O futebol é, há mais de um século, o desporto mais popular do planeta. A sua simplicidade, aliada a uma profundidade táctica quase infinita, fez dele uma presença constante nas mais diversas culturas do mundo. No entanto, quando falamos de videojogos de futebol, a oferta tem sido surpreendentemente escassa, especialmente desde que a EA dominou o género com FIFA, agora EA Sports FC. Apesar da sua qualidade técnica, estes títulos raramente captam a verdadeira essência do que é jogar futebol entre amigos — a emoção de um passe perfeito, o suor de uma vitória suada, a adrenalina de um golo decisivo. Foi por isso que REMATCH, desenvolvido pela Sloclap, me apanhou de surpresa. Ao contrário de tudo o que temos visto no género, este título não quer replicar uma simulação televisiva do desporto. Em vez disso, tenta capturar o sentimento visceral de estar em campo. E consegue.
Jogabilidade
REMATCH coloca-nos no controlo de um único jogador dentro de equipas compostas por três, quatro ou cinco elementos, sendo o modo competitivo centrado em jogos 5v5, onde a jogabilidade atinge o equilíbrio ideal entre táctica e fluidez. Os campos ajustam-se automaticamente ao número de jogadores, assegurando que cada encontro mantém um ritmo intenso e apropriado. A grande diferença em REMATCH está na forma como interagimos com a bola. Não há assistência invisível nem passes teleguiados. Cada toque, passe, remate ou alívio é um gesto manual, exigindo do jogador precisão de câmara, cálculo de força e rotação do corpo. As interacções com a bola são divididas em três níveis de potência: leve, média e forte, sendo cada uma adequada a diferentes contextos de jogo.
A posse é um conceito volátil. Embora o jogador com a bola tenha controlo sobre esta, o jogo favorece o defensor nos duelos, exigindo inteligência e rapidez para manter a jogada viva. As fintas existem, mas o jogo recompensa mais o passe e a movimentação colectiva do que os dribles à la Neymar. Tal como no futebol real, manter a bola em movimento é a chave do sucesso.

Mundo e história
Apesar de REMATCH não apresentar uma narrativa tradicional, o jogo constrói o seu mundo através da sua estética visual e do seu design de jogo. Cada campo é inspirado por cenários únicos e variados, desde desertos até arenas subaquáticas, e contribui para uma identidade própria e distinta. Ainda assim, o verdadeiro mundo de REMATCH é aquele que se constrói entre os jogadores, nas interações, rivalidades e cooperação que emergem naturalmente ao longo das partidas. O jogo centra-se completamente na experiência competitiva, incentivando a comunicação e o trabalho em equipa. A ausência de regras como fora de jogo, faltas ou bola fora confere-lhe uma fluidez quase arcade, mas sem nunca cair no exagero. Ao mesmo tempo, a liberdade conferida ao guarda-redes humano e o papel activo dos defesas criam uma dinâmica emergente rica e surpreendente.
Grafismo
Visualmente, REMATCH aposta num estilo estilizado mas limpo, que serve bem o seu propósito. As animações são fluídas, os jogadores respondem com realismo às acções e a física da bola é um dos maiores trunfos do jogo, contribuindo significativamente para a imersão e autenticidade da experiência. Os campos são variados e com carácter, desde ambientes mais áridos a locais fantásticos, e embora não se tratem de recriações de estádios reais, cada local transmite personalidade. O jogo evita o fotorrealismo, preferindo uma apresentação mais artística e funcional, o que se revela uma escolha acertada para o tipo de experiência que quer proporcionar. A clareza visual durante o jogo é sempre mantida, mesmo nos momentos mais intensos.

Som
A vertente sonora de REMATCH acompanha bem o seu ritmo e intensidade. Os efeitos sonoros das interacções com a bola, os desarmes, os remates e os aplausos ou gritos de fundo ajudam a criar uma atmosfera crível. O som do contacto da bola no pé ou no poste tem peso, e transmite bem a tensão de cada jogada. A banda sonora é discreta mas eficaz, mantendo-se em segundo plano para não perturbar a concentração. Ainda mais relevante é o uso da comunicação por voz entre jogadores, essencial para coordenar jogadas e reagir em tempo real. Nas partidas mais acesas, com equipas bem organizadas, é através dos gritos de aviso, instruções e celebrações que REMATCH atinge o seu verdadeiro potencial imersivo.
Conclusão
REMATCH é talvez o jogo de futebol mais próximo da sensação de jogar futebol que alguma vez vi num ecrã. Ao abdicar de automatismos e ao colocar o controlo total nas mãos dos jogadores, consegue capturar algo raro: a imprevisibilidade e intensidade dos jogos entre amigos. Não há golos fáceis, não há jogadas garantidas, apenas talento, cooperação e leitura de jogo. A curva de aprendizagem é acentuada, e os primeiros jogos podem ser frustrantes para quem está habituado aos controlos assistidos de FIFA ou similares. Mas é precisamente aí que reside a sua força. Cada melhoria sentida, cada jogada bem-sucedida, é fruto de prática e entendimento, e não de sistemas de ajuda invisíveis. Com lançamento marcado para 19 de Junho em PC, Xbox Series X/S, PlayStation 5 e Game Pass, e uma beta aberta que decorreu em Abril, REMATCH tem tudo para se tornar uma referência alternativa no panorama dos jogos de futebol. Não pretende substituir os gigantes do género, mas oferece algo diferente, algo mais autêntico. Para quem sempre desejou um jogo onde o futebol se sente, e não apenas se vê, REMATCH é uma aposta segura.