Os jogos de construção mais casuais têm sempre um desafio que vai além do ato de criar: a sua longevidade. Islands & Trains insere-se neste género e, à primeira vista, pode facilmente ser esquecido se o jogador não se sentir verdadeiramente cativado. Não há objetivos concretos, missões ou pressão. Tudo depende da imaginação e da vontade de criar. E, para quem se possa estar a perguntar, não é necessário ser um fã de comboios para apreciar o que o jogo tem para oferecer.
O objetivo em Islands & Trains é simples e direto: construir o teu próprio mundo, criar linhas ferroviárias e moldar terrenos à tua vontade. Não existem limites ou restrições além da tua criatividade. É um jogo que apela a quem gosta de liberdade total, oferecendo um ambiente relaxante e acolhedor para dar asas à imaginação. Publicado pela Future Friends Games, a mesma editora responsável por títulos como Gourdlets, SUMMERHOUSE e The Block, o jogo chega com a promessa de estar entre os melhores do género, ainda que levante algumas questões quanto à sua durabilidade a longo prazo.
A grande virtude de Islands & Trains está na sua simplicidade. É um jogo que, desde o início, coloca todas as ferramentas nas mãos do jogador, sem truques nem desbloqueios graduais. Isso pode ser visto como um ponto forte, por dar total liberdade, mas também como uma limitação, pois a falta de progressão pode retirar algum sentido de descoberta e motivação para continuar a jogar.
Jogabilidade
A experiência começa com um breve tutorial, que serve como introdução às mecânicas básicas. É rápido, intuitivo e, acima de tudo, pouco intrusivo. Em poucos minutos, o jogador fica pronto para explorar e construir à sua maneira. O jogo não impõe metas como criar a linha mais longa ou completar objetivos dentro de um limite de tempo. É, essencialmente, uma caixa de areia onde tudo é decidido pelo utilizador.
Nos primeiros momentos, é natural que se queira experimentar e colocar elementos de forma aleatória, apenas para ver o que funciona. Foi assim que comecei, criando uma pequena ilha com uma pista oval simples, acrescentando algumas elevações no terreno e, eventualmente, povoando a área com vacas, porcos e outros pequenos detalhes. O resultado inicial pode parecer modesto, mas é funcional e, acima de tudo, pessoal. O problema é que, após cerca de meia hora, senti que tinha feito tudo o que queria.
Este sentimento muda quando o jogo começa a despertar a curiosidade de ir mais além. Quando finalmente colocamos o comboio nos trilhos e puxamos a alavanca para o ver circular, há algo de hipnotizante no processo. Podemos observar o comboio à distância ou mudar para uma câmara de perseguição, aproximando ou afastando a visão através do scroll do rato. É uma experiência calma e quase meditativa, semelhante a observar um aquário ou simplesmente ficar a olhar pela janela a ver o movimento da rua.

Mundo e história
Como seria de esperar, Islands & Trains não tem uma narrativa propriamente dita. É um jogo puramente focado na construção e na liberdade criativa, onde o mundo existe unicamente para servir de tela às criações do jogador. Existem vários biomas disponíveis, como zonas com neve ou praias de areia, mas a variedade poderia ser maior. Seria interessante, por exemplo, poder misturar ambientes improváveis, como ter uma praia junto a uma montanha nevada, algo que atualmente não é possível.
Apesar disso, o mundo transmite uma sensação acolhedora. Tudo está pensado para ser relaxante e convidativo, incentivando a exploração e a construção sem pressões. Até os elementos decorativos, como pequenas casas, animais e áreas recreativas, contribuem para criar histórias próprias dentro do jogo, mesmo sem qualquer narrativa guiada.
Curiosamente, durante as minhas sessões, a família acabou por se juntar e também quis experimentar. Embora tenha havido alguma resistência inicial ao conceito de comboios, rapidamente perceberam o apelo da experiência. É fácil perder a noção do tempo a criar cenários e a ver o resultado ganhar vida.
Grafismo
O estilo visual de Islands & Trains é um dos seus maiores trunfos. A estética é simples, charmosa e visualmente agradável. As cores são suaves e equilibradas, criando um ambiente calmo e confortável. Cada elemento, desde os trilhos até aos animais, é desenhado com uma simplicidade que lembra jogos de construção clássicos, mas com um toque moderno.
Os modelos não são complexos nem realistas, mas funcionam perfeitamente dentro do estilo minimalista do jogo. A clareza visual torna tudo mais acessível, permitindo que o jogador se concentre na criação em vez de se perder em detalhes técnicos. Além disso, a performance é bastante estável, mesmo quando a área construída começa a ficar mais complexa.
Ainda assim, existe espaço para melhorias. A ausência de variedade em alguns elementos visuais, como terrenos e tipos de construções, pode levar a alguma repetição após várias horas de jogo. Mais opções de personalização ajudariam a prolongar a sensação de frescura e a motivação para continuar a criar.

Som
O som em Islands & Trains complementa perfeitamente a experiência relaxante que o jogo procura transmitir. A banda sonora é suave e discreta, ideal para acompanhar longas sessões de construção sem se tornar intrusiva. É música que se sente mais do que se ouve, funcionando como pano de fundo para a criatividade.
Os efeitos sonoros são igualmente simples, mas eficazes. O som do comboio em movimento, o clique ao colocar uma peça ou o barulho do terreno a ser moldado são pequenos detalhes que dão vida ao mundo. Não há exageros nem sons desnecessários, tudo é pensado para manter a atmosfera calma e imersiva.
No entanto, depois de algumas horas, a repetição torna-se evidente. Uma maior variedade na banda sonora e nos efeitos poderia enriquecer a experiência, evitando que se torne monótona a longo prazo.
Conclusão
Islands & Trains é um jogo que aposta na simplicidade e na liberdade total como principais argumentos. Não existem missões complexas, gestão de recursos ou desafios difíceis. O seu propósito é oferecer um espaço relaxante para criar, experimentar e, acima de tudo, descontrair. Para quem gosta de jogos de construção mais casuais, este título pode ser extremamente cativante.
Os pontos fortes estão no grafismo acolhedor, na jogabilidade intuitiva e na sensação quase meditativa de ver os comboios percorrerem os trilhos que criámos. No entanto, a falta de variedade em biomas e objetos, bem como a ausência de um sistema de progressão, podem limitar a longevidade para alguns jogadores.
É um jogo perfeito para sessões curtas ou para momentos em que se procura algo tranquilo e sem pressão. Islands & Trains não tenta reinventar o género, mas cumpre o que promete: um espaço virtual para construir o teu mundo ideal, sem restrições físicas ou complicações técnicas. Uma experiência simples, mas com um charme inegável, ideal para quem encontra beleza na criação pelo simples prazer de criar.