Análise: Everhood 2

Everhood 2 é um daqueles jogos que desafiam qualquer tentativa de definição simples. Criado por Chris Nordgren e Jorda Roca, este é um RPG rítímico que se assume como uma experiência surreal, combinando filosofia, humor absurdo e uma jogabilidade que mistura desafios musicais com elementos de ação. Não é um jogo que se jogue apenas pela narrativa ou pela progressão clássica de um RPG, mas sim pela experiência em si, que oscila entre o profundamente intrigante e o completamente caótico. Se o primeiro Everhood já demonstrava uma abordagem pouco convencional ao género, a sequela eleva essa sensação de estranheza a um novo nível, tanto na sua estrutura como na maneira como envolve o jogador no seu mundo.

Jogabilidade

A base de Everhood 2 assenta num sistema de combate rítímico que recorda jogos como Guitar Hero, mas com uma abordagem mais livre e fluida. O jogador move-se entre cinco faixas, desviando-se ou absorvendo objetos coloridos que são lançados em seu caminho. Ao absorver sequências longas de uma única cor, pode desencadear ataques poderosos que permitem eliminar inimigos rapidamente. Este sistema cria um equilíbrio interessante entre risco e recompensa, incentivando os jogadores a testarem os seus reflexos e capacidade de memorização. Ao longo do jogo, surgem diferentes variações que tornam os combates cada vez mais desafiantes, desde alterações no ritmo até sequências completamente alucinantes que parecem retiradas de um delírio psicadélico. Mesmo nas suas fases mais estranhas, a jogabilidade mantém-se sempre responsiva e viciante, oferecendo desafios para aqueles que gostam de dominar mecânicas difíceis.

Mundo e história

O mundo de Everhood 2 é um mosaico de cenários bizarros e aparentemente desconexos, que desafiam a lógica e qualquer tentativa de estrutura narrativa convencional. Desde corredores neon e labirínticos até terras desoladas pós-apocalípticas e arenas interdimensionais, o jogo salta constantemente entre estilos e temáticas. Um momento podes estar numa cidade inspirada em Earthbound, no seguinte enfrentas um reino de vegetais e frutas em guerra, e logo depois debates-te com Deus e o próprio Fim do Tempo. Os personagens que habitam este mundo também refletem essa natureza absurda, desde figuras inspiradas em pensadores reais como Terence McKenna até personagens que mais parecem saídas de um pesadelo de um programador indie. Muitos NPCs fazem piadas absurdas, enquanto outros oferecem reflexões profundas sobre existência e realidade, criando um contraste constante entre o cómico e o filosófico. Esta abordagem faz com que o jogo se sinta como uma experiência quase metanarrativa, onde nada é definitivo e a própria identidade do jogo está sempre em mutação.

Grafismo

Visualmente, Everhood 2 adota um estilo pixel art que pode parecer simples à primeira vista, mas que se revela incrivelmente expressivo e variado. Cada cenário tem um design distinto, com cores vibrantes e efeitos que transformam cada momento numa experiência visualmente hipnotizante. O jogo brinca frequentemente com perspetivas, cores saturadas e efeitos de distorção para criar um ambiente que parece sempre instável e imprevisível. Nas batalhas, os efeitos visuais intensificam-se, com explosões de luz, alterações bruscas de paleta de cores e padrões que parecem desafiar as leis da física. Esta abordagem funciona bem dentro do conceito do jogo, reforçando a ideia de que o jogador está preso num mundo que não segue qualquer lógica convencional. Mesmo com um estilo retro, a direção artística dá a Everhood 2 uma identidade visual distinta, que se destaca no meio de tantos RPGs indie.

Som

A componente sonora de Everhood 2 é um dos seus pontos mais fortes, algo essencial para um jogo que gira em torno do ritmo. A banda sonora mistura eletrónica, chiptune e elementos experimentais, criando uma variedade impressionante de faixas que complementam perfeitamente a atmosfera surreal do jogo. Cada combate tem a sua própria batida e melodia, o que torna cada batalha uma experiência auditiva tão envolvente quanto desafiante. Os efeitos sonoros também são bem implementados, dando feedback claro ao jogador sem se tornarem excessivamente intrusivos. Pequenos detalhes, como alterações de tom consoante as ações do jogador ou efeitos de eco em certas áreas, ajudam a reforçar a imersão. Everhood 2 consegue usar o som não apenas como complemento, mas como parte essencial da sua identidade, transformando a música num elemento de jogo tão importante quanto os visuais ou a jogabilidade.

Conclusão

Everhood 2 é um jogo que desafia convenções em todos os aspetos, desde a jogabilidade até à narrativa e à sua própria estrutura. Não é uma experiência para todos, especialmente para aqueles que procuram uma história coesa ou uma progressão RPG tradicional, mas para quem aprecia jogos que brincam com a perceção do jogador e oferecem algo verdadeiramente inesperado, é uma viagem inesquecível. Com combates rítímicos desafiantes, um mundo bizarro e imprevisível, um estilo visual psicadélico e uma banda sonora memorável, Everhood 2 é uma sequela que expande e aprimora tudo o que tornou o primeiro jogo tão especial. A sua estrutura pode ser frustrante para alguns e a sensação de desorientação constante pode afastar quem prefere experiências mais tradicionais, mas para aqueles que gostam de explorar o inesperado, este é um jogo que merece ser experimentado.

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