Antevisão: Roman Triumph: Survival City Builder

Roman Triumph: Survival City Builder é um jogo desenvolvido por Philippe Lefrancois, um programador solitário de Montreal que passou cinco anos a construir este projeto apaixonado. Inspirado em clássicos como Banished, Caesar III e Kingdoms and Castles, Roman Triumph mistura construção de cidades com elementos de sobrevivência e fantasia mitológica. Lançado em Acesso Antecipado, o jogo leva-nos até às fronteiras do Império Romano, onde o jogador assume o papel de líder de uma colónia isolada. O objetivo é simples em teoria, mas desafiante na prática: construir uma cidade próspera, manter os cidadãos felizes, e defender-se contra bárbaros e criaturas mitológicas. É um conceito ambicioso, especialmente para um projeto feito por apenas uma pessoa. Felizmente, Roman Triumph mostra desde cedo que está à altura do desafio. Ainda que nem tudo esteja perfeitamente polido, o jogo apresenta uma base sólida, equilibrada e surpreendentemente estável para um título em Acesso Antecipado. Mais importante ainda, é divertido de jogar, e isso é algo que nem sempre se encontra em jogos deste género e estado de desenvolvimento.

Jogabilidade

A base da jogabilidade segue a fórmula clássica dos city builders: começar com um pequeno grupo de cidadãos e alguns recursos básicos como madeira, pedra e alimentos, e expandir gradualmente para uma cidade funcional e bem defendida. O ciclo é simples mas viciante: construir casas, estabelecer produção agrícola, explorar recursos naturais e investir em infraestruturas que elevam a qualidade de vida dos habitantes. O jogo aposta numa abordagem direta e intuitiva. Se precisamos de pedra, construímos uma pedreira. Se queremos ferro, erguemos uma mina. Árvores podem ser cortadas e replantadas, e os recursos são facilmente geridos através de um menu bastante claro. A interface é limpa e funcional, o que permite que o jogador se foque mais na estratégia do que em microgestão aborrecida.

Ao longo do tempo, a cidade cresce e a complexidade aumenta. Existem mais de 60 edifícios possíveis, com funcionalidades que vão desde sistemas de irrigação e aquedutos até locais de entretenimento e templos dedicados aos deuses romanos. A progressão tecnológica é bem estruturada, oferecendo melhorias graduais em vez de saltos súbitos, o que permite ao jogador adaptar-se ao ritmo da sua cidade. Mas não se trata apenas de construir. O mundo de Roman Triumph é hostil. Ataques inimigos surgem em vagas, começando com bárbaros e escalando para criaturas como Hidras, Minotauros e até Dragões. O sistema defensivo tem um peso significativo no jogo, e o planeamento urbano tem de considerar a proteção dos civis e a colocação estratégica de muralhas, torres e armas de cerco como balistas e escorpiões. Apesar da sua profundidade, o sistema de combate apresenta algumas falhas. Os soldados, por vezes, comportam-se de forma errática, ficam presos no terreno ou perseguem inimigos pouco relevantes enquanto as defesas principais são destruídas. Ainda assim, o combate pode ser pausado para dar ordens, o que dá ao jogador alguma margem de manobra para corrigir estas falhas.

Mundo e história

Embora não exista uma narrativa central no sentido tradicional, Roman Triumph constrói a sua identidade através do contexto histórico e das escolhas do jogador. Estamos numa fronteira do Império Romano, longe do centro de poder, onde a sobrevivência depende tanto da força militar como da sabedoria na gestão de recursos. Um dos elementos mais interessantes do jogo é a presença dos deuses romanos. Jupiter, Marte e outros exigem atenção através de templos e oferendas. Ignorar as suas vontades pode resultar em desastres naturais, doenças ou queda na moral da população. Por outro lado, satisfazê-los pode trazer benefícios valiosos, como colheitas abundantes ou unidades de combate mais fortes.

Existe também a possibilidade de desligar os elementos mitológicos para uma experiência mais realista. Para quem prefere um foco mais histórico e humano, esta opção é bem-vinda. A troca comercial com outras cidades também está presente, embora de forma bastante simples: define-se o que exportar e importar, e o sistema trata do resto. Não há um sistema de diplomacia profundo, nem inimigos controlados por IA com quem interagir, o que limita um pouco a sensação de um mundo vivo e em constante mudança. Os mapas são gerados de forma procedural, variando entre florestas, colinas e outros biomas. Esta aleatoriedade garante alguma frescura a cada nova campanha, ainda que a recolha de recursos se torne repetitiva com o tempo. A ausência de grandes objetivos narrativos ou eventos surpresa no final do jogo pode fazer com que a fase tardia da campanha perca alguma emoção.

Grafismo

A nível visual, Roman Triumph cumpre sem impressionar. O estilo gráfico é funcional, mas não particularmente detalhado. As texturas são simples, e algumas, como as dos cidadãos, parecem algo desatualizadas ou rudimentares. No entanto, o desempenho é bastante bom, mesmo em definições elevadas, o que é um ponto positivo para quem tem máquinas mais modestas. O design dos edifícios é coerente com a temática romana, com colunas, telhados de barro e muralhas que remetem para a arquitetura da época. Há também pequenos detalhes que ajudam na imersão, como os campos cultivados e os animais a vaguear pelas redondezas. Ainda assim, seria interessante ver melhorias visuais nas atualizações futuras, especialmente para dar mais personalidade às cidades e aos seus habitantes. As animações, em particular durante os combates, são talvez o ponto mais fraco do grafismo. Falta fluidez nos movimentos e impacto nos confrontos, o que retira alguma emoção às batalhas. Dado que estas representam uma parte significativa da experiência, é um aspeto que merece atenção por parte do criador.

Som

O som em Roman Triumph é discreto, mas eficaz. A banda sonora acompanha bem o ritmo do jogo, com temas calmos durante a construção e momentos mais intensos durante os ataques inimigos. Não é memorável, mas cumpre o seu papel de criar ambiente sem distrair. Os efeitos sonoros são mais variados do que se poderia esperar de um jogo indie. O som das ferramentas a trabalhar, o barulho da madeira a ser cortada ou os gritos durante o combate contribuem para uma sensação de vida na cidade. No entanto, tal como nos visuais, falta polimento. Alguns sons parecem demasiado repetitivos ou genéricos, e a ausência de vozes ou comentários narrativos tira alguma profundidade à atmosfera. Seria interessante ver, no futuro, mais variedade na música e nos efeitos, talvez até com influências musicais da Roma Antiga para reforçar a identidade histórica e cultural do jogo. Mesmo assim, para um projeto feito por uma única pessoa, o trabalho sonoro é bastante competente.

Conclusão

Roman Triumph: Survival City Builder é uma agradável surpresa dentro do género dos city builders com mecânicas de sobrevivência. Para um título em Acesso Antecipado, apresenta uma base sólida, uma jogabilidade bem equilibrada e uma visão clara do que quer ser. Apesar de não reinventar a roda, executa bem as suas ideias e oferece uma experiência gratificante tanto para veteranos como para novos jogadores. Os elementos mitológicos e religiosos acrescentam profundidade, o sistema defensivo é envolvente e a progressão tecnológica mantém o jogador motivado. No entanto, há espaço para melhorias: o combate precisa de ser mais refinado, os visuais e o som poderiam ser mais ricos, e a fase tardia do jogo beneficiaria de mais objetivos ou eventos significativos.

Mesmo assim, o potencial é evidente. O trabalho de Philippe Lefrancois é digno de reconhecimento, e se continuar a atualizar o jogo com novas funcionalidades, Roman Triumph poderá vir a ser um dos grandes nomes do género. Para já, é uma excelente escolha para quem gosta de construir, defender e sobreviver com um toque da história e da mitologia romana. Se não se importam com um jogo ainda em desenvolvimento, vale bem a pena experimentar. Se preferirem esperar, fiquem atentos: este jogo vai crescer.

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