Análise: Hirogami

Hirogami é um jogo que, à primeira vista, parecia ter tudo para se destacar no mundo dos indies. Um conceito criativo baseado em origami, um estilo visual distinto e a promessa de uma experiência artística única. Desenvolvido pela Bandai Namco Studios Malaysia e Singapura e publicado pela Kakehashi Games, o jogo chega ao mercado com uma proposta que mistura ação, plataformas e puzzles, num mundo feito inteiramente de papel.

Com 18 níveis e várias mecânicas baseadas na transformação do protagonista em diferentes formas de origami, Hirogami parecia ser uma carta de amor ao género dos jogos de plataformas, com uma estética que chama imediatamente a atenção. No entanto, apesar de algumas boas ideias, a execução acaba por não estar à altura do conceito, deixando a experiência final abaixo do esperado.

Esta análise vai explorar em detalhe os pontos fortes e fracos do jogo, passando pela jogabilidade, mundo e narrativa, grafismo, som e, por fim, a conclusão sobre se Hirogami merece ou não o seu lugar na prateleira dos fãs de plataformas.

Jogabilidade

A jogabilidade de Hirogami é o seu ponto central e, ao mesmo tempo, o maior motivo de frustração. O jogo divide-se em 18 níveis, com uma duração total entre quatro a seis horas, dependendo da habilidade do jogador. Cada nível inclui seis desafios opcionais, como completar a fase sem sofrer dano, derrotar um número específico de inimigos ou concluir dentro de um tempo limite. Para quem gosta de colecionar e atingir os 100%, o tempo de jogo pode facilmente duplicar.

A principal mecânica gira em torno da capacidade de Hiro se transformar em diferentes formas de origami, cada uma com habilidades próprias. Há a forma de tatu-bola, que permite rolar rapidamente, semelhante a Sonic; a forma de sapo, que oferece saltos altos e grande mobilidade; e a forma de macaco, ideal para escalar e balançar em lianas. Estas transformações podem ser alternadas livremente, dando alguma liberdade ao jogador na forma como aborda os desafios.

Apesar desta variedade, a sensação geral é que o jogo não aproveita todo o potencial destas mecânicas. Embora algumas secções usem bem estas habilidades, a maior parte dos níveis acaba por ser demasiado simples, sem momentos memoráveis ou desafios verdadeiramente criativos. Além disso, os checkpoints estão mal distribuídos, o que, aliado a hitboxes pouco precisos, transforma partes do jogo numa experiência frustrante.

Outro problema significativo é a câmara fixa. Como não se trata de um sidescroller tradicional, a falta de controlo sobre a perspetiva resulta em mortes injustas, com saltos falhados por falta de noção de profundidade ou obstáculos que bloqueiam a visão. Esta limitação é particularmente evidente em puzzles cronometrados que exigem precisão, tornando algumas secções mais irritantes do que divertidas.

Mundo e história

O mundo de Hirogami é visualmente interessante, com tudo construído em papel e dobrado no estilo tradicional de origami. A história, no entanto, fica aquém do esperado, especialmente para quem procura uma experiência emocional, algo comum em indies deste tipo.

O enredo gira em torno de uma ameaça chamada The Blight, que corrompe criaturas e paisagens. Embora este conceito funcione para justificar a jornada, é bastante genérico e nunca chega a oferecer momentos marcantes. Há alguns personagens secundários, como um tatu-bola bebé à procura da família e uma macaca que deseja salvar o marido da corrupção, mas estas histórias não têm grande profundidade e acabam por não criar qualquer ligação emocional significativa.

O vilão principal só se revela mais tarde, trazendo algum interesse extra, mas mesmo esse momento não é suficiente para elevar a narrativa. No geral, Hirogami limita-se a ser funcional em termos de enredo, sem momentos realmente memoráveis ou mensagens impactantes.

Ainda assim, a ideia de um mundo feito inteiramente de origami é cativante e dá uma base sólida para uma eventual sequela, caso os desenvolvedores decidam expandir a história e explorar melhor o universo que criaram.

Grafismo

O grafismo de Hirogami é um dos seus pontos mais fortes, mas também uma das maiores desilusões, dependendo da perspetiva. À distância, o mundo de papel é encantador, com personagens e cenários que parecem saídos de um atelier de origami. Algumas criaturas têm designs criativos, como uma grua misteriosa que desempenha um papel importante na história.

Contudo, o jogo nunca chega a atingir a qualidade visual que os trailers sugeriam. Mesmo nas definições mais altas no PC, a imagem apresenta sempre uma ligeira falta de nitidez, parecendo turva ou desfocada. Isto impede que o estilo artístico brilhe por completo e reduz o impacto visual que se esperaria de um jogo com esta proposta.

Há também uma boa variedade de biomas, desde florestas a áreas mais sombrias e corrompidas, mas nenhum deles chega a ser verdadeiramente impressionante. O design de origami mantém-se consistente e agradável, mas falta-lhe aquele fator de “uau” que poderia ter tornado Hirogami memorável.

Em termos de desempenho, o jogo é estável na maioria das situações, embora tenha alguns problemas pontuais. O ecrã sofre de screen tearing frequente e, por vezes, o jogo não consegue reposicionar corretamente o jogador após a morte, obrigando a reiniciar o nível. Não são falhas graves, mas prejudicam a experiência.

Som

A banda sonora de Hirogami é adequada ao tema, com músicas calmas e harmoniosas que combinam bem com o mundo de papel e a estética do jogo. No início, estas faixas ajudam a criar uma atmosfera relaxante e agradável, mas rapidamente começam a tornar-se repetitivas, já que muitos níveis usam a mesma música repetidamente.

Os efeitos sonoros cumprem a sua função, mas não se destacam. Não há grande variedade, e em combates mais longos acabam por se tornar monótonos. No geral, o áudio de Hirogami não estraga a experiência, mas também não a eleva a um patamar superior.

Conclusão

Hirogami é um jogo que tinha potencial para ser algo especial, mas que acaba por falhar na execução. A ideia de um mundo feito de origami é visualmente apelativa, e as mecânicas de transformação de formas são interessantes. No entanto, problemas na jogabilidade, como checkpoints mal posicionados, hitboxes imprecisos e combates repetitivos, prejudicam fortemente a experiência.

O enredo é funcional, mas não envolvente, e a apresentação visual, apesar de charmosa, não atinge o impacto esperado devido a problemas de nitidez e design algo limitado. A banda sonora acompanha bem a estética, mas sofre de repetição.

Há aqui uma base que poderia ser trabalhada numa eventual sequela. Se os desenvolvedores conseguirem corrigir as falhas e expandir as boas ideias já presentes, Hirogami pode evoluir para uma série interessante e memorável. Neste momento, porém, trata-se de um jogo que só vale a pena para quem tem muita curiosidade pelo conceito ou procura uma experiência curta e diferente. Para a maioria dos fãs de plataformas, existem opções melhores e mais polidas disponíveis.

Hirogami não é um desastre, mas também não se destaca. É um título que deixa a sensação de que poderia ter sido muito mais do que aquilo que acabou por se tornar.

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