Disposable Corps é um jogo multijogador competitivo em primeira pessoa que mistura acção frenética com estratégia tática, tudo envolto numa estética low-poly e num cenário inspirado na Primeira Guerra Mundial. Esta combinação pouco convencional resulta num jogo que se destaca no panorama atual dos shooters PvP. Ainda em fase de demonstração, o jogo apresenta-se como uma experiência acessível mas surpreendentemente profunda, combinando tiroteios intensos com elementos de tower defense e gestão de recursos. A premissa base é simples: duas equipas enfrentam-se em rondas alternadas de ataque e defesa. Mas por detrás desta simplicidade esconde-se uma série de mecânicas criativas que dão ao jogador um elevado grau de liberdade estratégica. Disposable Corps consegue ser ao mesmo tempo descontraído e exigente, reminiscente de jogos de festa mas com camadas de planeamento e decisão dignas de um jogo de estratégia mais complexo.
Jogabilidade
A jogabilidade de Disposable Corps é um dos seus pontos mais fortes e originais. Em cada partida, duas equipas alternam entre atacar e defender pontos de controlo. Durante a fase ofensiva, o objectivo é capturar bandeiras inimigas; na fase defensiva, é crucial manter as posições a todo o custo. Esta alternância é marcada por um pequeno interregno e um sistema de votação que permite reorganizar as tácticas da equipa. O jogo introduz um sistema de penalizações e recompensas que influencia diretamente a forma como os jogadores abordam cada ronda. Defender fora do território controlado acarreta pesadas multas, incentivando os jogadores a manterem-se em posições estratégicas. Por outro lado, morrer perto de um ponto inimigo durante uma ofensiva recompensa o jogador com dinheiro, encorajando a agressividade e o risco. Matar inimigos também rende dinheiro, o que acrescenta ainda mais camadas à gestão dos recursos.
Além disso, os jogadores podem construir defesas como sacos de areia, arame farpado e postos de metralhadora, bem como estruturas mais excêntricas como a “casinha” que permite o reaparecimento de aliados onde for colocada. Também é possível construir trincheiras, desde que se tenha adquirido uma pá. A liberdade na colocação destas construções — desde que haja espaço físico — permite improvisação e criatividade, tornando cada partida única. A IA dos NPCs é rudimentar, mas os jogadores têm a capacidade de os posicionar estrategicamente, o que contribui para o planeamento tático da equipa. Todos os veículos e estruturas podem ser controlados por humanos ou NPCs, o que permite uma gestão dinâmica dos recursos humanos disponíveis.

Mundo e história
Apesar de não ter uma narrativa tradicional, Disposable Corps insere-se num cenário inspirado pela Primeira Guerra Mundial, com confrontos entre forças britânicas, francesas e alemãs. Este pano de fundo é usado de forma estilizada, mais como ambiente do que como reconstituição histórica rigorosa. O jogo brinca com a ideia de soldados descartáveis — como o próprio nome indica — e apresenta o conflito através de uma lente quase satírica. A ausência de uma história propriamente dita não é um problema aqui. O foco está no gameplay e na forma como as mecânicas interagem com o ambiente. O campo de batalha é uma caricatura das trincheiras da Grande Guerra, onde as estratégias dos jogadores se desenrolam com uma liberdade pouco comum. Pequenos detalhes, como a possibilidade de escavar trincheiras gratuitamente (desde que se tenha uma pá comprada) ou a presença de tanques com pernas (verdadeiros mechs improvisados), dão um toque absurdo mas coerente ao mundo do jogo.
Grafismo
Visualmente, Disposable Corps aposta numa estética low-poly que, embora simples, é bastante eficaz. O estilo visual contribui para um ambiente leve e descontraído, contrastando com o tema de guerra. Os modelos são básicos, mas funcionais, e a clareza visual facilita a leitura do campo de batalha — algo essencial num jogo com elementos estratégicos. Os efeitos visuais são também minimalistas, mas cumprem a sua função. A interface gráfica é talvez o aspeto menos conseguido no estado atual do jogo, sendo descrita como confusa e desorganizada. No entanto, esta é uma falha que os próprios criadores admitem estar em processo de melhoria. Ainda assim, a arte do jogo, com o seu estilo quase cartunesco, encaixa bem na proposta do título e ajuda a definir a sua identidade.

Som
O design de som em Disposable Corps é funcional, sem se destacar particularmente. Os efeitos sonoros das armas e explosões cumprem o seu papel, mas não impressionam. A ausência de uma banda sonora memorável contribui para um ambiente algo vazio durante certas fases do jogo, especialmente nas alturas mais calmas da defesa. Ainda assim, o som desempenha um papel importante na comunicação das ações em campo. Explosões e disparos indicam zonas de conflito, e o áudio posicional ajuda o jogador a perceber a proximidade do inimigo. Não é um jogo que viva do som, mas este está ao serviço da jogabilidade de forma competente.
Conclusão
Disposable Corps é uma proposta refrescante no mundo dos jogos multijogador. A mistura invulgar de combate em primeira pessoa com elementos de tower defense e gestão de recursos resulta numa experiência divertida, criativa e surpreendentemente profunda. A sua estética low-poly e o ambiente descontraído contrastam de forma eficaz com a complexidade estratégica das mecânicas de jogo. O sistema de penalizações e recompensas monetárias, aliado à possibilidade de construir livremente, oferece aos jogadores uma liberdade táctica rara, incentivando tanto a cooperação como a experimentação. A ausência de uma narrativa tradicional não prejudica a experiência, pois o foco está na acção e na tomada de decisões em equipa. Apesar de alguns problemas, como a interface gráfica pouco intuitiva e uma IA algo limitada, o jogo tem potencial para crescer com futuras atualizações. Disposable Corps não é apenas mais um shooter PvP; é uma experiência onde a táctica e a criatividade têm tanto peso como a pontaria. Para quem procura algo diferente no género, este título é uma aposta que merece atenção.