Antevisão: Ex-Zodiac

O género dos rail shooters ou shooters de túneis já viveu dias de maior glória, com clássicos como Space Harrier ou Star Fox a marcarem a infância e adolescência de muitos jogadores. Com o passar do tempo, este tipo de experiência caiu em desuso, mas nunca foi completamente esquecido. Ex-Zodiac surge como uma verdadeira carta de amor a essa era, resgatando a essência dos anos 90 e dando-lhe nova vida com um estilo retro assumido e jogabilidade moderna. Desenvolvido por apenas uma pessoa, o jogo encontra-se ainda em acesso antecipado, mas já apresenta um nível de qualidade que impressiona. Ex-Zodiac é uma viagem no tempo que também olha para o futuro, oferecendo ação frenética, bosses memoráveis e um ritmo viciante, tudo embrulhado numa estética retro cativante.

Jogabilidade

A jogabilidade de Ex-Zodiac é simples de aprender mas desafiante de dominar, como os melhores jogos de arcada. A nave está sempre em movimento para a frente, mas o jogador tem controlo total sobre a sua posição no ecrã, podendo desviar-se de projéteis, obstáculos e posicionar-se estrategicamente para maximizar os ataques. Embora não seja um rail shooter puro, a estrutura dos níveis funciona como um túnel de ação constante, onde a velocidade, precisão e reflexos são fundamentais. A nave vem equipada com uma arma principal que pode ser utilizada continuamente, bem como bombas limitadas que limpam o ecrã quando a situação se complica. O sistema de mira remete para o clássico Rez, permitindo bloquear vários inimigos ao manter o botão pressionado e depois disparar todos os tiros em simultâneo ao largar. Esta mecânica recompensa a coordenação e planeamento, incentivando a criar cadeias de alvos que aumentam a pontuação final. Power-ups permitem melhorar o poder de fogo ou aumentar o número de bloqueios simultâneos, sendo este último especialmente útil em confrontos com bosses.

O que distingue Ex-Zodiac é o foco na evasão e na leitura do ambiente. Muitos segmentos dos níveis obrigam o jogador a desviar-se de estruturas móveis, bombas de lava ou colapsos repentinos, fazendo lembrar títulos como Race the Sun. Por vezes, sobreviver é mais importante do que disparar, o que dá variedade ao ritmo e exige adaptação constante. O controlo da nave é extremamente responsivo, e a sensação de velocidade está sempre presente, criando uma experiência intensa mas justa.

Mundo e história

Ex-Zodiac não é um jogo que viva da narrativa. Tal como os clássicos que o inspiram, a história está em segundo plano e serve apenas como contexto para a ação. No entanto, existe uma clara inspiração nos signos do zodíaco, visível sobretudo no design dos bosses, que representam cada um dos doze signos com criatividade e humor. Cada boss tem um estilo de ataque único e um visual que o identifica com o seu signo. Por exemplo, o boss associado ao signo Caranguejo apresenta-se como um gigantesco crustáceo armado com lasers e garras mecânicas. Esta ligação temática ajuda a criar identidade e consistência no universo do jogo, mesmo sem uma narrativa desenvolvida. O jogador vai percorrendo diversos mundos e cenários, enfrentando ameaças mecânicas, criaturas surreais e ambientes hostis, sempre com um toque de exagero e espetáculo que remete para os tempos áureos da Sega e Nintendo. Embora não haja uma história detalhada a acompanhar o progresso, os níveis são suficientemente distintos e bem concebidos para manter o interesse. A progressão é clara, com desafios crescentes e bosses cada vez mais complexos. A promessa de conteúdos adicionais e rotas alternativas na versão final poderá eventualmente trazer mais profundidade ao universo do jogo, mas mesmo na sua forma atual, Ex-Zodiac oferece uma jornada satisfatória.

Grafismo

Visualmente, Ex-Zodiac é um verdadeiro tributo à era dos 16 e 32 bits. A escolha estética recai sobre modelos de baixa contagem poligonal, cores vibrantes e efeitos simples mas eficazes. Este estilo retro, longe de parecer datado, é usado com intenção e mestria, evocando imediatamente memórias de jogos como Star Fox da SNES ou os primeiros títulos 3D da Sega Saturn. A sensação de velocidade é reforçada por efeitos visuais bem implementados, como a deslocação rápida do cenário e os traços deixados pelos disparos e explosões. Cada nível apresenta um ambiente distinto, desde ruínas egípcias a vulcões em erupção, passando por cidades futuristas ou planícies misteriosas. Esta variedade ajuda a manter o ritmo visual e evita a repetição. Apesar da simplicidade técnica, a direção artística é forte e coerente. Os inimigos são variados, os bosses têm presença e carisma, e os efeitos visuais são claros, o que é crucial num jogo onde a leitura do ecrã pode ditar a diferença entre o sucesso e a derrota. Ex-Zodiac não tenta competir com produções AAA, mas dentro da sua proposta visual cumpre com distinção.

Som

A banda sonora de Ex-Zodiac é um dos seus maiores trunfos. Totalmente composta em estilo synthwave e synthrock, transporta o jogador diretamente para os anos 80 e 90, com batidas eletrónicas energéticas, melodias cativantes e uma atmosfera eletrizante que se adapta perfeitamente à ação frenética no ecrã. Cada nível tem a sua própria faixa musical, contribuindo para a identidade de cada ambiente. Os temas variam entre o enérgico e o misterioso, sempre com um ritmo que acompanha a cadência do gameplay. As batalhas contra bosses, em particular, são acompanhadas por faixas mais intensas, que ajudam a aumentar a tensão e a urgência do momento.

Os efeitos sonoros são igualmente eficazes. Os disparos, explosões, colisões e alertas sonoros são claros e bem integrados, sem nunca se sobreporem à música. A combinação entre som e imagem é exemplar e contribui para a imersão total do jogador. Para quem aprecia música retro com sintetizadores e ritmos acelerados, a banda sonora de Ex-Zodiac será uma verdadeira delícia auditiva.

Conclusão

Ex-Zodiac é um projeto apaixonado que consegue capturar o espírito dos jogos de arcada do passado, sem deixar de se sentir atual. A jogabilidade é fluida, desafiante e recompensadora, os visuais retro são usados com inteligência e personalidade, e a banda sonora é uma das melhores do género indie nos últimos tempos. Mesmo em acesso antecipado, o jogo já oferece uma experiência sólida e variada, com seis níveis completos e mecânicas bem polidas. A promessa de mais conteúdo na versão final apenas aumenta a expectativa, e tudo indica que o produto final poderá superar ainda mais o que já está disponível. Não é um jogo para quem procura uma narrativa profunda ou gráficos realistas, mas para quem sente saudades da adrenalina dos tempos das arcadas, Ex-Zodiac é um regresso triunfante. Um exemplo brilhante do que um único desenvolvedor pode alcançar com visão, talento e dedicação.

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