Análise: Elden Ring Nightreign: The Forsaken Hollows

Elden Ring Nightreign sempre foi um projecto estranho dentro do catálogo da FromSoftware. Um desvio claro da estrutura clássica dos Soulslike, apostando antes num modelo mais fechado, assente em runs, cooperação obrigatória e numa progressão pensada para sessões repetidas, quase roguelike. Nightreign dividiu opiniões, mas acabou por encontrar o seu público, especialmente entre jogadores dispostos a aceitar a ideia de Elden Ring como uma experiência mais contida, focada no trabalho de equipa e na repetição consciente. O sucesso comercial acabou por justificar a chegada de um DLC de peso, e é precisamente aí que entra The Forsaken Hollows.

Esta expansão não tenta reinventar Nightreign nem corrigir radicalmente as suas decisões mais controversas. Em vez disso, aposta numa abordagem conservadora: mais conteúdo, novos desafios e uma nova variação do mapa central. Para quem gostou da experiência base, The Forsaken Hollows surge como uma extensão natural, quase inevitável. Para quem esperava uma reinterpretação profunda da fórmula, à imagem de experiências mais transformadoras como Mooncrash ou Shadow of the Erdtree, o impacto poderá ser bem mais morno.

The Forsaken Hollows acrescenta dois novos Nightlords, uma nova condição de terreno que altera profundamente Limveld, inimigos inéditos, bosses regressados de outros jogos da FromSoftware e duas novas personagens jogáveis. É um pacote respeitável, claramente desenhado para jogadores já familiarizados com Nightreign, mas também revela algumas limitações difíceis de ignorar, sobretudo quando se começa a notar a repetição e a falta de variedade estrutural.

Jogabilidade

A base jogável de Nightreign mantém-se praticamente intacta em The Forsaken Hollows. Continuamos a entrar em Limveld em ciclos nocturnos, a explorar, a recolher recursos, a optimizar builds temporárias e a preparar-nos para os confrontos finais de cada noite. A grande novidade está na introdução da condição Shifting Earth, que transforma o mapa numa vasta região subterrânea repleta de cristais, abismos profundos e pontes estreitas que exigem atenção constante.

Esta nova versão de Limveld consegue, pelo menos inicialmente, dar a sensação de um mapa completamente diferente. A verticalidade é muito mais acentuada, os caminhos são menos intuitivos e os erros de posicionamento são frequentemente punidos com quedas fatais. Nos primeiros runs, é comum morrer mais por desconhecimento do terreno do que propriamente pelos inimigos, o que reforça aquela sensação clássica de aprendizagem pela dor tão característica da FromSoftware.

Com o tempo, no entanto, The Forsaken Hollows revela-se fiel ao espírito de Nightreign. A memorização dos percursos, a identificação de rotas mais seguras e a gestão eficiente do tempo acabam por tornar o mapa bastante mais previsível. Ainda assim, é inegável que esta zona subterrânea é mais punitiva do que Limveld original, exigindo um nível de concentração constante, especialmente quando jogado em cooperação.

A recomendação de levar um grupo pré-formado é ainda mais relevante aqui. Nightreign nunca foi particularmente amigável para matchmaking aleatório, devido à ausência de chat de voz e às limitações do sistema de pings. Em The Forsaken Hollows, essa fragilidade é ainda mais evidente. A complexidade do mapa e a dificuldade dos bosses exigem coordenação real, decisões rápidas e um mínimo de estratégia partilhada. Jogar com desconhecidos continua a ser possível, mas torna-se rapidamente frustrante.

Mundo e história

Narrativamente, The Forsaken Hollows não procura contar uma história complexa ou profundamente ramificada. Tal como o jogo base, aposta numa narrativa ambiental, fragmentada e cheia de sugestões subtis. A nova área subterrânea é um excelente exemplo disso. Os cristais gigantes, as ruínas enterradas e as criaturas que ali habitam sugerem um passado esquecido, um mundo soterrado tanto física como simbolicamente.

Os novos Nightlords encaixam bem neste imaginário. Um deles aposta num confronto de grupo, obrigando os jogadores a interpretar padrões, gerir múltiplas ameaças e reagir a ataques coordenados. O outro é um duelo mais clássico, directo e brutal, evocando os combates mais tradicionais da série Souls. Ambos reforçam a ideia de entidades antigas, corrompidas ou esquecidas, que dominam estes espaços subterrâneos.

Os bosses regressados de outros títulos da FromSoftware funcionam como fan service evidente, mas também como peças narrativas recicladas. Embora seja interessante voltar a enfrentar inimigos familiares em novos contextos, a falta de explicação ou recontextualização mais profunda acaba por tornar estas presenças algo gratuitas. Para jogadores menos atentos à lore, estes confrontos surgem apenas como desafios mecânicos, sem grande peso narrativo. As duas novas personagens jogáveis também trazem pequenas pistas narrativas, embora de forma muito superficial. A Undertaker sugere uma ligação mais directa à morte e ao sacrifício, enquanto o Scholar parece representar uma abordagem mais racional e estratégica a este mundo em ruínas. No entanto, estas ideias nunca são plenamente exploradas, ficando mais como conceitos interessantes do que elementos narrativos verdadeiramente desenvolvidos.

Grafismo

Visualmente, The Forsaken Hollows é um DLC bastante competente. A nova área subterrânea destaca-se pelo uso intensivo de cristais luminosos, que criam contrastes interessantes com a escuridão envolvente. A iluminação é usada de forma inteligente, guiando o olhar do jogador e ajudando a distinguir caminhos, perigos e pontos de interesse, mesmo em ambientes visualmente densos.

A arquitectura das zonas subterrâneas segue a tradição da FromSoftware, com estruturas imponentes, ruínas colossais e uma sensação constante de decadência. Há um equilíbrio eficaz entre espaços amplos e áreas mais claustrofóbicas, o que ajuda a manter o ritmo da exploração e a variar a experiência visual ao longo das runs. Os novos inimigos e bosses apresentam um nível de detalhe consistente com o jogo base. As animações continuam a ser um ponto forte, especialmente nos Nightlords, cujos ataques são claros, legíveis e visualmente impressionantes, mesmo quando o ecrã está cheio de efeitos e múltiplos jogadores. Ainda assim, nota-se que muitos modelos são reutilizações ou variações de inimigos já conhecidos, o que contribui para a sensação geral de repetição.

Em termos técnicos, o desempenho mantém-se estável na maior parte do tempo, pelo menos em PC. Há momentos de maior carga visual durante confrontos mais caóticos, mas nada que comprometa seriamente a jogabilidade. The Forsaken Hollows não eleva significativamente o patamar técnico de Nightreign, mas também não o desilude.

Som

O trabalho sonoro em The Forsaken Hollows mantém o elevado padrão habitual da FromSoftware. A banda sonora aposta em temas atmosféricos, mais contidos durante a exploração, e explosivos nos confrontos com bosses. A música consegue intensificar a sensação de perigo constante e reforçar o peso dramático dos momentos-chave, sem nunca se tornar intrusiva.

Os efeitos sonoros são particularmente importantes nesta expansão. O som de cristais a partir, passos ecoantes em cavernas profundas e o rugido distante de criaturas ajudam a criar uma sensação de espaço e profundidade muito eficaz. Em alguns casos, o áudio serve mesmo como aviso de perigos iminentes, recompensando jogadores atentos.Os novos bosses beneficiam de um design sonoro forte, com ataques bem sinalizados e identidades acústicas distintas. Mesmo os inimigos regressados ganham nova vida através de contextos sonoros diferentes, o que ajuda, ainda que parcialmente, a disfarçar a reutilização de conteúdo.

A ausência de chat de voz integrado continua a ser uma decisão discutível. Em conteúdo tão exigente como The Forsaken Hollows, a comunicação verbal faria uma diferença enorme. A dependência exclusiva de pings limita a profundidade estratégica e contribui para a frustração em grupos menos coordenados.

Conclusão

Elden Ring Nightreign: The Forsaken Hollows é um DLC competente, sólido e claramente pensado para quem já aprecia a experiência base. A nova área subterrânea é atmosférica, desafiante e visualmente marcante, os novos Nightlords oferecem confrontos memoráveis e as novas personagens trazem alguma variedade ao elenco jogável. Há muito para gostar aqui, sobretudo para jogadores que procuram mais Nightreign, puro e simples.

No entanto, é impossível ignorar as suas limitações. A falta de novos equipamentos reduz significativamente o espaço para experimentação e theorycrafting, um dos aspectos mais interessantes do jogo base. A reutilização frequente de bosses acaba por tornar as runs previsíveis mais depressa do que seria desejável, e a dificuldade, por vezes exagerada, pode afastar jogadores menos pacientes. The Forsaken Hollows não é uma expansão transformadora. Não redefine Nightreign nem corrige os seus problemas estruturais mais profundos. É, acima de tudo, uma extensão conservadora, que acrescenta mais conteúdo sem mexer na fundação. Para quem gostou de Nightreign, é uma desculpa válida para regressar a Limveld e enfrentar novos desafios. Para quem esperava uma reinvenção ousada, esta noite poderá não ser suficientemente memorável.

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