Sanatorium – A Mental Asylum Simulator é um daqueles títulos que, à primeira vista, pode causar estranheza. O próprio nome parece sugerir algo insensível ou até humorístico em relação à saúde mental. No entanto, o jogo da Zeitglas prova rapidamente que a sua abordagem é séria, pensada e carregada de intenção. Aqui encontramos um simulador baseado em cartas onde ética, observação e paciência são fundamentais. Assumimos o papel de um jornalista falhado que se infiltra num asilo para tentar encontrar alguém do seu passado, ao mesmo tempo que gere pacientes reais, com sintomas complexos e problemas distintos. O resultado é um jogo lento, profundo e moralmente desafiante.
Jogabilidade
A jogabilidade assenta no uso de cartas que representam exames, sintomas e tratamentos. Todos os dias chegam novos pacientes, cada um com um pequeno histórico e alguns sinais iniciais. O jogador deve realizar testes para desvendar sintomas e perceber que área do cérebro está a ser afetada. As quatro categorias principais são Impetus, Ratio, Memoria e Mania, correspondendo a impulsos, raciocínio, memória e criatividade. Cada diagnóstico correto gera rendimento, que pode ser usado no fim do dia para adquirir novos métodos de análise ou novos tratamentos. O processo é exigente, mas torna-se progressivamente mais intuitivo. Existe também um guia que vai registando os sintomas descobertos e as síndromes associadas, ajudando a afinar decisões e a evitar erros graves.

Mundo e história
A narrativa decorre nos anos 1920, numa altura em que a saúde mental era frequentemente mal compreendida e tratada com pouca humanidade. Enquanto gerimos pacientes, tentamos manter a nossa identidade em segredo para investigar aquilo que realmente acontece no asilo. Algumas figuras, como o Dr. Bertham, escondem segredos e têm motivações próprias, obrigando o jogador a equilibrar o dever profissional com a investigação pessoal. Decisões éticas surgem constantemente: seguimos o regulamento para manter a cobertura ou arriscamos tudo para ajudar pacientes que pedem auxílio?
Grafismo
Visualmente, Sanatorium aposta num estilo simples, sóbrio, quase documental. Não há grandes efeitos, nem tenta impressionar pelo espetáculo. Este minimalismo funciona a favor da atmosfera, criando um ambiente opressivo, frio e silencioso. Os menus, fichas clínicas e cartas são claros e fáceis de interpretar, mesmo quando o número de informações aumenta. A estética reforça o tom histórico e o desconforto natural do tema.

Som
A banda sonora é discreta e serve apenas para reforçar a sensação de isolamento. Pequenos sons ambientais, passos longínquos e murmúrios indefinidos ajudam a criar tensão. Nada aqui é extravagante, mas a subtileza contribui para o peso emocional das decisões e do ambiente hospitalar.
Conclusão
Sanatorium – A Mental Asylum Simulator é uma abordagem rara e respeitosa ao tema da saúde mental num videojogo. Mais do que diagnosticar e tratar, este é um jogo sobre tomada de decisões difíceis, sobre moralidade e sobre como a verdade nem sempre é conveniente. Pode ser denso e não é um título para todos, mas para quem aprecia simulações complexas e narrativas carregadas de significado, este é um dos projetos mais interessantes e originais do género.