Buildings Have Feelings Too! é um jogo que promete uma abordagem original ao género de construção e gestão de cidades. Ao combinar mecânicas de city-builder com elementos de puzzle e uma direção artística encantadora, o jogo destaca-se pelo seu conceito inovador. No entanto, apesar da sua premissa intrigante e do charme visual, a execução deixa muito a desejar, com mecânicas que rapidamente se tornam frustrantes e uma curva de dificuldade que pode afastar muitos jogadores. A mistura de um estilo descontraído com uma jogabilidade restritiva resulta numa experiência que pode ser tão cativante quanto frustrante.
Jogabilidade
Em teoria, Buildings Have Feelings Too! oferece uma abordagem fresca ao género. O jogador assume o controlo de um edifício chamado The Halfway Hotel e tem como objetivo revitalizar uma cidade, ajudando os restantes edifícios a prosperar. Cada edifício tem necessidades específicas e depende da proximidade de outros para receber bónus e melhorar de categoria. No entanto, a gestão deste ecossistema é extremamente limitada e, em vez de um city-builder dinâmico e flexível, o jogo apresenta-se como um puzzle com soluções muito específicas e pouco espaço para criatividade. Cada edifício tem requisitos que devem ser cumpridos para evoluir. Por exemplo, um pub precisa de clientes, enquanto uma mercearia precisa de pessoas e de um local de abastecimento. Estes elementos interligam-se, exigindo uma organização meticulosa para maximizar os bónus. No papel, o conceito é interessante, mas na prática torna-se rapidamente frustrante, pois os espaços são limitados e os requisitos demasiado restritivos. O jogo não permite experiência nem improviso, exigindo que os edifícios sejam colocados em posições exatas para progredir, o que faz com que a experiência pareça mais um puzzle de encaixe do que um simulador de gestão.

Mundo e história
A narrativa de Buildings Have Feelings Too! é leve e humorística, apostando num tom carismático para dar vida aos edifícios. Cada estrutura tem personalidade própria e interage com outras através de comentários espirituosos e pedidos peculiares. O conceito de edifícios antropomorfizados é refrescante e dá um toque de originalidade ao jogo, tornando a cidade mais envolvente e proporcionando momentos divertidos. A interação entre os edifícios e o mundo à sua volta é um dos pontos mais fortes do jogo. As conversas são bem escritas e adequadas ao contexto histórico, remetendo para uma época de desenvolvimento urbano acelerado. O problema surge quando a jogabilidade entra em conflito com a narrativa. O jogo tenta contar uma história envolvente e divertida, mas a frustração mecânica pode afastar os jogadores antes que possam verdadeiramente apreciá-la.
Grafismo
Visualmente, Buildings Have Feelings Too! é um jogo encantador. A direção artística aposta num estilo minimalista mas detalhado, com cores suaves e um design que encaixa perfeitamente na temática do século XVIII. Os edifícios têm animações expressivas e movimentos fluidos, o que contribui para a identidade do jogo e reforça o seu charme. Cada estrutura tem características distintas, tornando a cidade visualmente interessante e variada. A interface também é bem organizada e intuitiva. Os ícones que representam os requisitos dos edifícios são claros e fáceis de entender, permitindo que os jogadores compreendam rapidamente as necessidades de cada construção. No entanto, a precisão dos controlos, especialmente na versão para Nintendo Switch, pode prejudicar a experiência. Por vezes, mover edifícios torna-se um desafio desnecessário, resultando em erros que não podem ser desfeitos, o que agrava ainda mais a frustração do jogador.

Som
A banda sonora de Buildings Have Feelings Too! é um dos aspetos mais bem conseguidos do jogo. As melodias são leves e alegres, criando um ambiente descontraído que contrasta com a dificuldade elevada da jogabilidade. A música nunca se torna repetitiva ou irritante, o que é uma mais-valia num jogo onde os jogadores poderão passar longos períodos a tentar resolver quebra-cabeças complexos. Os efeitos sonoros também são bem implementados. O som dos edifícios a falar, representado por pequenos estalidos de tijolos, é uma escolha criativa e satisfatória. Cada ação, desde mover um edifício até construir uma nova estrutura, tem um som distinto e bem integrado no mundo do jogo. O trabalho sonoro ajuda a manter a imersão e torna a experiência auditiva bastante prazerosa, mesmo quando a jogabilidade se torna frustrante.
Conclusão
Buildings Have Feelings Too! é um jogo com um conceito incrivelmente original e uma apresentação visual e sonora de grande qualidade, mas que se perde numa jogabilidade frustrante e excessivamente restritiva. O charme da sua direção artística e a narrativa divertida são insuficientes para compensar as suas limitações mecânicas e a falta de flexibilidade na resolução dos desafios. A experiência poderia beneficiar de um maior equilíbrio na curva de dificuldade e de opções mais flexíveis para a colocação e gestão dos edifícios. Sem estas melhorias, o jogo pode tornar-se mais frustrante do que divertido, afastando aqueles que procuram um city-builder mais descontraído. Para os jogadores que apreciam desafios rigorosos e puzzles complexos, pode ser uma experiência gratificante, mas para a maioria, Buildings Have Feelings Too! será mais uma lição de paciência do que uma aventura divertida.