Dune: Awakening, desenvolvido pela Funcom, é a mais recente incursão no universo de Dune, uma propriedade intelectual que tem cativado fãs há mais de seis décadas. Este MMO de sobrevivência em mundo aberto transporta os jogadores para o deserto implacável de Arrakis, um cenário tão icónico quanto desafiador. Com a promessa de combinar mecânicas de sobrevivência com a rica mitologia de Dune, o jogo propõe uma experiência ambiciosa que tenta equilibrar a fidelidade ao universo criado por Frank Herbert com as exigências de um MMO moderno. Como agente Bene Gesserit numa linha temporal alternativa onde Paul Atreides nunca existiu, os jogadores enfrentam vermes de areia, tempestades de Coriolis e a luta pelo controlo da especiaria, enquanto constroem alianças e bases num mundo persistente. Mas será que Dune: Awakening cumpre as expectativas? Esta análise explora os pontos altos e baixos do jogo, avaliando-o sob a lente de um fã de jogos de sobrevivência e do universo de Dune.
Jogabilidade
A jogabilidade de Dune: Awakening segue o molde clássico dos MMOs de sobrevivência, mas adapta-o ao contexto único de Arrakis. O ciclo central envolve recolher recursos, fabricar equipamentos e construir bases, enquanto se gerem as duras condições do deserto. A hidratação é a mecânica de sobrevivência mais proeminente, exigindo que os jogadores mantenham um fornecimento constante de água para evitar a redução da saúde máxima, que pode levar à morte. Esta mecânica, embora fiel ao universo de Dune, é particularmente exigente nas fases iniciais, forçando os jogadores a planear cuidadosamente as suas expedições. A insolação é outro desafio, afetando a velocidade, a energia e a hidratação, mas pode ser mitigada com a passiva Tolerância ao Sol ou movendo-se entre sombras.
O jogo também introduz elementos de fação, permitindo que os jogadores se alinhem com os Atreides ou os Harkonnen, o que desbloqueia missões, projetos e peças de construção exclusivas. O sistema Landsraad adiciona uma camada política, onde guildas votam em decretos que afetam o servidor, como bónus ou acesso a armas. No entanto, a progressão é marcada por um fabrico que se torna cada vez mais exigente, especialmente para jogadores a solo. À medida que se avança para regiões mais avançadas, a quantidade de recursos necessária para criar itens básicos aumenta significativamente, o que pode frustrar quem prefere um ritmo mais rápido. Apesar disso, a jogabilidade mantém-se envolvente, especialmente para aqueles que apreciam o desafio de dominar um ambiente hostil. A ausência de mecânicas de fome e descanso é um alívio, permitindo que os jogadores se concentrem nos perigos únicos de Arrakis, como os vermes de areia e as tempestades de Coriolis, que adicionam tensão e urgência à experiência.

Mundo e História
O maior trunfo de Dune: Awakening é, sem dúvida, a sua construção de mundo. Arrakis é trazido à vida com uma atenção meticulosa aos detalhes, desde as dunas intermináveis até às tempestades de Coriolis que varrem o cenário. Os vermes de areia, em particular, são um destaque, emergindo do solo com uma presença aterradora que obriga os jogadores a fugir rapidamente. A perda permanente de equipamento ao sucumbir a estes perigos eleva a tensão, tornando cada encontro uma questão de vida ou morte. A atmosfera é reforçada por uma banda sonora que captura perfeitamente a essência da ficção científica de Dune, misturando tons épicos com uma sensação de isolamento desértico.
A narrativa, no entanto, é mais polarizante. Centrada numa linha temporal alternativa onde os Fremen estão desaparecidos, a história depende fortemente do conhecimento prévio do universo de Dune. Para os fãs, isto é um deleite, com referências aos Atreides, Harkonnen e à especiaria que ressoam profundamente. Porém, para novatos, a narrativa pode parecer opaca, exigindo um investimento significativo para compreender o contexto. As escolhas narrativas feitas na criação de personagem, como o planeta natal e o mentor, adicionam profundidade, influenciando diálogos e habilidades, mas não são explicadas de forma acessível, o que pode alienar jogadores menos familiarizados com a mitologia. Ainda assim, a imersão proporcionada pelo mundo é tão poderosa que mesmo os não-fãs encontrarão prazer em explorar as dunas, especialmente quando confrontados com os perigos naturais que tornam Arrakis tão memorável.
Grafismo
Visualmente, Dune: Awakening é impressionante, especialmente considerando a sua natureza online e de mundo aberto. Construído no Unreal Engine 5, o jogo apresenta paisagens desérticas vastas e detalhadas, com dunas que mudam dinamicamente sob o efeito das tempestades. Os vermes de areia e as tempestades de Coriolis são renderizados com um realismo impressionante, criando momentos de puro impacto visual. O desempenho é notavelmente estável, com poucos erros gráficos ou bugs, mesmo em servidores cheios. Testado numa NVIDIA RTX 5070 Ti, o jogo alcançou uma média de 250 FPS em 1080p com configurações máximas, e cerca de 300 FPS em 4K com DLSS otimizado para desempenho, demonstrando uma otimização sólida.
No entanto, há alguns arranhões na superfície polida. Problemas ocasionais de escalada, como dificuldades em subir bordas, e instâncias raras de recorte no terreno podem quebrar momentaneamente a imersão. Estes problemas são mitigados pela funcionalidade de “desencalhar”, mas ainda assim destacam-se num jogo que, de resto, é tecnicamente robusto. A criação de personagens e a construção de bases também brilham visualmente, com um criador de personagens detalhado e opções de construção que permitem personalização extensiva, reminiscente de sistemas como o C.A.M.P. de Fallout 76. Em suma, o grafismo de Dune: Awakening é um dos seus pontos mais fortes, capturando a grandeza de Arrakis com uma fidelidade que honra o material de origem.

Som
A componente sonora de Dune: Awakening é outro destaque, complementando perfeitamente a sua atmosfera imersiva. A banda sonora, com os seus tons épicos e sintetizados, evoca a vastidão e o mistério de Arrakis, criando uma sensação de aventura e perigo. Os efeitos sonoros são igualmente impressionantes, desde o rugido ensurdecedor dos vermes de areia até ao assobio das tempestades de Coriolis. Estes elementos auditivos não só reforçam a imersão, como também servem como pistas cruciais para os jogadores, alertando-os para perigos iminentes. As vozes dos NPCs e os diálogos, embora funcionais, são menos memoráveis, mas cumprem o seu papel na narrativa. No geral, o design sonoro é um pilar essencial da experiência, elevando cada momento passado no deserto e reforçando a fidelidade ao universo de Dune.
Conclusão
Dune: Awakening é uma proposta ambiciosa que, na sua essência, consegue capturar a essência do deserto hostil de Arrakis enquanto oferece uma experiência de MMO de sobrevivência sólida, embora não revolucionária. O mundo e a atmosfera são os seus maiores trunfos, com visuais deslumbrantes, um design sonoro envolvente e uma fidelidade ao universo de Dune que encantará os fãs. As mecânicas de sobrevivência, centradas na hidratação e na gestão de recursos, são exigentes mas gratificantes, enquanto a construção de bases e a personalização de personagens oferecem uma liberdade criativa que poucos jogos do género igualam. No entanto, o jogo tropeça no combate, que é desequilibrado e pouco fluido, especialmente no corpo a corpo, e na narrativa, que pode ser inacessível para quem não conhece o universo de Dune. A progressão exigente também pode afastar jogadores que preferem uma experiência mais imediata.
Apesar destas falhas, Dune: Awakening é uma experiência confiante na sua visão, oferecendo um mundo vivo e perigoso que recompensa a exploração e a perseverança. Para os fãs de Dune, é uma carta de amor ao universo de Frank Herbert; para os entusiastas de MMOs de sobrevivência, é um desafio robusto com momentos de verdadeira grandeza. Não é perfeito, mas a sua ambição e execução fazem dele uma adição valiosa ao género, com potencial para crescer ainda mais com atualizações futuras. Se Arrakis é o teste definitivo de sobrevivência, Dune: Awakening prova que tem o que é preciso para deixar a sua marca nas dunas.