Moonlighter 2: The Endless Vault chega em Acesso Antecipado com a difícil missão de seguir um dos roguelikes mais carismáticos da última década. O primeiro Moonlighter destacou-se pela forma inteligente como unia exploração noturna e gestão diurna, criando uma identidade própria num género saturado. A premissa era simples mas eficaz: aventurar-se para obter loot e depois gerir uma loja onde esse loot se transformava em lucro. Moonlighter 2 mantém esta alma capitalista, mas tenta elevá-la com novas mecânicas, um novo estilo visual e uma estrutura mais ambiciosa.
A sequela, porém, sofre inevitavelmente com as comparações. Ao apostar num visual 3D mais polido e numa jogabilidade mais expansiva, acaba por perder um pouco da magia artesanal que caracterizava o original. Mesmo assim, é um título com muito potencial e que, numa fase inicial, já apresenta uma quantidade considerável de conteúdo. Esta análise procura perceber aquilo que Moonlighter 2 acrescenta, aquilo que mantém e aquilo que eventualmente perde no processo.
Jogabilidade
A essência do ciclo de jogo permanece inalterada: explorar à noite, vender de dia. No entanto, tudo o que rodeia este ciclo recebeu alterações profundas. O combate, agora mais variado, permite equipar e melhorar vários tipos de armas com diferentes propriedades. Cada arma apresenta um ataque normal, um ataque leve e habilidades secundárias que ampliam o leque de estratégias. A isto juntam-se novos movimentos defensivos e até a possibilidade de usar uma arma de fogo, algo raro dentro deste universo.
Esta abordagem mais expansiva cria um combate com mais ritmo e impacto, mas também traz algumas fragilidades. O sistema, apesar de divertido, ainda se sente um pouco rígido e por vezes desajeitado, especialmente em áreas apertadas onde o cenário interfere no movimento. Existem situações em que o jogador fica preso entre elementos do ambiente, não porque errou, mas porque a geometria simplesmente não corresponde ao que aparenta. É um problema que não arruína a experiência, mas prejudica o fluxo de combate, essencial num roguelike.
A exploração mantém o seu propósito fundamental de recolher relíquias, materiais e receitas essenciais para a economia do jogo. Aqui Moonlighter 2 expande as opções de progressão: há mais missões secundárias, mais upgrades para desbloquear e mais decisões relacionadas com a loja. Além disso, grande parte do progresso exige quantidades generosas de materiais e dinheiro, obrigando o jogador a ponderar constantemente aquilo que vale mais a pena investir.
Esta camada de gestão e tomada de decisões funciona bem, tornando cada ciclo de exploração e venda significativo. A jogabilidade, mesmo com os seus tropeços técnicos, oferece uma base sólida que deverá melhorar conforme o Acesso Antecipado evolui.

Mundo e história
O universo de Moonlighter sempre teve uma identidade peculiar: um misto de fantasia leve com elementos económicos quase satíricos. Em Moonlighter 2, essa base mantém-se, mas o tom parece ligeiramente mais pragmático. O jogador tem como missão principal acumular uma grande quantidade de dinheiro para satisfazer um misterioso cubo espacial, que funciona como uma entidade que desbloqueia novas funcionalidades. É uma premissa curiosa e suficientemente estranha para se enquadrar no espírito da série.
O mundo expandiu-se, com mais personagens secundárias, mais missões e mais pequenas narrativas que ajudam a contextualizar a progressão do protagonista. No entanto, a mudança estética e a maior ambição visual fizeram com que o mundo perdesse um pouco do seu charme caseiro. Enquanto o primeiro jogo também tinha simplicidade no enredo, compensava isso com personalidade visual e uma atmosfera calorosa. Em Moonlighter 2, essa aura torna-se mais fria, talvez consequência direta da transição para 3D.
Mesmo assim, as missões secundárias mantêm-se interessantes, oferecendo pequenas histórias e objetivos que incentivam o jogador a aprofundar a exploração. Há também um maior foco em ensinar gradualmente sistemas, o que torna o jogo mais acessível sem perder profundidade.
Grafismo
A transição do pixel art para o 3D é, provavelmente, a decisão mais divisiva de Moonlighter 2. O primeiro jogo era visualmente encantador, com sprites detalhados e animações fluidas que conferiam uma alma vibrante à loja e às masmorras. A sequela opta por um estilo mais moderno, mais nítido e mais ambicioso, mas também mais estéril.
O novo estilo não é feio — muito pelo contrário — mas falta-lhe a personalidade artesanal do original. As cores são menos expressivas, o ambiente menos quente e a sensação geral é mais limpa do que acolhedora. Para muitos jogadores, esta mudança pode ser difícil de aceitar, sobretudo porque o pixel art era parte essencial da identidade do Moonlighter original.
Do ponto de vista técnico, o jogo apresenta alguns problemas. Certos elementos do cenário parecem ter hitboxes maiores do que o previsto, interferindo no combate e no movimento. Há ainda pequenos bugs visuais, como personagens invisíveis ou animações que param sem motivo aparente. São problemas relativamente menores, mas suficientes para quebrar a imersão num jogo que depende tanto da fluidez das runs.

Som
A banda sonora segue a linha do jogo original, com melodias suaves durante a gestão da loja e temas mais dinâmicos durante a exploração noturna. Não é tão memorável quanto a do primeiro jogo, mas cumpre o seu papel de acompanhar o ritmo de cada momento. Os efeitos sonoros receberam melhorias claras, com impactos mais satisfatórios no combate e sons distintivos para diferentes ações dentro da loja.
A mudança para um estilo visual mais limpo parece ter influenciado também o design sonoro, que agora soa mais polido, menos orgânico. É competente, mas talvez falte aquela identidade musical que fazia do primeiro Moonlighter um jogo tão carismático.
Conclusão
Moonlighter 2: The Endless Vault é uma sequela ambiciosa que procura expandir praticamente todos os aspetos do original. O combate é mais profundo, a progressão é mais detalhada, as atividades secundárias são mais numerosas e o peso das decisões económicas é maior. Em termos de conteúdo, é um passo claro em frente.
Contudo, nem todas as mudanças funcionam a favor do jogo. A perda do pixel art é sentida, reduzindo parte do charme que tornava o original tão especial. Os problemas técnicos que afetam o combate e o movimento precisam de ser resolvidos, especialmente num Acesso Antecipado que promete evolução contínua. O jogo é divertido, mas menos encantador, menos mágico.
Ainda assim, Moonlighter 2 demonstra grande potencial. Quem procura um roguelike com mais sistemas, mais opções e um foco acentuado em progressão encontrará aqui muito para explorar. E para os fãs de meta-grind, a sequela oferece precisamente o tipo de repetição recompensadora que pode prender durante dezenas de horas.
Se Moonlighter 2 conseguir resolver as suas arestas técnicas e reencontrar parte da sua alma perdida, poderá transformar-se numa sequela verdadeiramente memorável. Por agora, é uma boa base, sólida e promissora, à espera de brilho extra.