Análise: The Fable: Manga Build Roguelike

The Fable: Manga Build Roguelike é um daqueles jogos que parecem estranhos à primeira vista mas que, quando percebemos a lógica por trás da sua estrutura, se revelam surpreendentemente inteligentes. Inspirado no universo criado por Katsuhisa Minami, o jogo pega no espírito estilizado da manga original e transforma-o num roguelike por turnos onde cada acção é literalmente um painel numa página. É uma proposta que mistura um conceito visual marcante com mecânicas tácticas bastante profundas, criando uma experiência que dificilmente se confunde com outro título do género. A sensação constante é a de estarmos a montar uma pequena narrativa de combate, página a página, onde cada decisão tem o mesmo peso de um quadro bem colocado numa banda desenhada de acção.

Jogabilidade
É na jogabilidade que The Fable: Manga Build Roguelike realmente brilha. Em vez de cartas, utilizamos painéis de manga, cada um ocupando formatos específicos e obrigando-nos a pensar não só na ordem das acções como no próprio espaço disponível na página. Os painéis são colocados numa grelha de 12 espaços, mas muitos têm formas irregulares, e isso muda completamente o ritmo do jogo. Há um lado quase de puzzle na criação da sequência ideal, respeitando a leitura da direita para a esquerda e de cima para baixo. A capacidade de ver uma pré-visualização do resultado antes de confirmar a jogada é essencial, porque bastam pequenos ajustes na ordem dos painéis para transformar uma jogada eficaz num desastre completo.

O jogo decorre numa linha horizontal com 11 posições. O jogador surge no centro, vulnerável tanto à curta distância como a ataques de longo alcance. Isto torna cada movimento importante, já que até mudar de direcção pode exigir um painel adicional, aumentando o custo de cada decisão. Há inimigos que avançam implacavelmente e outros que disparam de longe, e gerir o posicionamento em simultâneo com a construção do turno é uma combinação exigente mas gratificante.

As três personagens jogáveis também diferenciam profundamente o ritmo de cada run. Akira é o mais directo, com ataques simples e um estilo adequado a quem está a aprender. Yoko movimenta-se de forma elegante e fluida, atravessando inimigos e criando sequências quase coreografadas que dependem imenso de posicionamento. Suzuki é a mais técnica, dominando armas, status effects e bombas colocadas estrategicamente no campo. Estas diferenças fazem com que o jogo tenha uma longevidade surpreendente para um roguelike tão focado no micro-posicionamento.

Mundo e história
Embora The Fable: Manga Build Roguelike não se foque numa narrativa tradicional, o jogo respira o ambiente da obra original. Há uma sensação permanente de precisão assassina e humor seco, própria do universo de Minami. O jogo não tenta contar uma história longa, mas evoca o tom da manga através da estética dos painéis, da postura das personagens e do modo como cada acção é representada como uma vinheta. Em vez de diálogo ou cutscenes, o jogo aposta na fusão entre mecânica e estilo, deixando que o jogador crie uma espécie de micro-história em cada run, algo que resulta especialmente bem para quem conhece o material original.

Grafismo
O aspecto visual é uma das maiores forças do jogo. A decisão de representar as acções como painéis de manga dá-lhe uma identidade imediatamente reconhecível e um estilo que realmente importa na jogabilidade. As animações são rápidas e diretas, com golpes secos e disparos precisos que condizem com a natureza pragmática das personagens. Os menus e interfaces seguem o mesmo espírito, sempre com foco na clareza, mesmo quando a página está cheia de painéis de diferentes formatos. O campo de batalha horizontal pode parecer simples, mas é limpo, funcional e transmite exactamente o que é necessário para planear cada turno.

Som
O design sonoro complementa o visual sem roubar o protagonismo. Cada ataque, disparo ou explosão possui um impacto satisfatório, reforçando a ideia de precisão e letalidade que define o universo The Fable. A banda sonora mantém-se discreta mas eficaz, criando um ambiente tenso e subtil, sempre presente mas nunca intrusiva. O som acaba por funcionar mais como reforço táctico do que como elemento dramático, o que combina bem com o estilo metódico do jogo.

Conclusão
The Fable: Manga Build Roguelike é uma das experiências roguelike mais distintas dos últimos anos. A mistura de construção de ações com painéis de manga e combate por turnos cria algo fresco, tático e visualmente memorável. A curva de aprendizagem é real, especialmente quando começamos a gerir painéis de formas complexas ou personagens mais técnicas como Suzuki, mas o jogo recompensa cada minuto investido. Para fãs de roguelikes que procuram algo verdadeiramente diferente, ou para quem gosta do universo The Fable e deseja vê-lo reinterpretado num formato interactivo, este título é uma aposta segura. É estiloso, desafiante e surpreendentemente profundo, provando que ainda há muito espaço para inovação dentro do género.

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