Midnight Murder Club é um daqueles jogos que chega sem grande alarido, mas rapidamente conquista um nicho muito específico de jogadores à procura de experiências diferentes, mais sociais e menos sobre mecânicas complicadas. Posicionado algures entre um shooter tático e um jogo de festa, Midnight Murder Club mistura elementos de terror, ação e estratégia num ambiente que nos remete para os clássicos jogos de esconde-esconde, agora reimaginados com armas, máscaras e salas mergulhadas em escuridão quase total. O jogo destaca-se não só pela sua premissa original, mas também por trazer de volta o espírito caótico de sessões de Goldeneye no sofá, agora num formato moderno com crossplay e funcionalidades que facilitam jogar com amigos, mesmo que só um tenha comprado o jogo. Desde o primeiro momento, o jogo faz questão de colocar o jogador numa situação de tensão. A escuridão é total, a única luz disponível vem de lanternas manuais e o som é a principal ferramenta de navegação e sobrevivência. Cada partida é um misto de nervosismo e adrenalina, onde um único passo em falso pode significar o fim. É essa simplicidade, aliada ao fator social e à imprevisibilidade dos encontros, que torna Midnight Murder Club tão viciante e refrescante num mar de jogos multiplayer cada vez mais complexos.
Jogabilidade
A jogabilidade de Midnight Murder Club assenta em princípios muito simples, mas extremamente eficazes. Cada jogador começa com uma lanterna e uma arma, e é lançado para dentro de uma mansão completamente às escuras. A decisão de usar a lanterna é estratégica: acendê-la permite ver o ambiente e os inimigos, mas também denuncia a sua posição. A escuridão torna-se uma personagem em si mesma, forçando os jogadores a pensarem em como se movem, onde se escondem e quando atacam. Um dos pontos mais interessantes da jogabilidade é o uso de chat por proximidade. Ouvir passos no andar de cima, sussurros ao fundo de um corredor ou gritos repentinos após um tiroteio trazem uma intensidade rara a este tipo de experiências. As partidas tornam-se memoráveis não só pela ação, mas também pelas interações entre jogadores. E quando se juntam os Wildcards — modificadores que alteram as regras do jogo com efeitos como armas personalizadas ou tiroteios através de paredes — o caos instala-se de forma deliciosa, mudando completamente a dinâmica de cada ronda. O jogo é fácil de aprender mas difícil de dominar, com um sistema de dano letal: um único tiro pode ser fatal, o que obriga os jogadores a jogarem com inteligência, antecipando movimentos e aproveitando os recursos que a mansão oferece. Há também uma grande variedade de modos de jogo, desde os clássicos free-for-all até modos com objetivos mais complexos, ideais para quem procura algo mais estratégico.

Mundo e história
O cenário principal de Midnight Murder Club é a Wormwood Manor, uma mansão imponente mergulhada em escuridão e mistério. Embora o jogo não tenha uma narrativa tradicional com cutscenes ou missões com história, a ambientação carrega imenso peso narrativo por si só. A mansão parece viva, com corredores labirínticos, sons ambientes assustadores e uma sensação constante de que estamos a ser observados. A ideia do Midnight Murder Club — uma espécie de sociedade secreta onde pessoas mascaradas se encontram para jogos mortais — serve como pano de fundo e dá uma camada extra de intriga ao jogo. Não se trata apenas de ganhar uma partida, mas de sobreviver a uma noite num ambiente onde todos são potenciais assassinos. É uma premissa simples, mas eficaz, que se presta bem à imaginação dos jogadores, criando histórias emergentes em cada partida. Apesar de não ser o foco, há uma forte componente temática que vai sendo construída através dos modos de jogo, do design dos itens e do próprio layout da mansão. A introdução de elementos como as Devil’s Toys — armadilhas, coletes à prova de bala, molotovs e até pílulas de visão noturna — dão ao jogo um ar quase distópico, como se estivéssemos num reality show mortal ao estilo Battle Royale ou The Purge.
Grafismo
Visualmente, Midnight Murder Club aposta numa estética minimalista, mas eficaz. A escuridão é o elemento visual dominante, e tudo é desenhado de forma a reforçar a tensão da falta de visibilidade. Quando a luz entra em cena, seja pela lanterna ou por explosões ocasionais, os ambientes ganham vida com sombras dramáticas e detalhes bem colocados. A mansão é rica em pormenores arquitetónicos, com salas distintas, corredores estreitos e espaços abertos onde o perigo pode vir de qualquer lado. Os modelos de personagens são simples mas expressivos, com máscaras estilizadas que ajudam a reforçar o tom misterioso e ameaçador do jogo. As animações são funcionais, e embora não sejam particularmente elaboradas, cumprem o seu propósito num jogo onde o foco é a jogabilidade e não a fidelidade visual. O destaque gráfico vai, sem dúvida, para o uso de luz e sombra. O jogo consegue criar momentos verdadeiramente cinematográficos apenas com o contraste entre luz e escuridão, o que o torna visualmente interessante mesmo com uma direção de arte contida.

Som
É no departamento sonoro que Midnight Murder Club brilha com mais intensidade. O design de som é simplesmente exemplar, com um uso inteligente de sons ambientes, vozes e efeitos para criar imersão total. O som dos passos, das portas a rangerem, dos tiros à distância e das interações entre jogadores tornam cada partida única. Saber ouvir é quase tão importante como saber apontar a arma. O uso de chat por proximidade é outro trunfo, trazendo não só imersão mas também momentos hilariantes. As interações espontâneas entre jogadores, os gritos de surpresa ou as provocações após um bom tiro tornam o ambiente mais humano, mais caótico e, muitas vezes, mais divertido. No entanto, é importante mencionar que o nível de toxicidade pode ser elevado, especialmente entre desconhecidos, algo já comum em jogos online com comunicação por voz. A música é discreta, quase inexistente durante o gameplay, o que contribui para a atmosfera de tensão. Nos menus, há temas que ajudam a estabelecer o tom misterioso e elitista do clube, mas o silêncio durante as partidas é parte fundamental da identidade do jogo.
Conclusão
Midnight Murder Club é um jogo surpreendente na sua simplicidade e eficácia. Consegue misturar terror, estratégia e diversão social de uma forma rara, oferecendo uma experiência que tanto pode ser levada a sério como tratada como um simples jogo de festa com amigos. A sua acessibilidade, com a opção de convidar até cinco amigos gratuitamente através do Guest Pass, torna-o ainda mais apelativo num mercado saturado de jogos pagos e cheios de microtransações. Apesar de alguns problemas técnicos, como falhas ocasionais no matchmaking e a necessidade de iniciar sessão na PSN mesmo no PC, o jogo mostra-se sólido naquilo que mais importa: diversão pura e inesperada. O crossplay funciona bem e a comunidade, embora ainda pequena, está bastante ativa. Se és daqueles jogadores que sente saudades das sessões de sofá com Goldeneye, ou simplesmente procuras um jogo para rir, gritar e levar uns sustos com amigos, Midnight Murder Club é uma escolha fácil de recomendar. É um jogo com alma, criado claramente por pessoas que percebem que, por vezes, tudo o que queremos é uma lanterna, uma arma e uma boa dose de caos.