Passaram-se treze anos desde o lançamento de Defender’s Quest, um jogo que conseguiu combinar elementos de tower defense e RPG de uma forma inovadora. O jogo original destacou-se pela forma como conseguiu equilibrar a estratégia de um tower defense com a progressão e narrativa de um RPG, criando uma experiência que cativou muitos jogadores. Durante anos, a possibilidade de uma sequela parecia improvável, mas Defender’s Quest 2: Mists of Ruin chegou finalmente. A questão agora é se consegue manter a magia do primeiro jogo e ao mesmo tempo trazer novidades suficientes para justificar a longa espera.
Jogabilidade
A estrutura base da jogabilidade continua semelhante à do primeiro jogo. As personagens funcionam como torres que são colocadas no campo de batalha para impedir que os inimigos cheguem ao objetivo. Cada personagem tem habilidades próprias e pode ser melhorada através de um sistema de Boosts, que requerem Juice, um recurso obtido ao derrotar inimigos. A grande diferença nesta sequela é a maior ênfase numa jogabilidade ativa. No primeiro jogo, era comum adotar uma abordagem mais passiva, posicionando as unidades e deixando-as fazer o seu trabalho. Em Defender’s Quest 2, há mais opções de interação, como o uso de canhões na nave principal para apoiar a equipa, a necessidade de reposicionar certas unidades e habilidades que exigem gestão constante. Isto torna o jogo mais dinâmico e obriga o jogador a estar sempre atento às batalhas.
Outra mudança significativa é que não é possível recrutar múltiplas personagens do mesmo tipo. Cada membro da equipa é único e tem um papel específico, o que torna a composição da equipa mais importante e reduz a possibilidade de encontrar uma estratégia universal que funcione em todos os níveis. Esta abordagem aumenta a profundidade tática do jogo e melhora a sensação de progressão.

Mundo e história
Um dos aspetos mais marcantes do primeiro Defender’s Quest era a forma como a narrativa estava integrada na jogabilidade. Em vez de ser apenas um jogo de tower defense com um enredo superficial, a história era um elemento central. Defender’s Quest 2 segue a mesma filosofia, apresentando uma narrativa envolvente e cheia de surpresas. O jogo começa com Evni Hunt, capitã dos Reeves, uma nave viva que transporta passageiros e mercadorias. Durante uma missão de escolta, Evni apercebe-se que algo estranho está a acontecer nas Shining Lands. O Mirk, uma entidade misteriosa, está a libertar criaturas perigosas feitas de Juice, ameaçando o mundo. Determinada a impedir o desastre, Evni e a sua tripulação entram no Mirk para investigar. A grande reviravolta acontece após a primeira batalha contra um chefe. O que parecia ser um inimigo genérico revela-se uma personagem crucial na narrativa, que o jogador irá controlar mais tarde. Este tipo de mudança de perspetiva é uma das maiores qualidades da história, criando um enredo que vai muito além do tradicional conflito entre heróis e vilões. O diálogo entre personagens também é um ponto forte. Em vez de se limitarem a discutir a próxima missão, as personagens interagem entre si de forma natural, revelando detalhes sobre o seu passado e personalidades. Embora não sejam extremamente complexas, são carismáticas e memoráveis, o que torna a narrativa ainda mais envolvente.
Grafismo
O estilo visual de Defender’s Quest 2 é radicalmente diferente do original. O primeiro jogo tinha um aspeto simples, funcional, mas sem grande identidade visual. Nesta sequela, o grafismo adota uma abordagem impressionista, com cores mais desbotadas e um design que lembra capas de álbuns de rock progressivo. As personagens têm designs marcantes e expressivos, o que ajuda a dar vida às cenas de diálogo. Durante as batalhas, os inimigos são variados e bem animados, tornando cada confronto visualmente interessante. Embora o novo estilo possa não agradar a todos, é indiscutível que a direção artística tem muito mais personalidade desta vez. O jogo também se destaca pela forma como usa a cor para transmitir atmosfera. O mundo de Defender’s Quest 2 parece alienígena, misterioso e, por vezes, ameaçador, o que encaixa perfeitamente na narrativa e no ambiente do jogo.

Som
A banda sonora de Defender’s Quest 2 segue uma abordagem minimalista, mas eficaz. Cada momento importante do jogo tem uma música adequada, ajudando a criar a atmosfera certa para as batalhas e os momentos de exploração. Cada grupo de personagens tem temas musicais distintos, o que contribui para a identidade do jogo. Embora a banda sonora seja bastante diferente da do primeiro jogo, isso não significa que seja inferior. As melodias são memoráveis e bem compostas, e a variedade de estilos musicais ajuda a evitar repetição excessiva. No geral, a música complementa bem a jogabilidade e a narrativa, mesmo sem ser o foco principal da experiência. Os efeitos sonoros também são competentes, transmitindo bem a intensidade das batalhas e dando peso aos ataques e habilidades das personagens. O jogo não tem dublagem, mas os diálogos são suficientemente bem escritos para que isso não seja uma grande falta.
Conclusão
Defender’s Quest 2: Mists of Ruin é uma sequela que justifica a longa espera. Embora tenha levado treze anos a chegar, o resultado final é um jogo que respeita a base do original e ao mesmo tempo evolui em quase todos os aspetos. A jogabilidade é mais dinâmica, a história é mais envolvente, o grafismo tem muito mais personalidade e a banda sonora cumpre bem o seu papel. Se gostaste do primeiro jogo, é difícil encontrar razões para não gostar desta sequela. E se nunca jogaste Defender’s Quest, esta pode ser uma excelente oportunidade para descobrir a série. O conceito de um tower defense misturado com RPG continua a funcionar de forma brilhante, e a experiência é tão envolvente que facilmente nos leva a jogar apenas mais uma partida. Defender’s Quest 2 consegue manter tudo o que tornou o primeiro jogo especial, ao mesmo tempo que introduz melhorias significativas. Não só é um excelente jogo para os fãs do género, como também é uma das melhores combinações de tower defense e RPG dos últimos anos.