Elden Ring Nightreign chegou como uma proposta ousada da FromSoftware, um estúdio que já conquistou um lugar de destaque no panorama dos videojogos com títulos como Dark Souls e o aclamado Elden Ring. Após o sucesso estrondoso do último, Nightreign surge com a difícil missão de manter o legado, mas com uma abordagem diferente: um jogo cooperativo com elementos de extração, centrado em expedições rápidas e combates intensos. Esta análise baseia-se numa experiência profunda, com mais de 100 horas a solo e 150 horas em equipa, explorando quase todo o conteúdo disponível, desde bosses a eventos e missões. Sem revelar spoilers, vamos mergulhar no que torna Nightreign uma experiência única, avaliar se cumpre as expectativas dos fãs e perceber se é acessível para novos jogadores que não conhecem o universo de Elden Ring. Seja para os veteranos de Souls ou para os curiosos que querem entrar neste mundo, esta análise pretende esclarecer o que Nightreign tem para oferecer.
Jogabilidade
A jogabilidade de Elden Ring Nightreign é, sem dúvida, o coração da experiência e um dos seus maiores trunfos. A FromSoftware pegou na fórmula de combate refinada de Elden Ring e condensou-a num formato mais dinâmico, focado em expedições cooperativas que lembram, em certa medida, um battle royale. O ciclo de jogo é simples, mas viciante: juntas-te a outros dois jogadores, cais num ponto aleatório do mapa de Limveld, eliminas inimigos, recolhes loot e enfrentas bosses enquanto o anel Nightreign reduz o espaço jogável. Este ritmo frenético, com corridas de cerca de 5 minutos por localização antes de o mapa se contrair, mantém a adrenalina alta e exige coordenação entre a equipa.
As oito classes disponíveis, chamadas Nightfarers, oferecem estilos de jogo distintos, desde guerreiros focados em força a magos que combinam inteligência e fé. Cada classe tem habilidades únicas que moldam a forma como abordas o combate. Por exemplo, o Executor, uma classe centrada em parries, tem uma mecânica não documentada que conta a troca de espadas como um parry, algo que adiciona fluidez ao seu estilo. No entanto, a personalização é limitada: as armas têm estatísticas fixas e não podem ser infundidas, o que torna cada run uma lotaria de RNG para encontrar equipamento que complemente a tua build. Apesar de incluir 244 armas, 66 arcos e bestas, 37 escudos e tochas, 19 cajados e selos e 61 talismãs, todos são reutilizados de Elden Ring, o que pode desapontar quem esperava novidades. O combate brilha pela sua fluidez e pela forma como as habilidades de classe se integram com as de armas e feitiços. A Recluse, por exemplo, pode abusar da recuperação de FP para spammar feitiços devastadores como o Taker’s Flame, enquanto o Wylder usa um gancho para se manter perto dos inimigos. Estas combinações criam builds criativas, incentivando a experimentação. No entanto, o ritmo inicial das expedições pode ser avassalador para novos jogadores, especialmente devido a eventos aleatórios como Shifting Earth, que alteram o mapa e introduzem armadilhas ou bosses sem aviso. Com o tempo, dominar as rotas e estratégias transforma o caos numa dança bem coreografada, onde a habilidade e a coordenação da equipa são cruciais.
Jogar a solo é uma opção, mas incrivelmente desafiante, quase como um teste final para quem já domina o multijogador. A ausência de cinzas de guerra ou espíritos aliados força-te a depender apenas da tua perícia, o que será um atrativo para os puristas de Souls, mas pode afastar jogadores menos pacientes. A progressão é baseada em Relíquias, que oferecem bónus para as próximas expedições, e nas Entradas de Diário, que desbloqueiam pedaços de história e objetivos. Infelizmente, a personalização de estatísticas é limitada, o que pode tornar a experiência repetitiva para quem prefere uma única classe.

Mundo e História
O universo de Elden Ring Nightreign é, à primeira vista, uma extensão do mundo de Elden Ring, mas com uma abordagem mais fragmentada. Em vez de uma narrativa coesa, o jogo foca-se nas histórias pessoais das oito classes Nightfarers, cada uma com a sua linha de missões desbloqueada através de Remembrances. Estas instâncias especiais são o principal veículo narrativo, oferecendo fragmentos de lore através de entradas no diário que se expandem com base nas tuas ações. Os objetivos variam entre explorar o Roundtable Hold, uma novidade para a FromSoftware, e completar tarefas em Limveld, como derrotar bosses específicos. Embora as histórias individuais sejam bem escritas e revelem detalhes fascinantes sobre os Nightfarers, a narrativa geral é menos envolvente. O enredo principal termina de forma abrupta, sem a profundidade ou impacto do Elden Ring original. A falta de informação sobre o mundo em si pode frustrar quem espera um lore tão denso como o do jogo base. Ainda assim, o cenário canónico e a presença de bosses reciclados de outros títulos da FromSoftware alimentam especulações sobre se Nightreign se passa num mundo em evolução ou em realidades colapsantes, um deleite para os fãs de lore.
Um ponto de frustração é a falta de clareza nas mecânicas narrativas. Alguns objetivos de Remembrance não são explicitamente indicados, e as mecânicas multijogador escondidas, como a impossibilidade de fazer matchmaking com outros jogadores em Remembrances ou a prioridade dos objetivos do anfitrião da party, podem travar o progresso. Para novos jogadores, o facto de Nightreign não exigir conhecimento prévio de Elden Ring é uma vantagem, mas a riqueza do universo original é essencial para tornar o mundo de Limveld intrigante. Sem essa base, o jogo ainda é acessível, mas perde parte do seu encanto misterioso.
Grafismo
Visualmente, Elden Ring Nightreign é quase indistinto do seu antecessor, o que é simultaneamente uma força e uma fraqueza. Desenvolvido desde 2021, o jogo reutiliza o motor gráfico de Elden Ring, mantendo a mesma direção de arte que transformou o original numa obra-prima visual. Os cenários de Limveld, com o seu estilo de pintura de fantasia, são belos e evocativos, capturando a essência melancólica e épica que a FromSoftware tão bem domina. Os designs dos bosses, especialmente os Nightlords, são impressionantes, com lutas que se sentem como verdadeiros espetáculos visuais. No entanto, a falta de inovação gráfica é notória. O motor gráfico, embora funcional, mostra sinais de envelhecimento, e a ausência de opções nativas para 90 FPS é uma limitação estranha para um jogo de 2025. Em termos de desempenho, Nightreign é estável na maioria dos sistemas, mantendo 60 FPS no PC, mas sistemas de gama baixa podem sofrer com quedas de frames ocasionais. Apesar destas falhas, a direção de arte carrega o jogo, tornando cada expedição visualmente cativante, mesmo que os assets sejam maioritariamente reciclados.

Som
A componente sonora de Nightreign é outro dos seus pontos fortes, embora com algumas ressalvas. A banda sonora, composta por nomes como Shoi Miyazawa, Soma Tanizaki, Tai Tomisawa e Yuka Kitamura, mantém o nível de qualidade esperado de um título FromSoftware. O tema do Roundtable Hold, The Shrouded Roundtable Hold, é particularmente memorável, com uma melodia melancólica que define o tom para os momentos de pausa entre expedições. As faixas de exploração e bosses são igualmente impactantes, criando uma atmosfera que eleva tanto os momentos de tensão como os de contemplação. No entanto, o artbook digital dececiona por incluir apenas 10 faixas, omitindo as músicas dos bosses, o que é uma falha para um jogo com tanto enfoque em combates épicos. Além disso, o desempenho vocal deixa a desejar. Comparado com os títulos Souls anteriores, onde as vozes eram frequentemente marcantes, as atuações em Nightreign parecem rígidas e carecem da profundidade emocional que os fãs esperam. Ainda assim, a banda sonora compensa estas falhas, oferecendo uma experiência auditiva que complementa perfeitamente o tom do jogo.
Conclusão
Elden Ring Nightreign é uma aposta arriscada da FromSoftware, mas que, em grande parte, resulta. Ao condensar a fórmula de Elden Ring num formato cooperativo de extração, o estúdio criou uma experiência viciante que brilha pelo combate dinâmico e pela rejogabilidade. A variedade de classes, a aleatoriedade do loot e a possibilidade de jogar com amigos tornam cada expedição divertida, especialmente para quem aprecia o desafio Souls. No entanto, a reutilização massiva de assets, a narrativa fragmentada e a falta de opções de personalização podem desapontar os fãs que esperavam algo mais próximo da profundidade do jogo original. O preço de 39,99 é justo para o que Nightreign oferece, especialmente considerando o seu polimento e a promessa de DLCs futuros que podem expandir o conteúdo. Apesar de problemas como o netcode P2P e a comunicação limitada no multijogador, a experiência é sólida e cativante, especialmente para grupos coordenados. Nightreign não atinge o mesmo patamar de Elden Ring, mas é uma adição valiosa ao universo da FromSoftware, provando que mesmo um experimento com ativos reciclados pode ser incrivelmente divertido. Para os fãs de Souls e jogadores que procuram uma nova aventura cooperativa, Nightreign é uma recomendação fácil, especialmente se tiveres amigos para partilhar a jornada.