Análise: The Last of Us Part 2 Remastered

The Last of Us Part 2 Remastered chega finalmente ao PC, depois de um longo percurso que começou com o lançamento original da sequela na PlayStation 4 em 2020. Durante estes anos, o jogo esteve no centro de inúmeros debates, polémicas e análises apaixonadas que dividiram a comunidade. A adaptação para PC surge numa altura em que a série televisiva baseada no universo do jogo conquistou novos públicos, reacendendo o interesse pela franquia. A versão Remastered não é apenas uma reedição com melhorias gráficas. Apresenta novos modos de jogo, como o interessante No Return, melhorias de acessibilidade e suporte para resoluções ultrawide, HDR e uma maior variedade de definições gráficas. No entanto, a transição para PC não foi totalmente pacífica, com problemas de performance que afetam a experiência de forma considerável. Apesar disso, o núcleo da experiência permanece inalterado: uma aventura intensa e emocional, com uma componente narrativa arrojada e um sistema de combate tenso e violento. Este é um jogo que tenta conciliar a profundidade emocional de um drama cinematográfico com a interatividade de um videojogo de ação e sobrevivência. A remasterização traz consigo a promessa da versão definitiva de The Last of Us Part 2, mas a realidade revela uma experiência com altos e baixos, tanto técnicos como narrativos.

Jogabilidade

A jogabilidade de The Last of Us Part 2 Remastered mantém a base do original, combinando furtividade, combate direto e exploração num mundo pós-apocalíptico devastado. A tensão é constante, e o jogo força-nos a fazer escolhas difíceis com os recursos escassos disponíveis. Cada encontro é potencialmente letal, e a forma como o jogador gere munições, kits de saúde e objetos de fabrico pode ditar a diferença entre a vida e a morte. O modo No Return representa uma das principais novidades desta versão. Trata-se de um modo roguelite que coloca o jogador em confrontos aleatórios com inimigos, oferecendo diferentes personagens jogáveis, cada uma com as suas habilidades e características próprias. Ao contrário da campanha principal, que por vezes impõe um ritmo mais lento e controlado, No Return dá espaço a experiências mais imediatas, focadas na ação tática e na sobrevivência pura. A sua variedade e capacidade de personalização tornam-no num dos pontos mais fortes da remasterização, ideal para sessões de jogo mais curtas e intensas.

Outra adição interessante, embora mais superficial, é o modo de guitarra, que permite ao jogador experimentar livremente com o minijogo musical usado em momentos narrativos. Este modo tem potencial para agradar a quem gosta de mexer criativamente, mas dificilmente terá grande apelo a longo prazo para a maioria dos jogadores.

Apesar das inovações, a jogabilidade sofre com alguns problemas técnicos. Mesmo em máquinas que excedem os requisitos recomendados, como uma RTX 3060 Ti com processador i7 e 16GB de RAM, são frequentes os soluços na imagem, texturas que demoram a carregar e descidas acentuadas na framerate em áreas mais densas ou movimentadas. Embora não se trate de um desastre técnico como foi o port da primeira parte no seu lançamento, o resultado está longe de ser irrepreensível.

Mundo e história

A narrativa de The Last of Us Part 2 continua a ser o seu elemento mais divisivo. Onde o primeiro jogo se centrava na ligação entre Joel e Ellie, uma história de paternidade e sobrevivência emocional, a sequela mergulha numa espiral de vingança, dor e destruição emocional. O tema central é claro: o ciclo de violência. No entanto, a forma como este tema é tratado levanta questões e não agrada a todos. A estrutura da história é fragmentada e joga com a perspetiva do jogador, colocando-nos no papel de Ellie e mais tarde de Abby, duas personagens em lados opostos de um conflito brutal. Esta abordagem obriga o jogador a confrontar os seus próprios julgamentos morais, mas nem sempre com subtileza. A mensagem de que a violência é má, independentemente do lado, surge repetidamente, mas sem considerar devidamente os contextos de opressão e resistência que se refletem, mesmo que de forma involuntária, nas facções representadas no jogo.

Existe também um paralelismo desconfortável entre o conflito entre a Frente de Libertação de Washington e os Serafitas e o conflito israelo-palestiniano, algo que o próprio Neil Druckmann, diretor criativo do jogo, referiu como inspiração indireta. Esta analogia torna-se problemática quando se tenta aplicar uma moralidade neutra e universalista a situações de opressão desigual, retirando peso político e histórico a um conflito que, mesmo num universo ficcional, ecoa a realidade. Ainda assim, o jogo tem momentos de escrita e atuação notáveis. Os diários espalhados pelo mundo, os pequenos eventos narrativos emergentes e as interações entre personagens criam uma sensação viva e crua. A relação entre Abby e Lev, por exemplo, é tratada com uma delicadeza que contrasta com a brutalidade geral da narrativa.

Grafismo

Visualmente, The Last of Us Part 2 Remastered continua a impressionar, mesmo com os seus problemas técnicos. O nível de detalhe nas expressões faciais, nas animações e nos ambientes continua a ser dos mais elevados da indústria. As transições entre cutscenes e jogabilidade são praticamente impercetíveis, criando uma imersão total que poucos jogos conseguem igualar. O jogo brilha especialmente em momentos de movimento e caos, como perseguições, colapsos de estruturas ou combates intensos em ambientes apertados. Um dos momentos mais memoráveis surge logo no início, quando uma fuga numa colina coberta de neve se transforma numa sequência espetacular de destruição e pânico. É neste tipo de cena que o jogo mostra o seu verdadeiro poder cinematográfico. As opções gráficas são variadas e permitem uma boa dose de personalização, incluindo suporte para HDR e monitores ultrawide. No entanto, a otimização deixa a desejar. Mesmo em definições médias a 1080p, alguns utilizadores relatam stuttering constante, problemas com texturas e quedas abruptas de desempenho, o que pode quebrar a imersão e frustrar quem esperava uma experiência fluida.

Som

O design sonoro é outro dos grandes trunfos de The Last of Us Part 2 Remastered. Desde o som abafado dos passos em neve até aos gritos distantes de inimigos humanos ou aos guinchos horríveis dos Clickers, cada elemento sonoro contribui para a atmosfera opressiva do jogo. As secções furtivas beneficiam particularmente deste cuidado. O som ambiente escala de forma dinâmica, criando picos de tensão quando o jogador está prestes a ser detetado. As músicas de Gustavo Santaolalla, com os seus acordes minimalistas e melancólicos, continuam a dar uma identidade única ao jogo, reforçando os momentos mais emocionais sem cair na dramatização excessiva. A adição de opções de acessibilidade, como a descrição áudio e a funcionalidade que traduz a fala em vibrações no comando DualSense, demonstra um compromisso com a inclusão e torna esta versão mais acessível a uma maior variedade de jogadores.

Conclusão

The Last of Us Part 2 Remastered é, acima de tudo, uma experiência intensa e provocadora. É um jogo que tenta explorar temas difíceis, com um grau de ambição rara no meio dos videojogos. Nem sempre acerta, e a sua abordagem narrativa, embora arrojada, pode ser vista como simplista ou mesmo problemática em certos momentos. Ainda assim, é impossível negar a qualidade da sua apresentação, a força das interpretações e a profundidade do seu sistema de combate. A versão para PC podia ter sido a forma ideal de experimentar este título, mas os problemas técnicos mancham o resultado final. As melhorias gráficas e as novas funcionalidades são bem-vindas, mas não suficientes para disfarçar os soluços e inconsistências que prejudicam a fluidez da experiência. No entanto, o modo No Return é uma adição de peso que justifica por si só uma revisita ao jogo, especialmente para quem prefere a jogabilidade ao enredo. Em última análise, The Last of Us Part 2 Remastered é uma obra complexa e imperfeita, que vale a pena conhecer pelas suas virtudes e discutir pelas suas falhas. É um marco na indústria, não por ser consensual, mas precisamente por ousar não o ser.

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