Gedonia 2 é uma sequela ambiciosa de um RPG indie que, apesar da sua simplicidade técnica, conseguiu conquistar uma base de fãs dedicada graças à sua abordagem descomplicada ao género. Desenvolvido por uma pequena equipa, Gedonia 2 mantém a filosofia do primeiro jogo: liberdade total ao jogador para explorar, evoluir e moldar a sua própria história. Com um mundo aberto mais vasto, mecânicas mais refinadas e um sistema de progressão mais robusto, esta segunda entrada na série não pretende reinventar o género, mas sim oferecer uma experiência mais polida e acessível. Ainda assim, esta simplicidade levanta questões sobre profundidade e longevidade, especialmente quando comparado com gigantes do género.
Jogabilidade
A jogabilidade de Gedonia 2 mantém-se fiel às raízes clássicas do RPG ocidental, apostando numa estrutura de mundo aberto onde o jogador tem liberdade total desde o início. Podemos escolher o nosso tipo de personagem, especializarmo-nos em diferentes árvores de talentos e utilizar uma combinação de habilidades mágicas, corpo a corpo e à distância. O combate foi significativamente melhorado face ao primeiro jogo, com movimentos mais responsivos, melhor feedback e uma inteligência artificial ligeiramente mais competente. Ainda assim, está longe de ser um dos pontos fortes do jogo. As animações continuam básicas, e o combate carece da fluidez e intensidade que se espera nos títulos modernos. Onde Gedonia 2 brilha é na sensação de progressão. A cada nível, o jogador desbloqueia novas possibilidades e sente que está sempre a melhorar. O sistema de crafting, embora simples, é funcional e complementa bem o resto da jogabilidade. Podemos criar poções, armas, armaduras e até melhorias mágicas, incentivando a exploração e a recolha de recursos. A ausência de qualquer tipo de guia em certas áreas pode ser frustrante, especialmente para quem está habituado a jogos mais guiados, mas também contribui para o apelo old-school da experiência.

Mundo e história
O mundo de Gedonia 2 é vasto, recheado de segredos, mas também algo genérico na sua abordagem. As localizações são diversas, desde florestas encantadas até desertos, cavernas e ruínas antigas, oferecendo variedade suficiente para manter o interesse visual. No entanto, o design das missões e das histórias secundárias raramente foge ao habitual: matar monstros, encontrar artefactos perdidos ou ajudar aldeões em pequenas tarefas. A narrativa principal é funcional, mas não particularmente memorável. Envolve profecias, reinos em guerra e uma força misteriosa que ameaça a estabilidade do mundo, um enredo que já vimos em dezenas de outros RPGs. O ponto mais interessante do mundo de Gedonia 2 está na forma como permite ao jogador escolher o seu próprio caminho. Podemos juntar-nos a diferentes facções, tornar-nos cavaleiros, magos, mercenários ou simples aventureiros. Essa liberdade, aliada a pequenas ramificações nas decisões que tomamos, ajuda a criar uma experiência personalizada. No entanto, o impacto dessas decisões raramente é significativo. As consequências são limitadas e as mudanças no mundo resultantes das nossas ações são superficiais. É uma pena, porque havia potencial para um mundo mais reativo e dinâmico.
Grafismo
Gedonia 2 não tenta competir com os grandes nomes do mercado no que diz respeito ao visual, e isso é evidente desde o primeiro minuto. O estilo gráfico é simples, com modelos 3D básicos, animações rudimentares e uma iluminação que por vezes parece saída de jogos de duas gerações atrás. Ainda assim, há um charme inegável nesta simplicidade. O jogo corre bem mesmo em sistemas modestos, e as cores vibrantes e o design das paisagens transmitem uma sensação de aventura e descoberta. O design artístico é funcional, mas raramente impressionante. As cidades têm pouca vida, os interiores das casas são repetitivos, e os inimigos, embora variados, não apresentam grande imaginação visual. Felizmente, a performance é sólida, sem quebras notórias, e os tempos de carregamento são praticamente inexistentes, o que contribui para uma experiência de jogo fluída. No geral, o grafismo cumpre o seu papel, mas não será certamente o motivo que leva alguém a jogar Gedonia 2.

Som
A componente sonora de Gedonia 2 acompanha a simplicidade geral do projeto. A banda sonora é competente, com temas calmos que acompanham bem a exploração e outros mais intensos para os combates. Não é particularmente memorável, mas cumpre a sua função sem se tornar repetitiva. Os efeitos sonoros são básicos, com ruídos de combate genéricos e sons ambientais que ajudam a dar alguma vida ao mundo do jogo. A ausência de vozes é sentida, especialmente nas cutscenes e nas interações com NPCs, o que faz com que a narrativa perca força. Tudo é transmitido através de texto, o que pode afastar jogadores menos pacientes ou mais habituados a produções com dublagem completa. Ainda assim, há algo nostálgico nesta abordagem que poderá agradar aos fãs mais antigos do género.
Conclusão
Gedonia 2 é um RPG indie com ambições modestas, mas que consegue entregar uma experiência sólida e envolvente para quem aprecia liberdade de exploração e progressão constante. O jogo não impressiona visualmente nem apresenta uma narrativa particularmente inovadora, mas compensa com um mundo vasto, uma jogabilidade acessível e uma estrutura aberta que convida à experimentação. Há claramente espaço para melhorias, sobretudo ao nível da profundidade narrativa e do impacto das escolhas, mas dentro das suas limitações, Gedonia 2 oferece uma aventura competente que pode proporcionar dezenas de horas de entretenimento. Para quem procura um RPG descomplicado, com sabor a old-school e um foco na personalização do percurso do jogador, Gedonia 2 é uma aposta segura. Não vai rivalizar com os pesos-pesados do género, mas também não tenta ser algo que não é. E nessa honestidade reside grande parte do seu charme.