Rusty Rangers, desenvolvido pela Fantastica!, é um daqueles títulos independentes que conseguem equilibrar a homenagem ao passado com mecânicas modernas e alguma experimentação. Apresentado como uma fusão entre o clássico plataformas com tiroteio e elementos de roguelike, o jogo tenta conjugar a nostalgia dos anos 90 com sistemas de progressão que recompensam as jogadas repetidas. Na PlayStation 5, este equilíbrio resulta na maioria das vezes, mesmo que certos aspetos tenham dificuldade em atingir o entusiasmo prometido pela sua apresentação pixelizada.
À primeira vista, Rusty Rangers parece saído diretamente da era dos 16 bits: arte pixel vibrante, inimigos mecânicos, um mundo distópico cheio de estranheza carismática e rangers armados com armas de tamanho desproporcional. No entanto, a narrativa oferece algo mais do que a simples homenagem. O jogador encarna um de vários rangers numa missão para descobrir o que correu mal num mundo caótico, desvendando lentamente mais detalhes através de missões, interações com personagens e a iminente confrontação com um barão vilão. Há personalidade suficiente no mundo e nos seus habitantes para incentivar a exploração, embora alguns momentos narrativos se apoiem demasiado em clichés conhecidos do género.
Jogabilidade
A jogabilidade começa de forma familiar, com mecânicas tradicionais de correr, saltar e disparar, a fazer lembrar títulos como Mega Man ou Contra, mas rapidamente a estrutura roguelike entra em ação. O design procedural dos níveis significa que nenhuma tentativa é exatamente igual à anterior – pelo menos na teoria. Na prática, a aleatoriedade é relativamente contida, mudando sobretudo o posicionamento de inimigos ou a variedade de power-ups entre cada corrida, mais do que grandes alterações ambientais. As fases iniciais apresentam-se como ação-plataformas direta, mas à medida que se acumulam tentativas, os elementos roguelike ganham peso através da progressão meta, desbloqueio de personagens e aumento da dificuldade imposto pelos bosses subsequentes.
Cada ranger possui um conjunto de habilidades próprias, o que traz verdadeira variedade à experiência – seja um ataque de rajada com elevado dano ou maior mobilidade, a escolha da personagem altera significativamente a forma como cada nível decorre. Esta diversidade influencia também a curva de dificuldade, que se torna bastante mais acentuada após os primeiros bosses. Sendo os roguelikes conhecidos pela sua exigência, Rusty Rangers leva essa característica ao limite com picos de dificuldade algo bruscos, especialmente quando a combinação de equipamento e melhorias não se alinha bem numa dada corrida. É um ciclo recompensador, mas por vezes frustrante, que beneficiaria de um equilíbrio mais refinado ou de melhorias iniciais mais relevantes.

Mundo e história
O mundo de Rusty Rangers é um curioso cruzamento entre o pós-apocalipse e o tecnopunk, onde as cidades mecânicas e paisagens industriais dão vida a um cenário tão decadente quanto fascinante. As áreas estão recheadas de pequenos detalhes que sugerem histórias passadas, desde edifícios arruinados e cheios de maquinaria obsoleta até criaturas robóticas com comportamentos estranhos. O barão vilão funciona como a força motriz que liga as várias regiões e mantém a ameaça sempre presente, mesmo quando o jogador se perde a explorar.
Embora não seja um enredo complexo, há um esforço em dar identidade a cada local e personagem. Pequenas conversas e missões secundárias ajudam a construir um pano de fundo que, apesar de se apoiar em elementos familiares para fãs do género, consegue manter algum mistério. A sensação de progressão narrativa é gradual, revelando informações aos poucos, o que encaixa bem com o formato roguelike e incentiva múltiplas jogadas.
Grafismo
Visualmente, Rusty Rangers é um tributo assumido à estética 16-bit, mas com a nitidez e cor que a tecnologia atual permite. Os cenários apresentam várias camadas de profundidade, criando ambientes vivos e imersivos. A direção artística aposta num estilo tecnopunk vibrante, cheio de néons e contrastes fortes, que sobressaem particularmente bem nos ecrãs modernos. O design das personagens é igualmente cuidado, com rangers distintos e inimigos mecânicos que vão desde pequenas unidades rápidas até gigantescos bosses cheios de pormenores animados. Ainda que algumas animações pudessem ser mais fluidas, o conjunto mantém-se coeso e estiloso. A PS5 garante um desempenho fluido, sem quebras de framerate mesmo nos momentos mais caóticos, e tempos de carregamento curtos que mantêm o ritmo de jogo.

Som
A componente sonora segue a mesma linha de homenagem moderna. A banda sonora aposta fortemente no chiptune com batidas energéticas, captando na perfeição o espírito retro-futurista que o jogo transmite. As músicas acompanham bem a ação, ajudando a manter a adrenalina elevada durante as sequências mais intensas. Os efeitos sonoros, desde os disparos às explosões e ruídos mecânicos, cumprem bem o seu papel, ainda que não tragam grande inovação. Há, no entanto, alguma repetição perceptível em sessões mais longas, tanto a nível musical como de efeitos, o que pode quebrar ligeiramente a imersão. Uma maior variedade sonora teria dado mais frescura à experiência, especialmente tendo em conta a natureza repetitiva do género.
Conclusão
Rusty Rangers consegue combinar dois géneros familiares – plataformas de ação e roguelike – num pacote que se sente distinto sem se tornar desarticulado. Não é o roguelike-plataformas mais inovador do mercado, mas apresenta uma base sólida que recompensa a persistência. A curva de dificuldade, por vezes demasiado abrupta, e a aleatoriedade contida podem afastar alguns jogadores, mas para quem aprecia desafios exigentes e um visual retro-polido, há aqui muitas horas de diversão.
É um jogo que presta homenagem ao passado sem deixar de se aproveitar das vantagens do presente, oferecendo combates intensos, personagens variadas e um mundo com personalidade. Para quem procura um regresso ao pixel art com um toque moderno e não tem medo de enfrentar um desafio, Rusty Rangers é uma viagem tão dura quanto satisfatória.