Days Gone Remastered é a nova oportunidade que muitos jogadores esperavam para revisitar ou experimentar pela primeira vez o mundo devastado e melancólico criado pela Bend Studio. Lançado originalmente em 2019, Days Gone sofreu críticas mistas que o colocaram numa posição ingrata no meio de gigantes da PlayStation como The Last of Us e God of War. No entanto, ao contrário do que se podia prever, o jogo conseguiu construir uma base de fãs leal, impulsionada por uma combinação de combate envolvente, um mundo vasto e uma narrativa emocional. Agora, com esta versão remasterizada para a PlayStation 5, há finalmente um motivo válido para voltar ao assento da mota de Deacon St. John, com melhorias técnicas e novos modos de jogo que dão uma nova vida ao título.
A proposta de Days Gone Remastered não é a de reinventar completamente o jogo, mas sim de o refinar e expandir. Com o suporte completo ao comando DualSense da PS5, tempos de carregamento reduzidos, melhorias gráficas subtis mas eficazes e conteúdos inéditos como o modo Horde Assault, esta versão representa a forma definitiva de jogar Days Gone. Para quem nunca o experimentou, esta é claramente a melhor altura para o fazer. Para os veteranos, há conteúdo novo suficiente para justificar os 10 euros da atualização, especialmente para os que ficaram com saudades da tensão constante das hordas e do sentimento de desespero num mundo que já desistiu de si próprio.
Jogabilidade
Days Gone é um jogo de ação em mundo aberto centrado na sobrevivência e na gestão de recursos. Desde o início, a jogabilidade apresenta-se como uma combinação entre ação directa, exploração minuciosa e momentos de verdadeira tensão. O combate é variado e satisfatório, com uma mistura de tiroteios, ataques corpo-a-corpo e o uso criativo de armadilhas e explosivos. O comportamento dos Freakers, os zombies do jogo, é imprevisível e muitas vezes intimidante, especialmente quando em grupo. As hordas são o verdadeiro destaque, exigindo planeamento, calma e uma execução eficaz para sobreviver. Em Days Gone Remastered, a adição do modo Horde Assault eleva ainda mais esta componente, colocando os jogadores frente a frente com vagas de inimigos em desafios puramente orientados para a ação.
A condução da mota é uma parte central da experiência, funcionando não apenas como meio de transporte, mas também como um elemento a ser mantido e melhorado. Há que abastecer de combustível, fazer reparações, melhorar peças e até personalizar a aparência. Com o feedback háptico do DualSense, cada viagem se torna mais imersiva, com a resposta do terreno a influenciar claramente o comportamento da mota. Além disso, os gatilhos adaptativos contribuem para uma maior sensação de peso e resistência nas ações, sejam disparos ou acelerações. Para os jogadores mais competitivos ou que procuram desafios extra, a remasterização traz também modos como o Speedrun e o Permadeath, que testam a perícia do jogador sob novas formas. O jogo também conta agora com mais opções de acessibilidade, incluindo a possibilidade de ajustar a velocidade do jogo, o que pode ajudar quem pretende uma experiência mais personalizada ou menos intensa.

Mundo e história
Days Gone decorre num Oregon pós-apocalíptico, devastado por uma pandemia que transformou grande parte da população em criaturas violentas. O jogador assume o papel de Deacon St. John, um ex-motard que se tornou caçador de recompensas e vive à margem da sociedade com o seu melhor amigo Boozer. A narrativa gira em torno da procura de Deacon por respostas e pela sua esposa desaparecida, enquanto tenta sobreviver numa paisagem hostil e emocionalmente desoladora. A história de Days Gone é ambiciosa e pretende ser emocionalmente envolvente, embora nem sempre mantenha um ritmo coeso. Há momentos genuinamente tocantes e revelações importantes, mas também existe alguma gordura narrativa que quebra o ritmo e prolonga artificialmente a campanha. Ainda assim, a relação entre Deacon e os personagens secundários, bem como o desenvolvimento do próprio protagonista ao longo do jogo, são elementos que merecem destaque. Deacon, inicialmente visto como um anti-herói rude e pragmático, revela camadas de vulnerabilidade e esperança à medida que a história avança. O mundo do jogo está recheado de locais interessantes, desde florestas densas a pequenos acampamentos de sobreviventes, passando por cidades abandonadas e bases militares. A exploração recompensa os mais atentos com recursos úteis, histórias secundárias e colecionáveis que ajudam a expandir a mitologia do mundo. Mesmo que a estrutura de missões por vezes se torne repetitiva, o sentido de descoberta e o ambiente imersivo compensam a repetição.
Grafismo
Days Gone já era um jogo visualmente impressionante na PS4, mas na PS5 ganha uma nova fluidez e clareza que elevam toda a experiência. A remasterização corre a 60 fotogramas por segundo de forma estável, oferecendo uma jogabilidade muito mais suave e responsiva. A resolução aumentada e os tempos de carregamento praticamente inexistentes são melhorias notórias que, embora não transformem o jogo num título de nova geração, polem significativamente a sua apresentação. O design do mundo é consistente e atmosférico, capturando perfeitamente a decadência de uma civilização em colapso. As florestas húmidas, os céus carregados e os campos abandonados contribuem para uma sensação de isolamento constante. As animações dos Freakers, especialmente em grandes grupos, continuam a impressionar, e as hordas em movimento continuam a ser um dos feitos técnicos mais impressionantes do jogo. Não se trata de uma reformulação gráfica completa como se viu noutros títulos, mas sim de uma melhoria que torna o jogo mais agradável aos olhos e mais consistente no desempenho. Em conjunto com a resposta háptica e os efeitos sonoros refinados, a remasterização consegue criar um ambiente ainda mais envolvente do que o original.

Som
A componente sonora de Days Gone é um dos seus trunfos mais subestimados. A banda sonora, melancólica e subtil, reforça constantemente o tom emocional e sombrio da aventura. Momentos de introspecção são acompanhados por composições calmas e tristes, enquanto os encontros com hordas ou emboscadas inimigas são amplificados por trilhas mais intensas e carregadas de tensão. O trabalho de voz é igualmente competente, com destaque para a interpretação de Sam Witwer no papel de Deacon. A performance transmite bem as camadas de sofrimento, frustração e esperança do personagem, ajudando o jogador a criar empatia com a sua jornada. Os diálogos, embora por vezes excessivamente expositivos, são bem escritos e coerentes com o tom do jogo. Os efeitos sonoros foram também beneficiados com o hardware da PS5. Os ruídos dos Freakers, o som do motor da mota a variar consoante o terreno e os disparos de armas são mais ricos e detalhados, contribuindo para a imersão. O sistema de áudio 3D da consola também ajuda a localizar ameaças e a criar uma envolvência mais realista, especialmente útil quando se explora zonas infestadas ou emboscadas de emboscadores.
Conclusão
Days Gone Remastered é mais do que uma simples atualização técnica. É uma versão refinada e mais completa de um jogo que, apesar das críticas iniciais, sempre teve potencial para brilhar. A remasterização da Bend Studio oferece um desempenho mais fluido, suporte para as funcionalidades únicas do DualSense, modos de jogo inéditos como o Horde Assault, e uma quantidade significativa de conteúdo que justifica o preço da atualização. Para quem nunca jogou, esta é claramente a melhor forma de descobrir a história de Deacon St. John e perder-se num mundo pós-apocalíptico belissimamente realizado. Para os fãs de longa data, os novos modos e melhorias técnicas são motivos mais do que suficientes para regressar. Days Gone não é perfeito — sofre de problemas de ritmo narrativo e alguma repetição típica de jogos em mundo aberto — mas continua a ser uma experiência envolvente, desafiante e emotiva. A remasterização não reinventa o jogo, mas consegue aperfeiçoar aquilo que já fazia bem, ao mesmo tempo que acrescenta novidades valiosas. Days Gone Remastered é um exemplo claro de como uma segunda oportunidade pode fazer justiça a uma obra injustamente subestimada. Com mais polimento, mais conteúdo e melhor desempenho, esta é a versão definitiva de um jogo que merece mais reconhecimento do que aquele que teve no seu lançamento original.