Into the Dead: Our Darkest Days é a mais recente aposta da PikPok no universo da sobrevivência pós-apocalíptica. Com uma abordagem lateral e um foco na gestão de sobreviventes, o jogo apresenta-se como um sucessor espiritual de títulos como This War of Mine, apostando na combinação entre tensão, estratégia e narrativa emergente. Lançado ainda em acesso antecipado, o jogo promete mergulhar os jogadores num mundo brutal e desesperante, onde cada decisão conta e cada passo pode ser o último. A ação desenrola-se em Walton City, uma metrópole costeira fictícia dos anos 80 que se vê subitamente invadida por uma epidemia zombie imparável. O objetivo é simples na teoria mas complicado na prática: reunir sobreviventes, gerir os seus abrigos, procurar recursos e, com alguma sorte, escapar da cidade com vida.
Jogabilidade
A jogabilidade de Into the Dead: Our Darkest Days gira em torno de três pilares fundamentais: sobrevivência, gestão e exploração. Os jogadores começam com um pequeno grupo de pessoas comuns, apanhadas de surpresa pelo colapso da civilização. Ao contrário de outros jogos de zombies, aqui não controlamos heróis armados até aos dentes, mas sim cidadãos frágeis, com medos, necessidades físicas e limitações claras. Cada refúgio onde o grupo se instala serve como uma base temporária, sendo possível melhorá-lo com camas, cozinhas, barricadas e oficinas. No entanto, nenhum abrigo é seguro para sempre, e a cada noite os zombies atacam com mais intensidade. O jogador é obrigado a mover-se constantemente, procurando novos locais onde passar a noite e recursos suficientes para garantir a sobrevivência do grupo. A gestão do tempo e dos recursos torna-se rapidamente desafiante, especialmente quando se começa a lidar com ferimentos como costelas partidas, traumas psicológicos como pesadelos, e estados de espírito como o desespero.
O sistema de combate, ainda em desenvolvimento, mostra potencial mas necessita de afinação. As animações de ataque por vezes falham em sincronizar-se com a resposta dos inimigos, e o sistema de esquiva não é sempre eficaz. Por outro lado, a furtividade é muitas vezes a melhor abordagem, embora nem sempre funcione como esperado, já que o sistema de deteção dos zombies é inconsistente, levando a situações frustrantes onde somos descobertos mesmo estando escondidos atrás de móveis. Apesar destes problemas, o loop de gameplay é envolvente. A constante pressão para avançar, melhorar o abrigo e manter os sobreviventes vivos cria uma sensação permanente de urgência. Cada decisão, desde gastar recursos num upgrade ou usá-los para curar alguém, tem peso real no desenrolar da história.

Mundo e história
Walton City é mais do que um simples cenário. A cidade vive e respira, ou melhor, apodrece à nossa volta. Estamos no Texas dos anos 80, em plena crise económica, e esse contexto é importante para compreender os protagonistas: pessoas já em dificuldades antes do apocalipse, agora forçadas a sobreviver num inferno infestado de mortos-vivos. A narrativa não é contada de forma linear, mas sim através de pequenos momentos, descrições e interações. Cada sobrevivente tem a sua própria história, personalidade e fraquezas. Uns podem ser mais corajosos, outros mais habilidosos na construção ou no combate, e é através dessas características que vamos conhecendo melhor cada personagem. Não existem grandes reviravoltas narrativas ou cutscenes cinematográficas. O jogo prefere confiar na experiência do jogador para criar histórias memoráveis. Momentos em que se sacrifica um personagem para salvar os outros, ou decisões difíceis como abandonar alguém ferido para não comprometer o grupo, são frequentes. A moralidade é constantemente testada, e é aqui que o jogo mais brilha. Não há finais felizes fáceis. Há apenas sobrevivência, a cada dia, a cada noite, numa luta sem tréguas.
Apesar disso, o jogo ainda sofre de algum desequilíbrio e repetição. Zombies a reaparecerem em áreas já limpas e eventos demasiado previsíveis tornam algumas sessões menos imersivas. Espera-se que estas falhas sejam corrigidas em atualizações futuras, sobretudo porque a base narrativa é sólida e cheia de potencial.
Grafismo
Visualmente, Into the Dead: Our Darkest Days tem uma identidade muito própria. O estilo gráfico aposta numa abordagem realista mas estilizada, com cores esbatidas e ambientes carregados que transmitem perfeitamente o tom sombrio do jogo. As ruas de Walton City, agora desertas e decadentes, são recheadas de pormenores que contam histórias: carros abandonados, sangue seco nas paredes, luzes a piscar intermitentemente. Há uma atmosfera opressiva em cada cenário, e isso contribui imenso para o sentimento de tensão constante. As animações são competentes, embora nem sempre fluídas. Existem momentos em que o combate parece um pouco rígido e as transições entre ações precisam de maior polimento. No entanto, o design dos zombies é eficaz, com uma variedade suficiente para manter o jogador alerta. Os interiores dos edifícios são distintos entre si, e mesmo com o aspeto monocromático do jogo, conseguimos identificar facilmente os elementos essenciais ao gameplay. Um dos maiores elogios vai para a clareza visual em momentos críticos. Mesmo em situações de stress, é fácil perceber onde está cada personagem, o que está a acontecer e onde estão as ameaças. Isto mostra uma atenção ao design de interface e navegação que merece destaque.

Som
A componente sonora de Into the Dead: Our Darkest Days é um dos pontos fortes do jogo. A banda sonora minimalista funciona mais como um pano de fundo emocional do que como protagonista, o que é perfeitamente adequado ao tom geral. Em momentos de maior tensão, há sons subtis que aumentam o nervosismo, como batidas cardíacas ou ruídos metálicos distantes, criando um ambiente sonoro envolvente. Os efeitos sonoros são realistas e bem implementados. Os gemidos dos zombies, os passos cuidadosos dos sobreviventes, o som das barricadas a ceder — tudo contribui para a imersão. Quando um zombie atravessa uma janela ou arromba uma porta, sentimos verdadeiramente o impacto, e a reação dos nossos personagens reforça essa urgência. Falta ainda alguma variedade nas vozes e nas reações dos sobreviventes. Embora compreensível nesta fase de desenvolvimento, o jogo beneficiaria muito com mais falas contextuais e pequenas interações entre os membros do grupo, ajudando a reforçar a ligação emocional entre o jogador e as personagens.
Conclusão
Into the Dead: Our Darkest Days é um jogo com imenso potencial e já oferece uma experiência memorável mesmo em acesso antecipado. A sua abordagem à sobrevivência num mundo zombie não é centrada na ação desenfreada, mas sim na tensão psicológica, nas escolhas difíceis e na constante sensação de perigo iminente. Para os fãs de jogos como This War of Mine, é um título a não perder. É verdade que ainda há muito a melhorar. O combate precisa de ser mais refinado, o sistema de furtividade carece de consistência e a presença de comerciantes e mecânicas de troca ainda está ausente. No entanto, os fundamentos estão bem lançados, e é claro que existe uma visão sólida por detrás do projeto. Recomenda-se cautela aos jogadores mais casuais, pois a curva de dificuldade é exigente e o jogo não perdoa erros. Seria interessante ver modos de dificuldade implementados, bem como mais opções de personalização inicial para aumentar a rejogabilidade. Ainda assim, para quem procura uma experiência densa, desafiante e emocionalmente carregada, este é um jogo que merece atenção.
Into the Dead: Our Darkest Days pode não reinventar o género, mas traz-lhe uma nova energia e sensibilidade que o tornam numa proposta distinta e, com o tempo e atualizações certas, poderá tornar-se num clássico da sobrevivência.