Fruitbus é um daqueles jogos que só poderiam nascer da vaga de experiências relaxantes que inundaram o mercado nos últimos anos. Criado para oferecer uma abordagem descontraída e quase sem qualquer pressão, é um título que se encaixa no conceito de cozy game. A proposta é simples: pegar na carrinha de fruta da avó e espalhar saladas, smoothies e alegria pelas ilhas Banamas. É um jogo ideal para quem procura algo sereno, perfeito para ser jogado nas noites frias ou quando se quer simplesmente desligar da rotina. Apesar de apresentar algumas falhas técnicas e de design, Fruitbus aposta numa experiência que valoriza o ritmo calmo e a liberdade do jogador.
Jogabilidade
A jogabilidade de Fruitbus assenta num ciclo bastante simples mas eficaz: recolher fruta, armazená-la no autocarro e preparar os pedidos dos habitantes das ilhas. As receitas vão desde saladas básicas de maçã e banana até smoothies mais complexos que podem incluir manga, cenoura ou até malaguetas. O jogo nunca obriga o jogador a cumprir um pedido específico, permitindo até rejeitar encomendas sem qualquer penalização. Isto reforça o caráter relaxante da experiência, já que o progresso pode ser feito ao ritmo de cada um.
Com o dinheiro obtido, é possível investir em melhorias para o autocarro, desde equipamentos funcionais como liquidificadores e fornos, até elementos decorativos que servem apenas para personalizar o espaço. Há também uma vertente de gestão de recursos: convém abastecer combustível, que felizmente é barato, e mais tarde é possível reforçar o motor e as rodas para explorar diferentes terrenos. As missões secundárias envolvem preparar pratos específicos ou encontrar objetos perdidos, embora algumas se revelem pouco claras ou até frustrantes devido à forma vaga como são apresentadas.

Mundo e história
O enredo de Fruitbus é minimalista, mas funciona no contexto em que se insere. Herdamos a carrinha da avó e partimos numa última viagem em sua honra, preparando a festa de despedida. As ilhas Banamas são o palco da aventura e, embora o jogo não tenha uma narrativa profunda, existe um esforço em criar pequenas histórias através das interações com os habitantes. Alguns são turistas ocasionais, outros moradores fixos com pedidos ou necessidades próprias, o que dá alguma variedade à exploração.
O mundo divide-se em três mapas distintos, desbloqueados à medida que se progride. Cada um introduz novos ingredientes e ferramentas de cozinha, como o forno ou novos recipientes. No entanto, apesar do charme da ideia, o design dos mapas peca por algum desleixo. É frequente encontrar objetos a flutuar ou áreas menos polidas, o que retira alguma imersão. Além disso, a gestão do reaparecimento de certos ingredientes, como as malaguetas, é exageradamente lenta, podendo obrigar o jogador a esperar longos períodos sem nada para fazer.
Grafismo
Visualmente, Fruitbus aposta num estilo low-poly com sombreado simples. É uma escolha que se enquadra no espírito descontraído do jogo, mas que revela algumas fragilidades técnicas. As sombras apresentam falhas constantes, com efeitos de cintilação visíveis mesmo em definições mais altas, e existem problemas ocasionais de iluminação, especialmente em áreas como o vulcão. Há ainda pequenos bugs visuais, como personagens a pairar no ar ou fumo e lava que desaparecem após carregar um jogo guardado.
Apesar destes problemas, o grafismo cumpre o mínimo necessário para transmitir a atmosfera leve e colorida do jogo. O autocarro pode ser personalizado e há algum carinho nos detalhes dos pratos preparados, mas a falta de polimento geral acaba por pesar, sobretudo porque os cenários são relativamente pequenos e se esperava mais cuidado no acabamento.

Som
O som em Fruitbus desempenha um papel essencial na criação de uma atmosfera calma. A banda sonora aposta em melodias suaves que acompanham bem o tom relaxante. Enquanto se conduz, há estações de rádio com músicas descontraídas que podem tocar mesmo com o veículo parado, dando sempre um fundo sonoro agradável. Este detalhe contribui bastante para a sensação cozy que o jogo procura oferecer.
Contudo, nem tudo é positivo. O som dos passos é particularmente irritante, repetindo-se com demasiada frequência, sobretudo quando se corre. Este pequeno detalhe torna-se surpreendentemente incomodativo com o tempo e poderia ter sido melhor trabalhado. Fora isso, os efeitos sonoros são funcionais e cumprem o seu papel, sem grandes destaques.
Conclusão
Fruitbus é, acima de tudo, uma experiência pensada para relaxar. Não há pressa, não há falhanços graves que impeçam o jogador de progredir e tudo é construído em torno da ideia de oferecer tranquilidade. No entanto, o jogo sofre com uma série de problemas técnicos e de design que impedem que seja mais do que um título apenas simpático. A lentidão excessiva no reaparecimento de certos ingredientes, as missões mal explicadas, os bugs visuais e o desempenho inconsistente, especialmente no Steam Deck, acabam por prejudicar a experiência.
Ainda assim, para quem procura apenas um jogo para desligar, preparar receitas coloridas e conduzir calmamente pelas ilhas, Fruitbus cumpre a sua promessa. Com mais polimento, correções de bugs e um maior cuidado no detalhe dos mundos, poderia ser um excelente cozy game. Como está, é uma proposta razoável, indicada para os fãs do género que sabem ao que vêm e estão dispostos a tolerar algumas falhas em troca de um ambiente acolhedor e descomprometido.