Antevisão: Shuffle Tactics

Shuffle Tactics é um título que tenta encontrar o ponto de equilíbrio entre dois géneros bastante populares entre os jogadores mais estratégicos: os RPGs tácticos e os jogos de cartas tipo roguelike. Inspirado em clássicos como Final Fantasy Tactics e em fenómenos indie como Slay the Spire, o jogo apresenta-se como uma proposta promissora, com um sistema de combate baseado em turnos e construção de baralhos, onde cada decisão pode significar a vitória ou a derrota. Lançado ainda numa fase de demonstração, o jogo já apresenta um esqueleto sólido, mas também evidencia as limitações típicas de um projeto em desenvolvimento. A combinação de combate táctico com construção de deck é cada vez mais comum, mas raramente bem executada. Felizmente, Shuffle Tactics mostra desde cedo que compreende o que torna estas mecânicas interessantes, mesmo que ainda precise de algum polimento para atingir o seu verdadeiro potencial.

Jogabilidade

A jogabilidade de Shuffle Tactics gira em torno da combinação entre posicionamento táctico e utilização de cartas com efeitos diversos. Cada personagem conta com um baralho próprio, e a eficácia em combate depende tanto da construção desse baralho como da capacidade do jogador em ler o terreno e posicionar as unidades de forma estratégica. As batalhas desenrolam-se por turnos e permitem a utilização de combos devastadores, sempre com a constante ameaça das maldições que vão surgindo ao longo da jornada. A variedade de personagens e ajudantes, cada um com estilos de jogo distintos, dá ao jogador espaço para experimentar e adaptar-se a diferentes desafios. A demo permite jogar com duas personagens: o Doberknight, que se destaca pelo combate físico e pela capacidade de manipular o campo com ataques que deslocam inimigos, e Fletch, um arqueiro mais técnico, capaz de criar estruturas no terreno e potenciar os seus aliados. A juntar a isto, existe um sistema de ajudantes, com cinco opções à escolha, que acrescentam ainda mais variedade às estratégias possíveis.

Apesar de tudo isto, nem tudo corre de forma perfeita. Algumas falhas técnicas, como cartas que ficam presas no ecrã ou fases que não carregam corretamente, ainda interferem com a experiência. São problemas compreensíveis numa demo, mas que precisam de ser resolvidos para que o jogo possa concretizar todo o seu potencial. Também há questões de interface, como o excesso de informação visual a tapar o campo de batalha, o que por vezes dificulta a leitura do combate.

Mundo e história

O mundo de Shuffle Tactics apresenta-se como um reino corrompido por uma maldição conhecida como Glimmer Curse. O jogador assume o papel de herói na missão de libertar Asteria do domínio do Rei Ogma, uma figura envolta em mistério e corrupção. Embora a demo não explore em profundidade a narrativa, há indícios de um universo com potencial para crescer, especialmente através da ambientação dos dois biomas disponíveis: o Deluge, uma zona urbana degradada, e o Snarl, uma floresta densa habitada por criaturas ameaçadoras. Cada bioma inclui bosses aleatórios, com quatro opções distintas, dois deles recentemente adicionados. Este sistema não só acrescenta variedade à jogabilidade como também ajuda a construir uma sensação de mundo vivo e imprevisível. Ainda assim, a história parece estar em segundo plano nesta fase do desenvolvimento, funcionando mais como justificação para a ação do que como uma verdadeira força motriz da experiência.

Grafismo

Visualmente, Shuffle Tactics apresenta um estilo artístico coerente e apelativo. A arte tem um toque cartunesco que encaixa bem com o tom do jogo, com personagens bem desenhadas e uma paleta de cores viva. O design das cartas, dos ajudantes e dos inimigos é detalhado o suficiente para manter o interesse visual, sem ser demasiado complexo ou confuso. No entanto, existem algumas falhas de legibilidade que afetam a experiência. Em certas situações, inimigos podem ficar ocultos atrás de elementos do cenário como pilares, dificultando a leitura da situação tática. Além disso, o interface das cartas ocupa demasiado espaço no ecrã, tapando partes importantes do campo de batalha. Com alguns ajustes na forma como a informação é apresentada, o jogo poderá tornar-se bastante mais agradável de jogar e analisar visualmente.

Som

No campo sonoro, Shuffle Tactics mostra competência. As faixas musicais acompanham bem o ambiente dos combates e dos cenários, ajudando a criar tensão ou dinamismo conforme o momento exige. Os efeitos sonoros das cartas e das ações em combate são satisfatórios, contribuindo para a sensação de impacto nas jogadas mais poderosas. Embora não seja um jogo com produção sonora de grande escala, o que existe está bem implementado e cumpre o seu papel. A música não é particularmente memorável nesta fase, mas também nunca se torna cansativa ou repetitiva, o que é positivo num título onde o loop de jogo incentiva múltiplas runs.

Conclusão

Shuffle Tactics é um título com bastante potencial e que já se destaca pela forma inteligente como mistura mecânicas tácticas com construção de baralho. A jogabilidade é sólida, com espaço para profundidade estratégica e diferentes estilos de jogo. A presença de múltiplos personagens, ajudantes e bosses garante variedade e rejogabilidade, algo essencial num roguelike. No entanto, é inegável que ainda há trabalho a fazer. Os bugs encontrados, a falta de polimento em certos elementos visuais e a história pouco desenvolvida são aspectos que precisam de atenção antes do lançamento final. Mesmo assim, o coração do jogo está no sítio certo. Com mais tempo de desenvolvimento, testes e afinação, Shuffle Tactics pode vir a ser uma proposta muito interessante para fãs de jogos de cartas tácticos.

Para já, vale a pena ficar atento ao seu progresso. Se os desenvolvedores conseguirem resolver os principais problemas técnicos e aprofundar o conteúdo narrativo e visual, teremos aqui um título a ter em conta no género.

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