

Lumiose City sempre foi apresentada como uma das grandes metrópoles do mundo Pokémon, mas em Legends: Z-A assume um papel ainda mais central. A cidade é o mundo. As suas ruas, telhados, becos e praças servem não apenas como cenário, mas como arena viva para batalhas, encontros narrativos e pequenas histórias humanas que dão cor ao ambiente urbano.

No entanto, esta centralização tem um preço. Lumiose é densa, mas pequena. Ao fim de algumas horas, o jogador sente que já viu a maior parte dos locais importantes, e mesmo com a abertura gradual de pequenas Wild Zones nos arredores, estas são demasiado limitadas e compartimentadas para recuperar o sentido de descoberta que acompanha a série desde sempre.

A história, centrada numa ameaça associada a Mega Evoluções descontroladas, tenta estabelecer temas como responsabilidade, perdão e reconstrução. É uma narrativa com intenções nobres, mas que sofre pela falta de expressão vocal e pela limitada construção emocional das personagens. Há momentos visualmente dramáticos e até um clímax impressionante, mas a ausência de vozes e a repetição estrutural das missões torneia o impacto.

Ainda assim, há detalhes encantadores: Pokémon que se abrigam da chuva, aves que levantam voo ao aproximarmo-nos, pequenos grupos de criaturas que coexistem com pessoas nas praças e parques. Nessas pequenas observações, Z-A encontra beleza. Mas são momentos isolados num mundo que poderia ter sido maior e mais variado.

Grafismo

Visualmente, Legends: Z-A é irregular. Por um lado, as animações de combate e as Mega Evoluções são espetaculares, com energia, impacto e fluidez. Por outro, a cidade sofre com texturas planas, sombras pouco definidas e uma iluminação que, em certas áreas, dá ao jogo um aspeto baço e sem profundidade.

Comparado com Legends: Arceus, que usava um estilo aquarelado para mascarar limitações técnicas e criar atmosfera, Z-A parece mais neutro e menos inspirado. A cidade é funcional e reconhecível, mas raramente impressiona. Em contrapartida, o desempenho técnico é excelente na Switch 2, com uma fluidez firme que melhora significativamente a experiência geral.

Não é um jogo feio, mas também não é um jogo memorável visivelmente. Falta-lhe personalidade visual.

Som

A banda sonora é um dos destaques de Z-A, reinterpretando temas de Kalos com novos arranjos mais urbanos, eletrónicos e dinâmicos. Há energia nos combates, serenidade nos cafés, tensão nas batalhas de Mega Evoluções. Tudo funciona muito bem.

Contudo, a ausência de vozes pesa, principalmente em cenas narrativas onde a expressão humana deveria carregar emoção e peso. Mesmo pequenos murmúrios ou expressões, como nos jogos modernos de Zelda, teriam feito diferença. É uma oportunidade perdida. Efeitos sonoros de ataques e movimento em combate são fortes e ajudam a transmitir impacto, reforçando a qualidade desta parte do jogo.

Conclusão

Pokémon Legends: Z-A é um jogo ambicioso, corajoso e, em muitos aspetos, revolucionário para a série. Ao centrar-se no combate em tempo real e ao dar profundidade estratégica a cada confronto, transforma batalhas em algo realmente estimulante e dinâmico. Nesse campo, é o melhor que Pokémon já foi.

No entanto, ao reduzir o mundo a uma única cidade e pequenas áreas controladas, sacrifica o espírito de aventura e descoberta que define a série. É um jogo mais focado, mais sistemático, mas também menos mágico. Para quem procura emoção no combate, Legends: Z-A é imperdível. Para quem vive Pokémon pelo encanto da exploração, pode saber a pouco. É um excelente passo para o futuro, mas ainda não é o destino final.

Se a série Legends continuar, precisa de unir o melhor dos dois mundos: a liberdade de Arceus e o combate eletrizante de Z-A.

E quando isso acontecer, talvez tenhamos um Pokémon verdadeiramente lendário.

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