Beyond The Wire é uma proposta ambiciosa dentro do nicho dos jogos de guerra em primeira pessoa, centrado na brutalidade e caos da Primeira Guerra Mundial. Lançado com a promessa de recriar o conflito com autenticidade e escala épica, o jogo destacou-se inicialmente pelo seu foco em batalhas com até 100 jogadores, onde o trabalho de equipa e a comunicação são essenciais. Com um sistema de combate que mistura tiroteios intensos com confrontos corpo-a-corpo brutais, Beyond The Wire tenta oferecer uma experiência mais completa do que outros títulos do género, como Verdun ou Isonzo. No entanto, apesar da sua base sólida, o jogo enfrenta atualmente um dos seus maiores inimigos: a ausência de jogadores.
Jogabilidade
O coração de Beyond The Wire está na sua jogabilidade massiva e centrada na cooperação. As batalhas dividem-se entre duas equipas de 50 jogadores, organizadas em esquadrões de nove membros, sob o comando de um oficial. Cada jogador pode escolher entre diferentes classes, como atirador, médico, artilheiro ou sniper, sendo cada função crucial para o sucesso da equipa. A comunicação entre os membros do esquadrão é vital, e o jogo incentiva o uso de voz para coordenar ataques, pedir apoio ou alertar sobre perigos iminentes. O sistema de combate distingue-se por um equilíbrio entre a ação de longa distância, com armas de fogo da época, e o combate corpo-a-corpo, que ganha destaque com um sistema de parry que permite bloquear e contra-atacar em frações de segundo. Este elemento dá um peso tenso e visceral às lutas nos corredores apertados das trincheiras. A presença de veículos históricos, como o MK IV britânico e o A7V alemão, adiciona outra camada de estratégia ao campo de batalha.
Infelizmente, a experiência é afetada pela escassez de jogadores. Fora dos horários de pico, é comum encontrar-se a jogar com bots, que são pouco competentes, não formam esquadrões e não executam tarefas como construir estruturas ou dar ordens. Além disso, o sistema de progressão depende da interação com jogadores humanos, o que limita a evolução de quem joga maioritariamente contra a inteligência artificial.

Mundo e história
Apesar de não ser um jogo com uma narrativa linear ou campanhas centradas em personagens, Beyond The Wire consegue transmitir uma sensação autêntica da Primeira Guerra Mundial. Através da escolha de dez facções históricas dos dois lados do conflito, como o Império Alemão, os britânicos ou os canadianos, o jogo oferece uma boa variedade de experiências. Cada facção possui o seu próprio equipamento, veículos e mapas associados, o que contribui para uma maior imersão e diversidade. O design dos mapas e dos cenários é claramente inspirado em localizações reais e nas duras condições do conflito, com destaque para as trincheiras, áreas de terra de ninguém e postos fortificados. O jogo não tenta romantizar a guerra, optando por uma representação crua e violenta do combate, o que se alinha bem com o seu objetivo de realismo. Ainda assim, falta um pouco mais de contexto histórico ou objetivos específicos por mapa que reforcem a sensação de estarmos a participar em batalhas significativas dentro do panorama geral da guerra.
Grafismo
Visualmente, Beyond The Wire impressiona com a qualidade dos seus mapas e o detalhe das armas e equipamentos. Os ambientes são grandes, abertos e bem construídos, com atenção ao pormenor nas trincheiras, crateras, destroços e vegetação. As mudanças de iluminação, nevoeiro e efeitos climáticos contribuem para uma atmosfera densa e opressiva, ideal para um jogo passado numa das guerras mais devastadoras da história. No entanto, a qualidade gráfica não está isenta de problemas. O jogo apresenta falhas de otimização, com quebras de performance e bugs visuais que podem prejudicar a experiência, especialmente em hardware menos potente. Estas questões técnicas são agravadas pela falta de atualizações frequentes por parte dos desenvolvedores, o que deixa muitos dos problemas por resolver.

Som
Um dos aspetos mais impressionantes de Beyond The Wire é o seu design sonoro. Desde o som das armas ao impacto das explosões, o jogo consegue recriar de forma convincente o ambiente caótico de uma batalha da Primeira Guerra Mundial. O som dos gritos dos soldados, dos apitos de comando, das balas a passar rente ao ouvido e da artilharia a cair ao longe são elementos que contribuem fortemente para a imersão. O uso de comunicação por voz é também bem implementado, sendo essencial para a coordenação entre jogadores. É através do som que muitas vezes se deteta a aproximação do inimigo ou se decide a melhor altura para avançar ou recuar. O trabalho de som em Beyond The Wire não só complementa o grafismo como, por vezes, supera-o em termos de impacto.
Conclusão
Beyond The Wire é um dos melhores jogos sobre a Primeira Guerra Mundial alguma vez feitos, mas que sofre de um problema fatal: a falta de jogadores. A sua jogabilidade rica, focada em cooperação, os mapas bem desenhados e o excelente design sonoro criam uma experiência que, quando jogada com outros jogadores reais, é verdadeiramente envolvente e intensa. No entanto, a ausência de atualizações frequentes e a fraca presença de jogadores ativos tornam a experiência inconsistente e, por vezes, frustrante. É um título que merece mais atenção do que aquela que tem recebido, e que poderia beneficiar imenso com um relançamento, melhorias na inteligência artificial ou uma integração com outras comunidades como as de Isonzo ou Hell Let Loose. Para quem procura uma experiência realista e brutal da Primeira Guerra, e consegue reunir um grupo de amigos para jogar, Beyond The Wire continua a ser uma aposta segura e envolvente. Mas, para o jogador casual à procura de ação constante, o estado atual da base de jogadores é um obstáculo difícil de ignorar.