Antevisão: Therapy Simulator

Therapy Simulator é um daqueles jogos que não se preocupa muito em fazer uma representação fiel ou profunda daquilo que retrata. Em vez disso, abraça a comédia, a estranheza e a leveza, colocando-nos no papel de um terapeuta pouco convencional que lida com pacientes ainda mais improváveis. É um conceito que, à primeira vista, parece curioso. Afinal, a saúde mental é um tema sensível, e qualquer obra que toque nesse campo corre o risco de soar desrespeitosa ou superficial. No entanto, Therapy Simulator opta desde o primeiro minuto por deixar claro que estamos perante uma caricatura, uma sátira de consultório, algo mais próximo de uma comédia absurda do que de um simulador real.

A própria demo estabelece este tom de forma imediata: antes sequer de ver pacientes, o jogo permite-nos simplesmente carregar no botão do elevador e acabar o dia. É uma piada simples, mas eficaz, que define o espírito geral da experiência. Aqui, o trabalho de terapeuta não é retratado como uma missão importante, cheia de responsabilidade ética e emocional. É apenas mais uma rotina, com momentos estranhos, interações bizarras e recompensas completamente arbitrárias. Therapy Simulator sabe que é absurdo, e não tenta ser mais do que isso. O resultado é um jogo que se assume como comédia interativa, sem grandes pretensões, mas com potencial para divertir quem aprecia humor surreal.

Jogabilidade

A jogabilidade em Therapy Simulator é extremamente simples, por vezes até minimalista. Entramos no consultório, movemo-nos entre a sala de espera, o sofá onde os pacientes aguardam, e a sala de terapia propriamente dita. As interações são praticamente reduzidas a clicar em objetos ou pessoas, e escolher respostas em diálogos. Não há mecânicas complexas, não há sistemas profundos de avaliação psicológica, nem qualquer tentativa de simular abordagens terapêuticas reais. Ao contrário de jogos como Two Point Hospital, que misturam humor com gestão sólida, aqui a gestão é reduzida ao essencial: escolher a ordem das consultas e ganhar dinheiro à medida que o dia avança.

Uma das mecânicas mais curiosas é a atribuição de XP por ações triviais, como acender a luz. Isto não só reforça o tom cómico como contribui para um ritmo muito leve, quase preguiçoso. Os pacientes chegam, sentam-se, clicamos neles, escolhemos respostas e no fim recebemos pagamento. É possível reorganizar sessões, alterar prioridades ou simplesmente ignorar quem está à espera e acabar o dia. Não existe penalização moral, emocional ou profissional. O jogo não quer criar dilemas, quer criar situações engraçadas.

Mundo e história

Não há propriamente uma história com grande desenvolvimento ou transformação pessoal. O consultório é um pequeno mundo onde circulam figuras bizarras, desde o indivíduo que acredita ser um cavalo famoso até alguém obcecado por teorias incomuns. Cada paciente é mais uma fonte de humor do que uma pessoa com profundidade. Os diálogos reforçam esta ideia: é comum recebermos respostas desconexas, confissões esdrúxulas ou momentos de puro absurdo.

O mundo de Therapy Simulator parece existir num universo onde todos os envolvidos são um pouco estranhos, incluindo o protagonista. Não há grande construção narrativa, mas existe coerência na forma como o humor é apresentado. Tudo o que acontece é deliberadamente sem filtro, exagerado e quase auto-paródico. Isto torna o jogo fácil de entrar e sair, mas limita também a ligação emocional que o jogador pode criar. É uma experiência episódica, leve, pensada para sessões curtas.

Grafismo

Visualmente, Therapy Simulator não pretende impressionar. As animações são simples, muitas vezes rígidas, e os cenários são minimalistas. Há um certo charme no estilo algo cartoonizado, mas não é um jogo que se destaque pela apresentação visual. A forma como os pacientes entram, sentam-se e se levantam quase imediatamente acaba por reforçar o lado cómico involuntário da experiência, como se todos estivessem presos num ciclo estranho e automatizado.

Apesar disso, o ambiente é funcional. O consultório tem personalidade suficiente para não parecer genérico, e a paleta de cores transmite uma sensação ligeiramente surreal, como se algo não estivesse totalmente certo naquele espaço. O grafismo serve o tom humorístico e pouco sério do jogo, mas dificilmente ficará na memória.

Som

O design sonoro segue a mesma lógica da apresentação visual. Música discreta, efeitos simples, vozes ausentes ou reduzidas a murmúrios estilizados. Não há grande tentativa de criar atmosfera emocional, apenas suporte funcional à experiência. O silêncio, de certa forma, até reforça o desconforto cómico do jogo: estamos ali, com alguém a partilhar algo estranho, e não há música dramática, nem expressões vocais, apenas a situação nua e crua. É um humor seco.

Conclusão

Therapy Simulator é um jogo que sabe exatamente o que é. Não tenta ensinar, não tenta explorar a saúde mental de forma cuidada, não tenta recriar o ambiente real de um consultório. É uma comédia absurda com mecânicas simples, diálogos exagerados e paciência zero para seriedade. Para quem procura algo leve, descontraído e nonsense, pode ser uma pequena surpresa divertida. Para quem espera profundidade, reflexão ou um verdadeiro simulador, será inevitavelmente dececionante.

A sua força está no humor. A sua fraqueza está também no humor. Tudo depende de quem está ao comando.

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