The Great Villainess: Strategy of Lily é uma proposta peculiar no género de estratégia por turnos, desenvolvida pela One or Eight em parceria com a Alliance Arts, que também assume a publicação. Baseado no popular subgénero de manhwa e manga centrado em vilãs, o jogo aposta numa mistura entre jogabilidade estratégica tradicional e um enredo inspirado nas narrativas mais dramáticas do universo anime. A ideia de colocar o jogador no papel de uma protagonista moralmente ambígua é refrescante, sobretudo porque a apresentação, a caracterização e a atmosfera assumem um estilo visual e sonoro bastante marcante. Apesar de algumas limitações técnicas, especialmente no que toca à banda sonora, o título consegue criar uma identidade própria e distinta, oferecendo um conjunto de mecânicas e elementos narrativos que o afastam do lugar-comum.
Desde o primeiro contacto, é evidente a forte inspiração anime, visível no traço das personagens e na forma como o enredo é conduzido. A história, as interações e até o ritmo das cenas têm a cadência de uma obra ilustrada japonesa ou coreana, e a forma como estas se articulam com o sistema de jogo dá origem a uma experiência imersiva para quem aprecia o género. Ao mesmo tempo, há um cuidado especial na forma como o mapa e os cenários são apresentados, oferecendo detalhes suficientes para satisfazer quem gosta de ambientes pixelizados com personalidade.
Jogabilidade
Na sua base, The Great Villainess: Strategy of Lily segue o modelo clássico de estratégia por turnos: o jogador movimenta unidades no mapa, posiciona-as para controlar zonas-chave e procura aproveitar ao máximo os recursos e a geografia do campo de batalha. O posicionamento é vital, tanto para proteger áreas estratégicas como para criar emboscadas e enfraquecer o avanço inimigo. Como em qualquer título do género, pontos de estrangulamento no terreno podem ser decisivos para travar ondas de adversários ou concentrar a força ofensiva.
O que distingue este jogo da concorrência é a sua mecânica única ligada à aeronave da protagonista. A partir dela, o jogador pode ativar a função de transmissão, um conjunto de habilidades especiais que permite capturar comandantes inimigos ou prejudicar a movimentação das forças adversárias. Estas competências variam de impacto conforme a situação e a capacidade do jogador em gerir as suas tropas, mas algumas podem virar completamente o rumo de uma batalha. Entre as opções mais interessantes está a possibilidade de bloquear temporariamente o avanço inimigo ou interromper as suas linhas de abastecimento, criando oportunidades preciosas para ganhar vantagem.
No entanto, este sistema traz consigo um risco calculado. A aeronave consome energia para manter as transmissões ativas, e um mau planeamento pode deixar o jogador vulnerável, criando situações críticas que podem levar a uma derrota rápida. É um equilíbrio constante entre agressividade e prudência, e essa gestão torna-se uma das camadas mais envolventes da jogabilidade. O jogo conta ainda com um sistema de auto-save por turno, permitindo corrigir erros recentes, além das gravações manuais tradicionais.

Mundo e história
O universo de The Great Villainess: Strategy of Lily é moldado pelo subgénero das vilãs, que tem ganho destaque nos últimos anos em narrativas ilustradas asiáticas. Aqui, o jogador assume o papel de uma protagonista feminina carismática, forte, mas com traços de personalidade menos admiráveis, que desafiam a empatia imediata e obrigam a uma leitura mais complexa das suas ações. Trata-se de uma anti-heroína com motivações próprias, que se movimenta num enredo onde intriga política, conflitos estratégicos e relações de poder se entrelaçam.
A narrativa não se limita a contar a história da vilã — integra também surpresas e reviravoltas que desafiam as expetativas e que aprofundam a perceção de cada personagem. A presença de dobragem de voz contribui significativamente para dar vida aos diálogos, transmitindo emoções e nuances que seriam difíceis de captar apenas através do texto. Esta abordagem reforça a ligação entre jogador e personagens, e ajuda a compreender melhor as intenções, medos e dilemas morais que movem a protagonista e os seus aliados ou inimigos.
O mapa do mundo é representado de forma detalhada e com um estilo pixelizado cativante, servindo não apenas como pano de fundo para as batalhas, mas também como um elemento narrativo que transmite informações sobre a geografia, a cultura e a escala do conflito.
Grafismo
A direção artística de The Great Villainess: Strategy of Lily está a cargo de Rolua, um artista japonês reconhecido pela sua habilidade em criar composições visualmente ricas. O seu trabalho destaca-se pelo uso inteligente de tons e pela forma como atribui a cada personagem um design único, refletindo a sua personalidade e papel na história. Embora o estilo possa parecer ligeiramente esboçado em algumas áreas, essa característica confere-lhe um charme próprio e até uma sensação de movimento que se encaixa bem no tom narrativo.
O contraste entre as personagens detalhadas e o mapa pixelizado resulta num equilíbrio estético interessante, mantendo o foco nas figuras centrais sem descurar a imersão do cenário. O mundo, mesmo em escala reduzida, consegue transmitir uma sensação de autenticidade e coerência visual. Pequenos detalhes nas texturas e nas cores ajudam a criar a ilusão de profundidade, enquanto o uso consistente da paleta cromática reforça a identidade visual do jogo.

Som
A banda sonora está a cargo de U2 Akiyama, conhecido pelo seu trabalho na série Touhou, e é um dos elementos que mais contribui para a atmosfera de The Great Villainess: Strategy of Lily. Apesar de ser relativamente curta em número de faixas, a qualidade é elevada e as composições têm a capacidade de adaptar-se a diferentes momentos de jogo. U2 Akiyama demonstra uma habilidade especial em modificar ligeiramente elementos de uma mesma música — seja alterando o tempo, seja trocando os instrumentos utilizados — para evitar que se torne repetitiva e para manter o impacto emocional quando necessário.
As peças musicais cumprem o papel de reforçar as tensões narrativas, acentuar as vitórias e intensificar os momentos de perigo. A dobragem de voz é outro destaque importante, elevando o peso dramático de várias cenas e proporcionando uma maior ligação às personagens. A combinação de música e voz cria uma experiência auditiva coesa que acompanha o jogador desde a introdução até aos momentos finais.
Conclusão
The Great Villainess: Strategy of Lily é um título que consegue diferenciar-se num género competitivo graças à sua abordagem temática e à integração equilibrada entre narrativa, jogabilidade e apresentação audiovisual. A mistura entre estratégia por turnos e mecânicas únicas como a transmissão a partir da aeronave confere-lhe frescura e desafia o jogador a pensar de forma táctica, enquanto o enredo oferece uma perspetiva menos convencional, colocando a vilã no centro da ação.
O trabalho de Rolua na arte e de U2 Akiyama na música ajuda a consolidar uma identidade forte, capaz de agradar tanto a fãs de anime como a jogadores que procuram uma experiência de estratégia diferente. Apesar de algumas limitações, como a curta duração da banda sonora ou o estilo artístico que pode não agradar a todos, o conjunto funciona bem e mantém a coesão ao longo de toda a campanha.
Para quem gosta de histórias intensas, personagens complexas e sistemas de combate que recompensam a planificação, este é um jogo a considerar seriamente. É uma proposta sólida, com personalidade, e que demonstra como a criatividade pode revitalizar fórmulas tradicionais. Para os fãs de anime que têm dificuldade em encontrar um jogo de estratégia que explore este tipo de temática, The Great Villainess: Strategy of Lily é uma escolha recomendada e que facilmente se torna memorável.