Análise: Project Motor Racing

Project Motor Racing surge com uma promessa muito clara: recuperar o espírito dos simuladores de corridas mais clássicos, focados na condução pura, longe de modelos free-to-play, passes de batalha ou dependência quase exclusiva do multiplayer. Para quem acompanhou a série Project CARS, especialmente o segundo capítulo, este novo título apresenta-se como um sucessor espiritual direto, ignorando quase por completo a viragem mais arcade e controversa de Project CARS 3. À partida, tudo parece alinhar-se com aquilo que muitos fãs de sim racing procuram: um vasto leque de carros de competição, pistas icónicas e um modo carreira centrado no percurso de um piloto profissional. No entanto, apesar das boas intenções e de algumas ideias interessantes, Project Motor Racing acaba por tropeçar de forma consistente na execução, oferecendo uma experiência que está perigosamente próxima de algo ainda em desenvolvimento.

Jogabilidade

A base da jogabilidade tem bons alicerces, sobretudo na forma como o modo carreira é estruturado. O jogo permite escolher entre diferentes orçamentos iniciais, dando liberdade para começar em categorias mais modestas ou avançar de imediato para classes superiores. Esta flexibilidade é bem-vinda e adapta-se a diferentes estilos de jogador. A possibilidade de manter vários ficheiros de carreira em paralelo também é um pormenor muito apreciável, facilitando experiências distintas ou a partilha do jogo com outras pessoas.

O sistema de recompensas é igualmente ajustável, permitindo optar por pagamentos fixos, bónus por vitórias ou até acordos em que os custos de reparação são cobertos em troca de uma fatia dos ganhos. É uma abordagem inteligente e funcional, mas infelizmente a vertente de gestão fica-se por aqui. Não existe personalização visual das equipas, nem criação de pinturas ou aplicação de patrocinadores, o que torna toda a progressão algo impessoal.

Quando entramos em pista, os problemas tornam-se impossíveis de ignorar. A inteligência artificial é, neste momento, o maior entrave à diversão. Os adversários comportam-se como se o jogador não existisse, seguindo a linha ideal de corrida sem qualquer respeito por carros lado a lado. Os contactos são constantes e quase sempre penalizadores para o jogador, enquanto a IA parece imune a qualquer impacto. A ausência de indicadores de proximidade ou de um spotter agrava ainda mais a situação, tornando as corridas caóticas e frustrantes.

O sistema de penalizações consegue ser ainda mais problemático. Qualquer saída ligeira de pista resulta numa penalização automática, independentemente de ter havido vantagem ou de a situação ter sido causada por um toque da IA. Dois segundos podem deitar por terra uma corrida inteira, especialmente quando se está a competir com tempos equilibrados. Em contraste com outros simuladores mais criteriosos, aqui o sistema é cego e implacável, chegando ao ponto de penalizar despistes completos onde o jogador já perdeu todo o tempo possível. O resultado é uma experiência que desencoraja a consistência e destrói o ritmo de corrida.

Mundo e história

Project Motor Racing não aposta numa narrativa tradicional, optando antes por uma abordagem mais realista e pragmática. O jogador assume o papel de um piloto profissional que gere a sua carreira evento a evento, campeonato a campeonato, tentando equilibrar resultados desportivos com sustentabilidade financeira. Esta filosofia funciona bem dentro do género e dispensa histórias forçadas ou personagens artificiais.

As pistas escolhidas são todas circuitos reais e bem conhecidos, num total de 18 localizações icónicas. A progressão passa por competir nessas pistas ao longo de várias categorias, com o objectivo simples e eficaz de vencer corridas e evitar a falência da equipa. É um enquadramento funcional, mas que poderia ganhar mais personalidade com elementos adicionais de contexto, como rivalidades, contratos ou eventos especiais. Tal como está, cumpre os mínimos, mas não deixa grande marca.

Grafismo

Visualmente, Project Motor Racing é competente, mas desilude quando analisado à luz das expectativas. Os modelos dos carros são detalhados nos menus e nas vistas estáticas, mas perdem impacto em pista. A imagem geral tende a ser algo deslavada, sem grande contraste ou sensação de profundidade, e está longe de parecer um salto geracional em relação a Project CARS 2, lançado vários anos antes.

Os efeitos climatéricos, em particular a chuva, são pouco impressionantes, tanto a nível visual como na forma como interagem com a pista. O modelo de danos também é bastante básico, não transmitindo o peso ou a violência dos contactos frequentes que ocorrem durante as corridas. Tudo funciona, mas raramente impressiona, o que é especialmente frustrante tendo em conta o foco assumido na simulação.

Som

O trabalho sonoro apresenta alguns pontos positivos, sobretudo na variedade de camadas que compõem os sons mecânicos dos carros. É possível ouvir diferentes componentes a trabalhar, o que ajuda a criar alguma imersão. Ainda assim, muitos motores carecem de mais presença e agressividade, faltando aquele impacto visceral que distingue os grandes simuladores.

Os efeitos ambientais e o som da pista são aceitáveis, mas nada memoráveis. Existe espaço claro para melhorias, sobretudo no equilíbrio geral e na identidade sonora de cada categoria. Um simulador de corridas vive tanto do som como da sensação ao volante, e aqui Project Motor Racing fica a meio caminho.

Conclusão

Project Motor Racing é um jogo cheio de intenções correctas, mas que falha em demasiados aspectos cruciais para ser recomendado no seu estado actual. A selecção de carros é interessante, com modelos raramente vistos noutros jogos modernos, e existem momentos em que a condução, especialmente com volante, consegue ser verdadeiramente satisfatória. A sensação de peso, a gestão dos pneus frios e a leitura do relevo da pista mostram que existe aqui uma base sólida.

No entanto, a inteligência artificial desastrosa, o sistema de penalizações injusto e a falta de polimento geral transformam cada corrida num teste de paciência. Em comando, a experiência é especialmente problemática, tornando o jogo praticamente inviável para quem não dispõe de volante. Neste momento, Project Motor Racing parece mais um acesso antecipado não assumido do que um produto finalizado.

Com tempo, atualizações e uma comunidade ativa de mods, é possível que este jogo venha a ocupar o espaço deixado por Project CARS 2. Para já, fica como uma promessa incompleta, incapaz de superar o seu antecessor e demasiado frustrante para sustentar uma carreira a longo prazo. Para os fãs de sim racing, a esperança mantém-se, mas a recomendação fica em suspenso.

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