Análise: Ruffy and the Riverside

Ruffy and the Riverside é um jogo que à primeira vista pode parecer apenas mais uma homenagem aos plataformas 3D coloridos do final dos anos 90 e início dos anos 2000. A sua estética lembra programas infantis dos anos 80, com personagens que parecem coloridos à mão, traços de marcador visíveis e um ar leve e divertido. Porém, basta algum tempo de jogo para perceber que há aqui mais do que nostalgia ou imitação. Trata-se da primeira grande aposta da Zockrates Laboratories, um estúdio pequeno, mas que demonstra uma surpreendente confiança no seu conceito. Apesar de alguns problemas técnicos, principalmente ao nível da performance, o resultado é uma aventura sólida e cheia de personalidade, capaz de agradar tanto a jogadores mais novos como a veteranos que cresceram com jogos como Super Mario 64, Jak and Daxter ou Banjo-Kazooie.

No centro da experiência está um mundo colorido, um sistema de movimento fluido e um truque mecânico que dá ao jogo uma identidade própria: a capacidade de copiar e colar texturas no ambiente para alterar o mundo e resolver puzzles. É uma ideia simples, mas inteligente, que distingue Ruffy and the Riverside de muitos outros títulos que apenas tentam replicar a fórmula nostálgica.

Jogabilidade

Ruffy é rápido, enérgico e versátil. O personagem conta com uma barra de stamina que diminui lentamente e recupera rapidamente, o que lhe permite correr pelos cenários com grande fluidez. Pode ainda planear brevemente no ar com a ajuda da sua companheira abelha, Pip, facilitando a navegação entre telhados, plataformas e penhascos. Mas o elemento mais marcante da jogabilidade é a possibilidade de copiar uma textura de um objeto ou superfície e colá-la noutro local. Por exemplo, pode-se copiar água e colocá-la em cima de areia para criar lama, ou aplicar trepadeiras numa parede para transformá-la num local escalável.

Este sistema não é totalmente livre, havendo limitações para evitar abusos, mas é suficientemente flexível para manter o jogador sempre atento ao cenário à sua volta. Resolver puzzles implica observar, experimentar e entender a relação entre elementos. Algumas situações exigem um certo raciocínio e, por vezes, mesmo jogadores experientes poderão ficar presos por momentos, como no puzzle em que é necessário transformar um tubarão em ferro para este afundar. Além disso, Ruffy pode ainda realizar um ataque giratório para destruir caixas e enfrentar inimigos, embora o combate não seja o foco do jogo e até possa ser considerado o seu ponto menos interessante.

Há também minijogos, como corridas de fardos de feno, que ajudam a variar o ritmo da aventura. De forma geral, a jogabilidade é sólida, criativa e divertida, mesmo se por vezes a seleção de superfícies para copiar possa parecer pouco precisa.

Mundo e história

A história é simples e leve, servindo essencialmente de pretexto para a aventura. Um cubo alienígena chamado Groll roubou umas esferas poderosas e espalhou as letras do letreiro gigantesco da cidade de Riverside, e cabe a Ruffy recuperá-las. Pip, a abelha que acompanha o protagonista, acrescenta humor aos diálogos, fazendo pequenos comentários e ajudando a manter o tom descontraído.

A cidade principal funciona como um hub colorido onde se encontram personagens secundárias bem-dispostas e zonas que desbloqueiam o acesso para os vários portais do jogo. Cada zona leva o jogador a áreas temáticas que seguem a rota clássica do género: florestas, desertos, zonas geladas e vulcânicas, entre outras. Não há surpresas drásticas ao nível da diversidade estética, mas a forma como os níveis estão preenchidos é bastante impressionante, sobretudo tendo em conta a dimensão da equipa de desenvolvimento. Os mapas estão densos em colecionáveis, puzzles, pequenas referências a outros jogos, atalhos e elementos escondidos, incentivando a exploração constante.

Há ainda secções em 2D que remetem claramente para os segmentos de Super Mario Odyssey. Embora não sejam tão polidos quanto os originais, funcionam como variações divertidas e reforçam o espírito de homenagem sem que o jogo pareça meramente imitador.

Grafismo

Graficamente, Ruffy and the Riverside aposta num estilo intencionalmente simples, quase artesanal, criando uma sensação de jogo antigo mas caloroso. Os traços visíveis, cores saturadas e contornos simples conferem ao mundo um charme peculiar. Curiosamente, muitos dos elementos que poderiam ser vistos como falhas visuais acabam por funcionar a favor da atmosfera. O alcance de visão reduzido, com neblina a surgir de forma brusca, e as linhas finas entre polígonos são características que lembram diretamente jogos do final da era Nintendo 64 e PlayStation 2.

Apesar desta intenção estética, é impossível ignorar os problemas técnicos. A performance no Switch 1 sofre quedas perceptíveis, especialmente em transições de áreas. No Switch 2, a situação melhora um pouco, mas não o suficiente para eliminar o problema. Ainda assim, mesmo com estes defeitos, o jogo mantém um aspeto coeso e encantador.

Som

A banda sonora é um dos pontos mais fortes do jogo. As melodias são leves, alegres e ajustadas ao espírito aventureiro do mundo de Riverside. Cada zona possui temas que refletem bem o seu ambiente, sem nunca se tornarem repetitivos ou cansativos. Os efeitos sonoros são simples, mas cumprem bem o seu papel. O tom geral é acolhedor, vibrante e fiel à estética infantil e nostálgica da experiência. Para quem aprecia jogos de plataforma que recorrem à música para reforçar a atmosfera do cenário, Ruffy and the Riverside oferece algo bastante convincente.

Conclusão

Ruffy and the Riverside é um regresso competente e apaixonado ao espírito dos jogos de plataformas 3D coloridos do final dos anos 90. Não se limita a homenagear: traz uma mecânica própria de copiar e colar texturas que enriquece a jogabilidade e abre espaço para puzzles criativos. Apesar de problemas técnicos nas versões Switch, um combate pouco desenvolvido e alguma dificuldade em apontar com precisão certas ações, o jogo destaca-se pela exploração, variedade de cenários e pela enorme dedicação que transparece em cada detalhe.

É uma estreia muito promissora para a Zockrates Laboratories e um título que pode facilmente conquistar tanto jogadores novos como veteranos que procuram reviver uma sensação que parecia perdida. Se procuras uma aventura leve, cheia de cor, humor e criatividade, Ruffy and the Riverside é uma aposta segura.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ComboCaster