Book of Demons é um RPG de ação que se inspira fortemente nos primeiros jogos da série Diablo, mas opta por um estilo visual e mecânicas inovadoras que o tornam único. O jogo aposta numa abordagem simplificada ao género, mantendo a essência da exploração de masmorras e do combate contra hordas de inimigos, mas com um sistema de progressão baseado em cartas e um design que imita um livro pop-up. Apesar de ser um RPG, Book of Demons distingue-se pelo seu sistema de movimento peculiar e pela estrutura modular das suas sessões de jogo, permitindo aos jogadores escolherem a duração de cada incursão na masmorra.
Jogabilidade
A jogabilidade de Book of Demons apresenta várias diferenças em relação a outros RPGs do género. Em vez de permitir liberdade total de movimento, o jogo coloca o personagem num percurso definido dentro da masmorra. Este percurso pode ter diferentes ramificações, mas a navegação é limitada a avançar ou recuar nesse caminho. Os inimigos podem mover-se livremente, mas o jogador pode atacá-los desde que estejam dentro de um raio determinado. Isso torna o combate mais estático, mas também mais tático, pois é necessário gerir ataques e habilidades de forma eficiente. Outro elemento fundamental é o sistema de cartas, que substitui o equipamento tradicional. O jogador constrói um baralho com diferentes tipos de cartas que representam habilidades, feitiços e artefactos. Algumas cartas, como poções e feitiços ofensivos, podem ser usadas livremente, enquanto outras bloqueiam uma parte da mana do personagem enquanto estão equipadas. O sistema incentiva a gestão estratégica do baralho para equilibrar ataque, defesa e utilidade. Cada uma das três classes do jogo tem um conjunto de cartas específico, criando experiências de jogo distintas para o Guerreiro, a Ladina e o Mago.

Mundo e história
Book of Demons apresenta uma narrativa simples que homenageia e satiriza os RPGs clássicos. O jogador assume o papel de um herói que regressa à sua cidade natal apenas para descobrir que uma antiga catedral foi corrompida por forças demoníacas. Cabe ao herói explorar as profundezas da masmorra, derrotando criaturas malignas até finalmente enfrentar o Arqui-Demónio. A simplicidade da história é compensada pelo humor e pelas referências ao género. Em vez de um ambiente sombrio e opressivo, o jogo adota um tom leve e irônico. Os inimigos incluem figuras caricatas como O Cozinheiro, um chefe vegetariano obcecado por cenouras, ou o Antipapa, um vilão que reage como uma criança mimada quando é derrotado. O próprio Arqui-Demónio, apesar de ser uma entidade infernal, é retratado de forma cómica, tomando banho de lava com um pato de borracha.
Grafismo
O aspeto visual de Book of Demons é um dos seus pontos mais originais. O jogo adota um estilo inspirado em livros pop-up, com personagens e cenários que parecem figuras de papel dobradas. Os elementos visuais movem-se de forma rígida e saltitante, reforçando a ideia de que estamos a folhear um livro interativo. Apesar da estética simplificada, os detalhes e a animação das criaturas e ambientes são bem trabalhados. Cada inimigo tem um design distinto e facilmente identificável, e os efeitos de luz e partículas acrescentam profundidade ao estilo minimalista. O jogo consegue equilibrar a sua direção artística estilizada com a necessidade de manter a clareza visual durante o combate.

Som
A banda sonora de Book of Demons contribui para a atmosfera do jogo, com temas orquestrais que evocam uma sensação de aventura e mistério. As melodias são envolventes, embora não se destaquem como elementos memoráveis da experiência. O design sonoro é mais eficaz, com efeitos de som que dão peso aos ataques e habilidades. Os inimigos têm sons distintos que ajudam a identificá-los e os efeitos das cartas transmitem bem a sua funcionalidade. A narração também se encaixa no tom humorístico do jogo, com personagens que apresentam falas exageradas e expressões caricatas.
Conclusão
Book of Demons é um RPG de ação que combina elementos clássicos com mecanicas inovadoras e um estilo visual único. A sua abordagem simplificada ao género torna-o acessível para jogadores que procuram uma experiência menos complexa, mas sem comprometer a profundidade estratégica. O sistema de cartas oferece uma camada adicional de personalização e variedade, garantindo que cada sessão de jogo se mantenha interessante.
O maior problema do jogo reside no sistema de mira automática das versões para consola, que pode tornar o combate frustrante, especialmente em dificuldades mais elevadas. No entanto, para quem joga no PC, a experiência é muito mais fluida e intuitiva. Com uma duração ajustável graças à ferramenta Flexiscope e um humor que transforma clichés do género em algo divertido, Book of Demons é uma proposta interessante para os fãs de RPGs de ação que procuram algo diferente. Não tenta substituir os clássicos, mas sim oferecer uma alternativa inovadora que respeita as suas inspirações enquanto segue o seu próprio caminho.