Análise: Snoopy & The Great Mystery Club

Há algo de especial no universo de Snoopy e do resto da turma dos Peanuts. Mesmo para quem não cresceu mergulhado nas tirinhas do Charles Schulz ou nas animações clássicas, há uma sensação quase imediata de conforto, de sorriso fácil, de calma. Snoopy é um daqueles personagens que parecem existir fora do tempo, sempre prontos para nos lembrar que a simplicidade e a imaginação podem ser suficientes para nos fazer sentir bem. Snoopy & The Great Mystery Club tenta exatamente isso: recriar este sentimento num videojogo moderno, pensado em primeiro lugar para um público jovem, mas capaz de arrancar sorrisos a qualquer adulto que tenha algum carinho pelo universo Peanuts.

Este é o primeiro jogo original da série em mais de uma década, publicado pela GameMill. A premissa é simples: Snoopy decide formar o seu próprio clube de detetives e resolver pequenos mistérios que surgem no bairro onde vivem Charlie Brown, Lucy, Linus e companhia. Não estamos perante grandes enigmas policiais ou histórias elaboradas, mas sim pequenas situações quotidianas que servem de base para uma aventura relaxada, pensada para ser acessível, acolhedora e sem complicações desnecessárias. Ao longo das horas que o jogo dura, fica claro que o objetivo nunca é desafiar o jogador, mas sim deixá-lo confortável. E, de forma surpreendente, o jogo consegue exatamente isso.

Jogabilidade

A jogabilidade de Snoopy & The Great Mystery Club é simples, muito direta e pensada para ser intuitiva. Controlamos Snoopy enquanto exploramos um pequeno mundo aberto que representa o bairro familiar dos Peanuts. Cada missão envolve ajudar um dos amigos de Snoopy a resolver um problema: encontrar um objeto perdido, desenterrar um item escondido, seguir pegadas ou descobrir quem deixou algo fora do lugar.

A mecânica mais marcante do jogo envolve as várias fantasias de Snoopy, que funcionam como pequenas classes com habilidades próprias. Por exemplo, ao vestir o traje de detetive, Snoopy ganha a capacidade de analisar pistas no ambiente, semelhantes ao modo de sentidos agudos em jogos como The Witcher. Já com a fantasia de pirata, pode usar uma pá para escavar áreas específicas do mapa. Outras roupas permitem realizar ações simples relacionadas com o progresso das missões. É uma forma leve de introduzir variedade, de manter alguma interação sem exigir do jogador qualquer domínio técnico.

Ao longo do jogo, surgem também pequenos minijogos, geralmente baseados em eventos rápidos (QTE). São fáceis, quase sempre muito curtos e servem sobretudo para quebrar o ritmo da exploração. Nada aqui é realmente difícil ou desafiante, e isso parece intencional. O jogo foi claramente desenhado para crianças e para ser jogado em conjunto com pais, irmãos ou famílias inteiras, sem pressão ou frustração.

A duração total do jogo é relativamente curta. Em poucas horas é possível ver tudo o que o jogo oferece. Não há uma grande quantidade de colecionáveis, embora existam alguns fatos adicionais e tiras de banda desenhada clássicas para desbloquear. A estrutura é leve, direta e sem pretensões, funcionando mais pela atmosfera do que pela profundidade.

Mundo e história

O mundo apresentado aqui é um retrato aconchegante do bairro dos Peanuts. Não existe drama, nem conflito sério, nem narrativas complexas. Em vez disso, o jogo tenta recriar a sensação de uma tarde tranquila de brincadeiras, onde pequenos problemas se resolvem com um sorriso e com um esforço leve de cooperação entre amigos.

A história é praticamente episódica: cada missão é um pequeno caso autossuficiente, envolvendo personagens como Charlie Brown, Sally, Peppermint Patty ou Woodstock. Estes pequenos momentos são acompanhados por diálogos simples, mas com a mesma inocência característica das tiras de Schulz. Não há qualquer cinismo ou ironia moderna, algo que muitos produtos atuais tentam introduzir. Há apenas um sentimento genuíno de bondade, o que contribui para a sensação geral de conforto.

A fidelidade ao espírito original é, provavelmente, o maior triunfo do jogo. Mesmo os jogadores que nunca tiveram grande ligação aos Peanuts conseguem perceber que o que está aqui é autêntico. Não tenta ser mais do que aquilo que é: um passeio agradável num mundo que quer ser gentil.

Grafismo

Visualmente, Snoopy & The Great Mystery Club é encantador. Apesar do orçamento modesto, a direção artística acerta exatamente no tom certo. O estilo visual aproxima-se do filme de animação dos Peanuts lançado há alguns anos, com modelos simples, mas expressivos, e cenários com cores suaves que reforçam o ambiente acolhedor.

Não é um jogo com grande detalhe técnico, nem pretende impressionar a nível gráfico. O que pretende é parecer genuíno, e nisso é exemplar. Snoopy move-se com animações fluidas e exageradas, preservando o humor físico clássico do personagem. A forma como cada fantasia altera pequenas expressões ou posturas é um toque de carinho que revela cuidado, mesmo com os recursos limitados envolvidos na produção.

O resultado é um jogo que pode não impressionar pela potência técnica, mas que deixa qualquer pessoa a sorrir. É o tipo de grafismo que aposta na identidade e não no realismo, e isso raramente falha num produto baseado em banda desenhada.

Som

O som complementa perfeitamente o resto do jogo. A banda sonora utiliza melodias suaves e descontraídas que evocam imediatamente as composições clássicas associadas aos Peanuts, especialmente as que fazem lembrar o icónico Linus and Lucy. A música cria um ambiente leve, caloroso e reconfortante.

As vozes também seguem o estilo do filme moderno, com interpretações que parecem ligeiramente desajeitadas, mas de forma intencional. Essa informalidade é precisamente o que se espera dos Peanuts, onde as crianças falam como crianças, sem pretensão ou dramatização artística.

No geral, o design de som reforça a intenção pacífica e encantadora do jogo. Talvez seja a área onde Snoopy & The Great Mystery Club mais brilha, contribuindo diretamente para a sensação de bem-estar que atravessa toda a experiência.

Conclusão

Snoopy & The Great Mystery Club não é um jogo profundo, nem longo, nem particularmente variado. Mas também nunca tenta ser. Tudo nele aponta para uma experiência calma, alegre e acessível, centrada no charme intemporal dos Peanuts. É um jogo ideal para crianças que estão a dar os primeiros passos em aventuras interativas, mas também funciona surpreendentemente bem como jogo relaxante para adultos que procuram algo leve depois de um dia cansativo.

O principal problema acaba por ser o preço, tendo em conta a sua curta duração. A experiência é adorável, mas termina cedo demais e deixa a sensação de que podia ter incluído mais conteúdo.

Ainda assim, para quem sente um sorriso involuntário ao ver Snoopy de chapéu de aviador ou sentado no telhado da sua casota, este jogo cumpre o que promete: faz-nos sentir bem. E isso, às vezes, é tudo o que precisamos.

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