ReSetna é um jogo de ação e plataformas com elementos de Metroidvania desenvolvido pelo estúdio indie croata Today’s Games Studio. Apesar de ser o primeiro projeto da equipa, os seus membros já trabalharam em títulos bem conhecidos como Serious Sam, Talos Principle e League of Legends. Com este historial, havia alguma expectativa sobre o que poderiam entregar com ReSetna, um jogo que mistura combate corpo a corpo, exploração e uma narrativa centrada em inteligência artificial e vírus informáticos. O jogo apresenta um mundo dominado por máquinas, onde assumimos o papel de ReSetna, um robô senciente criado com o objetivo de erradicar um vírus que corrompe outros robôs e os torna hostis. Com sete biomas para explorar, um sistema de combate variado e um sistema de personalização através de chips, ReSetna tem a ambição de oferecer uma experiência dinâmica e envolvente. No entanto, a execução nem sempre acompanha a ambição, resultando num jogo que, apesar de alguns pontos positivos, não consegue destacar-se num mercado saturado.
Jogabilidade
A jogabilidade de ReSetna assenta num sistema de combate ágil e na exploração de diferentes áreas do mapa. O jogador tem acesso a três tipos de armas: machados, que são rápidos e permitem maior mobilidade, sabres, que oferecem um equilíbrio entre velocidade e dano, e naginatas, que são mais lentas mas infligem mais dano. Inicialmente, apenas os machados estão disponíveis, sendo necessário encontrar recursos para desbloquear as outras armas. A troca entre armas é feita através do D-pad, permitindo alguma fluidez na adaptação ao combate. Além das armas, o jogador tem acesso a hacks, habilidades especiais que podem influenciar os inimigos de diversas formas, como pacificá-los temporariamente ou provocar explosões em cadeia. O jogo também apresenta algumas mecânicas inspiradas em Metroidvania, como a obtenção de habilidades que desbloqueiam novas áreas. No entanto, a progressão é bastante linear, com backtracking mínimo. O mapa expande-se conforme se encontram chaves de segurança, permitindo acesso a novas zonas.
A personalização do personagem é feita através de um sistema de chips, que funcionam como modificadores de habilidades e características. Estes chips são organizados numa grelha, obrigando o jogador a gerir o espaço disponível de forma estratégica. Com o tempo, a grelha pode ser expandida e é possível criar diferentes predefinições de chips, embora cada chip só possa ser usado numa dessas predefinições. Apesar de ser uma ideia interessante, a interface do sistema é pouco intuitiva e torna-se frustrante de utilizar. No que toca à dificuldade, ReSetna oferece poucos desafios. Os inimigos não apresentam grande variedade e a estratégia para os derrotar raramente muda. O jogo distribui recursos em abundância, tornando desnecessário lutar contra todos os inimigos. A presença de teleportadores bem distribuídos também facilita a navegação, mas a falta de um sistema de viagem rápida faz com que, por vezes, seja mais rápido morrer e reaparecer no último ponto de controlo.

Mundo e história
A história de ReSetna gira em torno da luta contra um vírus que transforma robôs em ameaças. O enredo é maioritariamente contado através de entradas de codex espalhadas pelo jogo, com pouca informação fornecida diretamente durante a jogabilidade. Sem ler o codex, a narrativa perde impacto e torna-se difícil acompanhar o que realmente está a acontecer. Os NPCs que encontramos pelo caminho funcionam sobretudo como mercadores ou fornecedores de missões secundárias, mas raramente contribuem para aprofundar a história. As missões, por sua vez, seguem um formato bastante simples, geralmente envolvendo ir a um local, recolher um objeto e regressar. Esta falta de profundidade nas interações faz com que o mundo do jogo pareça vazio e pouco envolvente. ReSetna tem uma duração relativamente curta. Os desenvolvedores mencionaram que o jogo foi concebido para mais de 20 horas de jogabilidade, mas é possível terminá-lo em cerca de 10 horas, encontrando todos os colecionáveis e completando as atividades secundárias. O ritmo da progressão é inconsistente, com a maior parte das habilidades a serem adquiridas antes da segunda grande batalha do jogo, o que torna o resto da experiência menos desafiante.
Grafismo
Visualmente, ReSetna aposta numa estética sci-fi, com ambientes metálicos, efeitos luminosos e designs que evocam a ideia de uma civilização robótica avançada. Cada bioma apresenta algumas variações visuais, incluindo zonas com elementos orgânicos, como ácido e minerais, mas a direção artística mantém-se coerente ao longo da aventura. Apesar do esforço na construção dos cenários, algumas texturas parecem inacabadas ou com baixa resolução, o que prejudica a imersão. No entanto, o design dos personagens e inimigos é mais trabalhado do que o esperado para um jogo indie deste género. Muitos jogos 2.5D falham na criação de modelos tridimensionais detalhados, mas ReSetna consegue apresentar personagens bem definidas, ainda que a variedade de inimigos seja reduzida. A interface do jogo também foi melhorada com as atualizações, tornando-se mais funcional e apelativa. No entanto, há ainda aspetos a melhorar, especialmente no sistema de mapa e navegação de menus, que poderiam beneficiar de uma maior clareza e opções mais acessíveis.

Som
A banda sonora de ReSetna encaixa bem no ambiente do jogo, apostando em temas atmosféricos e eletrónicos. A música consegue criar a sensação de um mundo mecânico e decadente, complementando bem a estética visual. Os efeitos sonoros, por sua vez, são competentes, oferecendo boas indicações auditivas durante o combate e exploração. No entanto, há alguns problemas na mixagem do som. A música das batalhas contra bosses, por exemplo, é exageradamente alta em comparação com o restante áudio do jogo. Durante transmissões ou gravações, isto pode dificultar a comunicação, e mesmo para quem joga sozinho, pode tornar-se irritante ter de ajustar o volume manualmente antes de cada confronto importante. Um detalhe que foi corrigido com atualizações foi o som mecânico constante dos passos de ReSetna, que inicialmente era demasiado repetitivo e incomodativo. Pequenos ajustes como este demonstram que os desenvolvedores estão atentos ao feedback da comunidade, o que é um ponto positivo.
Conclusão
ReSetna oferece uma experiência sólida de combate e exploração, com mecânicas que podem agradar aos fãs do género. O sistema de personalização através de chips é interessante e permite alguma flexibilidade na abordagem ao jogo. A jogabilidade é fluida e as melhorias introduzidas com atualizações ajudaram a tornar o combate mais responsivo. Além disso, a quantidade de recursos disponíveis elimina a necessidade de grinding, permitindo que os jogadores avancem sem frustrações desnecessárias. No entanto, o jogo falha em várias áreas. A narrativa não é envolvente, com personagens esquecíveis e um enredo que exige demasiado esforço do jogador para ser compreendido. A variedade de inimigos é limitada e a falta de penalizações torna o combate opcional em muitos momentos. Os bosses são, na sua maioria, esponjas de dano sem padrões de ataque particularmente interessantes. O mapa poderia ser mais funcional e a navegação pelos menus continua a ser problemática. Além disso, a ausência de um sistema que ajude a encontrar colecionáveis em falta reduz a motivação para a exploração após o final do jogo.
Com um preço de lançamento de 19,50€, ReSetna pode não justificar o investimento para todos os jogadores. No entanto, em promoções, pode ser uma boa opção para quem procura um jogo de ação e plataformas com uma jogabilidade competente, mas sem grandes inovações. O esforço da equipa de desenvolvimento em melhorar o jogo com atualizações frequentes é algo de louvar e pode indicar um futuro promissor para o estúdio em projetos futuros.