Análise: Maze Mice

A cena indie tem vindo a oferecer cada vez mais experiências criativas e inesperadas, e Maze Mice, o novo título da TrampolineTales, é mais um excelente exemplo disso. Depois do sucesso peculiar de Luck be a Landlord, um roguelike que misturava mecânicas de slot machines com construção de baralhos, o estúdio decidiu levar a sua criatividade num rumo diferente mas igualmente excêntrico. Lançado em acesso antecipado no dia 2 de maio de 2025, Maze Mice apresenta-se como uma fusão entre Pac-Man, Bullet Heaven e uma pitada de estratégia inspirada em SUPERHOT, resultando numa proposta que consegue ser familiar, mas única ao mesmo tempo.

Neste novo jogo, o jogador controla um pequeno rato num labirinto povoado por gatos e fantasmas, tentando sobreviver e tornar-se cada vez mais poderoso. Apesar do conceito simples à superfície, Maze Mice esconde uma profundidade surpreendente, alicerçada em decisões táticas e combinações de habilidades que transformam cada partida numa experiência distinta. É um jogo que consegue ser descontraído sem deixar de ser desafiante, e com uma estética encantadora que ajuda a disfarçar a brutalidade dos 25 pontos de dano que cada toque inimigo inflige. Com 30 personagens jogáveis desde o início do acesso antecipado, uma panóplia de itens e habilidades e uma jogabilidade centrada num sistema de pausa dinâmica, Maze Mice oferece muito mais do que aparenta à primeira vista.

Jogabilidade

A jogabilidade de Maze Mice é onde o jogo mais brilha. A proposta é simples: andar pelo labirinto, recolher orbes de experiência e evitar inimigos. No entanto, a execução dessa ideia é tudo menos trivial. Ao estilo de Pac-Man, o rato está constantemente a ser perseguido por gatos e fantasmas, sendo que estes últimos atravessam paredes, tornando a navegação mais complexa. A verdadeira inovação surge com a mecânica de tempo que só avança quando o jogador se move, reminiscente de SUPERHOT. Esta decisão permite ao jogador respirar, planear movimentos e pensar cuidadosamente nas ações seguintes, transformando o ritmo frenético típico dos Bullet Heaven em algo mais estratégico e controlado. À medida que recolhemos orbes, o rato sobe de nível e pode escolher entre uma série de habilidades ativas e passivas. As passivas incluem efeitos como aumento do raio de recolha, experiência extra, regeneração de vida ou redução de cooldown. Já as ativas funcionam como armas automáticas que ajudam a eliminar inimigos: desde rastos de fogo a rajadas de energia, passando por pulgas explosivas e outros efeitos caóticos. O jogador pode equipar até quatro habilidades de cada tipo, sendo fundamental construir combinações eficazes para conseguir sobreviver a longo prazo.

Apesar de ainda não existirem funcionalidades como rerolls ou skips, o jogo obriga o jogador a improvisar e adaptar-se ao que aparece. Muitas vezes não surgem as habilidades ideais e o jogador tem de ajustar a sua estratégia com os recursos disponíveis. Esta limitação inicial faz parte do charme de Maze Mice, obrigando a experimentar novas sinergias e abordagens.

Mundo e história

Ao contrário de outros roguelikes que se apoiam numa forte componente narrativa, Maze Mice opta por um tom mais leve e quase inexistente em termos de enredo. O jogo não perde tempo a contextualizar a presença de gatos e fantasmas num labirinto ou a justificar a existência de ratos superpoderosos com rastos de fogo. Essa ausência de explicações contribui para o espírito descontraído e absurdo do jogo, onde a lógica dá lugar à diversão. No entanto, apesar de não existir uma narrativa tradicional, há uma coerência temática que atravessa toda a experiência. A escolha das personagens jogáveis, o design dos inimigos e os nomes das habilidades e itens sugerem um universo em que o absurdo é regra e não exceção. O humor típico da TrampolineTales está presente, mesmo que de forma subtil, e ajuda a dar personalidade ao jogo sem necessidade de diálogos ou cenas cinemáticas. Maze Mice é, acima de tudo, um jogo mecânico, onde a história é contada através das ações do jogador e da forma como cada partida se desenrola. A ausência de narrativa formal não é uma falha, mas sim uma decisão consciente que se encaixa bem no estilo de jogo proposto.

Grafismo

O estilo visual de Maze Mice é simples, mas eficaz. Com um design 2D estilizado, o jogo aposta numa paleta de cores vibrantes e numa estética retro que remete diretamente para clássicos arcade. Os labirintos são fáceis de ler visualmente, o que é essencial num jogo onde o posicionamento e a movimentação são críticos. Os personagens e inimigos têm animações caricatas que reforçam o tom leve do jogo, e os efeitos visuais das habilidades são suficientemente chamativos sem se tornarem caóticos ao ponto de prejudicar a leitura da ação. O ecrã pode rapidamente encher-se de inimigos, partículas e efeitos, mas o jogo consegue manter uma clareza visual surpreendente. Isto é especialmente importante considerando a necessidade de tomar decisões táticas com o tempo pausado. Saber interpretar rapidamente o que está a acontecer no ecrã é fundamental, e o grafismo de Maze Mice dá ao jogador as ferramentas para o fazer de forma intuitiva. Apesar de não impressionar tecnicamente, a direcção artística é consistente e serve perfeitamente o propósito do jogo. Há um charme inegável nos pequenos detalhes visuais, e tudo contribui para uma experiência coesa.

Som

Um dos elementos mais surpreendentes de Maze Mice é a sua banda sonora. Desde o primeiro minuto, a música deixa uma impressão forte, com batidas enérgicas e faixas que não teriam ficado mal em jogos como Jet Set Radio. Esta intensidade sonora contrasta de forma curiosa com o ritmo pausado da jogabilidade, criando uma sensação de urgência e adrenalina mesmo quando o jogador está imóvel a pensar. Cada partida é acompanhada por música que se adapta bem ao tom excêntrico do jogo, e os efeitos sonoros das habilidades e inimigos são satisfatórios e bem implementados. Há um bom equilíbrio entre o caos visual e o suporte auditivo, o que ajuda a criar uma experiência imersiva sem se tornar cansativa. É notável que, para um jogo em acesso antecipado, o design sonoro esteja já tão polido. A qualidade da música e dos efeitos ajuda bastante a reforçar a identidade única de Maze Mice, e é fácil ficar com alguns temas na cabeça depois de terminar uma sessão de jogo.

Conclusão

Maze Mice é uma excelente surpresa e uma demonstração clara de que a criatividade ainda tem muito espaço no panorama indie. Ao misturar elementos de Pac-Man, Bullet Heaven e SUPERHOT, a TrampolineTales criou um jogo que é simultaneamente acessível e profundo, relaxante e desafiante. A sua jogabilidade baseada em pausas estratégicas é uma lufada de ar fresco num género geralmente dominado pela ação constante e frenesim.

Apesar de ainda estar em acesso antecipado, Maze Mice já oferece uma quantidade significativa de conteúdo, com dezenas de personagens, habilidades variadas e uma base mecânica sólida. Existem alguns desequilíbrios nos itens e a ausência de ferramentas como rerolls pode por vezes frustrar, mas estas são questões menores e facilmente ajustáveis com futuras atualizações. Se procuras um roguelike diferente, com um ritmo mais cerebral, uma estética adorável e uma banda sonora que impressiona, Maze Mice é uma escolha a considerar seriamente. É um jogo que já demonstra muito potencial e que, com tempo e polimento, poderá tornar-se num dos títulos mais memoráveis do género.

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