Samurai Academy: Paws of Fury apresenta-se desde o primeiro contacto como um jogo assumidamente leve, colorido e bem-humorado. Não há aqui grandes pretensões de profundidade dramática ou sistemas complexos, mas sim uma aventura descontraída que aposta no charme, no caos controlado e numa identidade claramente pensada para um público familiar. Controlamos Hank, um cão samurai num mundo dominado por gatos, lançado numa missão para salvar várias aldeias espalhadas por um arquipélago vibrante, ameaçadas pelos exércitos felinos de um Shogun autoritário. Mesmo para quem não conhece o filme que serve de inspiração, o jogo consegue estabelecer rapidamente um tom acolhedor, com personagens expressivas e um universo que se explica a si próprio sem grande esforço.
Há algo de imediatamente simpático nesta premissa. A ideia de um cão deslocado num mundo de gatos é explorada com humor constante, mas também com uma certa ingenuidade que funciona bem no contexto. O jogo não tem medo de ser parvo quando é preciso, recorrendo a piadas visuais, diálogos exagerados e situações absurdas, mas fá-lo quase sempre com bom gosto. Essa leveza torna-se um dos seus maiores trunfos, ajudando a disfarçar algumas limitações técnicas e de design que, noutro tipo de jogo, seriam mais difíceis de perdoar.
Samurai Academy: Paws of Fury não tenta reinventar a roda. Em vez disso, combina várias ideias familiares num pacote acessível, tentando manter o ritmo através da variedade. Nem tudo funciona na perfeição, mas há uma honestidade na proposta que acaba por conquistar. É um jogo que sabe exactamente o que quer ser e não tenta fingir que é algo mais ambicioso do que realmente é.
Jogabilidade
A jogabilidade de Paws of Fury assenta numa estrutura surpreendentemente variada para um jogo desta escala. O núcleo da experiência divide-se em três grandes tipos de actividades: exploração de hubs semi-abertos, ataques de defesa ao estilo tower defense e desafios 2.5D focados em plataformas e reflexos. Esta alternância constante ajuda a evitar a monotonia e dá a sensação de que estamos sempre a fazer algo diferente, mesmo que os sistemas individuais sejam relativamente simples.
Nos hubs, exploramos aldeias e pequenas áreas abertas, falando com NPCs, aceitando missões secundárias, abrindo baús e gastando moeda em lojas. Estas secções são descontraídas e funcionam quase como momentos de respiração entre desafios mais intensos. Não há aqui grande complexidade, mas o suficiente para criar uma ligação ao mundo e às suas personagens. A movimentação de Hank é fluida na maior parte do tempo, permitindo correr, saltar e atacar com alguma liberdade, embora se note que a câmara exige um período de adaptação, sendo demasiado sensível em certas situações.
As missões de defesa são um dos elementos mais interessantes do jogo. Nestes momentos, somos chamados a proteger uma aldeia de vagas sucessivas de inimigos, colocando armadilhas, posicionando-nos estrategicamente e reagindo a ataques vindos de diferentes direcções. Não é um tower defense profundo, mas a combinação entre acção directa e planeamento ligeiro resulta bem. Existe uma satisfação genuína em preparar o terreno e depois ver os planos a funcionar, mesmo que o nível de desafio nunca seja particularmente elevado.
Já os desafios 2.5D, designados como provas de samurai, são talvez a parte mais problemática da jogabilidade. Aqui, o jogo exige precisão nos saltos, bom timing e reacções rápidas, muitas vezes colocando-nos a competir contra um adversário controlado pela inteligência artificial. O problema é que pequenos atrasos nos comandos e uma resposta menos imediata do que seria desejável acabam por tornar estas secções mais frustrantes do que deviam ser. Quando um jogo pede precisão, qualquer falha técnica torna-se imediatamente evidente, e é nestes momentos que Samurai Academy: Paws of Fury revela as suas fragilidades.

Mundo e história
O mundo de Samurai Academy: Paws of Fury é simples, mas eficaz. O arquipélago onde decorre a acção é composto por várias ilhas, cada uma com a sua identidade visual e pequenas variações temáticas. Desde aldeias acolhedoras a telhados sobrepostos que convidam à exploração vertical, o jogo consegue criar espaços que, apesar de não serem muito grandes, transmitem personalidade. Não é um mundo aberto no sentido tradicional, mas sim uma colecção de áreas interligadas que servem bem a narrativa e o ritmo da aventura.
A história segue uma estrutura bastante clássica. Hank é o herói improvável, inicialmente visto como um estranho, que acaba por ganhar o respeito das comunidades que ajuda. O vilão, o Shogun, é exagerado e caricatural, funcionando mais como um motor para a acção do que como uma figura complexa. Ainda assim, há coração suficiente na narrativa para manter o jogador investido. As relações entre personagens, mesmo quando superficiais, são apresentadas com calor e humor, reforçando o tom familiar do jogo.
As cutscenes, totalmente dobradas, apostam forte na comédia. Nem todas as piadas acertam, e há momentos em que o humor se torna repetitivo, mas no geral encaixa bem no espírito da experiência. O jogo não tenta ser emocionalmente pesado, preferindo uma abordagem leve que privilegia o entretenimento imediato. Para o público-alvo, esta simplicidade narrativa é provavelmente uma vantagem, tornando a história fácil de seguir e compreender.
Grafismo
Visualmente, Samurai Academy: Paws of Fury assume sem reservas a sua identidade cartoon. A paleta de cores é viva, com tons quentes e saturados que dão vida a cada cenário. Os modelos das personagens são expressivos e exagerados, reforçando o tom cómico da aventura. Não é um jogo tecnicamente impressionante, mas compensa com consistência estética e uma direcção artística clara.
Os ambientes, embora não muito detalhados, são variados o suficiente para evitar a sensação de repetição. As aldeias têm um ar acolhedor, os espaços de combate são legíveis e os desafios de plataformas utilizam bem a profundidade e as diferentes camadas do cenário. Tudo é desenhado para ser facilmente compreendido, o que vai ao encontro da filosofia acessível do jogo.
Existem, no entanto, alguns problemas técnicos que não podem ser ignorados. A câmara, como já referido, é um dos pontos mais fracos, com movimentos demasiado bruscos que por vezes dificultam a leitura da acção. Em secções mais exigentes, isto pode quebrar a fluidez da experiência. Ainda assim, na maior parte do tempo, o grafismo cumpre bem o seu papel, apoiando a jogabilidade e reforçando o tom leve e divertido.

Som
O trabalho sonoro em Samurai Academy: Paws of Fury é competente, embora pouco memorável. A banda sonora acompanha a acção de forma discreta, com temas animados que reforçam o espírito aventureiro sem nunca se tornarem intrusivos. Não há aqui músicas que fiquem na memória por muito tempo, mas também não há grandes falhas. O som cumpre a sua função, criando ambiente e ritmo.
A dobragem é um dos elementos mais destacados. As vozes das personagens são exageradas e cheias de energia, alinhando-se com o humor visual do jogo. Algumas interpretações podem parecer demasiado caricaturais, especialmente para jogadores mais velhos, mas para o público familiar funcionam bem. Os efeitos sonoros, desde os golpes de espada até aos sons dos inimigos, são claros e satisfatórios, ajudando a dar peso às acções de Hank.
No conjunto, o som não tenta roubar protagonismo, mas sim complementar a experiência. É um apoio constante que reforça a identidade do jogo sem nunca se impor demasiado.
Conclusão
Samurai Academy: Paws of Fury é um jogo que sabe jogar com as expectativas. Não é uma obra ambiciosa nem tecnicamente irrepreensível, mas oferece uma aventura simpática, variada e cheia de boa disposição. A combinação entre exploração, defesa e desafios de plataformas mantém a experiência dinâmica, e o tom leve torna-o especialmente apelativo para um público mais jovem ou para quem procura algo descontraído.
As falhas existem e são difíceis de ignorar em certos momentos. A câmara pouco cooperativa, alguns atrasos nos comandos e a falta de clareza na progressão podem gerar frustração, sobretudo quando o jogo exige mais precisão. Ainda assim, estes problemas raramente são suficientes para arruinar a experiência como um todo. Há um coração evidente em cada aspecto do jogo, desde o mundo colorido até às personagens caricatas.
Para o seu preço e proposta, Samurai Academy: Paws of Fury entrega mais do que aparenta à primeira vista. Não é um título para quem procura desafios intensos ou sistemas profundos, mas sim um jogo confortável, bem-humorado e genuinamente divertido. Abordado com as expectativas certas, é uma aventura acolhedora que cumpre o seu papel e deixa um sorriso no rosto.